14.5.06

Convite

Estão todos convidados para a minha, e espero que nossa, nova casa:

Relapsias.

12.5.06

Novidades



A interrupção do Minudências por tempo indefinido ganhou contornos de definitiva, pouco após ter escrito o último texto. Eu não quero continuar este blog, porque sinto que não corresponde à minha realidade actual. Mas, ao mesmo tempo, gostava de continuar a ter um espaço onde me possa exprimir e dialogar, onde tenha acesso a perspectivas diferentes sobre temas que me interessem discutir. E, se não sinto saudades deste blog - sou pouco dado a saudades -, já as sinto dos seus comentadores.

Decidi assim criar um novo blog, em breve. Não para recriar este, que não quero nem faria sentido. Quero um espaço mais adaptável aos meus caprichos. Porventura menos original. Com menor frequência de textos. Sem expectativas.

Vou deixar a ideia amadurecer e a vontade acumular. Depois trarei novidades. Um abraço a todos.

3.5.06

Lingering-free zone

Mais por instinto que por razão, decidi interromper o Minudências e lugares comuns por tempo indefinido. Não sei bem porquê. Talvez por ver outros blogs fechar. Por precisar de me dedicar mais a outras coisas, e a mim mesmo. Porque estou noutra fase da minha vida. Porque passar tempo em excesso na internet é pecado (piadinha! Mas, claro, tudo o que é excesso faz mal). Porque preciso de uma pausa. Porque criei uma dinâmica que agora não consigo acompanhar. Porque este espaço me deu o que queria. Não sei... Na realidade, pouco importa. Um blog deve servir o seu dono (good boy!), não o contrário. Asi es.

Tenho então a oportunidade de fazer um balanço (yay!).

Tudo começou em Dezembro, num doloroso novo início:

"Este blog é o meu espaço, é onde me reencontro com quem sou. Pode durar um dia ou um ano. Vejo um blog algo como um estado de espírito. Demasiado volátil para que perdure. A ver vamos. Bem vindos ao meu blog."

Tinha acabado a minha primeira - e última - relação, e ao período mais conturbado da minha vida seguia-se um vazio difícil de gerir. Fui invadido pela desilusão. Mas essa em mim é circunstancial, enquanto o optimismo é estrutural.

Animei-me um pouco algum tempo depois, a julgar pelo relato erótico. A este seguiu-se a essência de um beijo.

Esta imagem deu azo a comentários muito desagradáveis, que tive de apagar. Foi então que tive de instituir - e usar - a censura prévia no blog. Que nem um Salazar.

Em Janeiro, escrevi um texto em espanhol que marcou um ponto de viragem no blog. Continuou a ser intimista, mas também passou a incluir um bocado de política e actualidade, embora esses sejam temas dos quais me tentei afastar. Pouco depois, o primeiro texto sobre o Amor:

"é lotaria para a qual sempre comprarei o bilhete"

Acabou por ser esse o tema mais em foco neste espaço: o Amor. Pelo menos foi aquele sobre o qual mais gostei de reflectir, e que deu azo a mais comentários.

A polémica sobre o casamento homossexual também passou por aqui. Mas para mim, enquanto católico praticante, mais importante que isso, é a questão moral. A homossexualidade é pecado?

Dois desafios foram lançados, num registo diferente do resto do blog, e rapidamente cheguei ao texto número 100.

Uma outra reflexão sobre o Amor deu origem a 20 comentários. Vinha a propósito da encíclica papal sobre o mesmo tema, que me fez perguntar-me se o Papa também leria o meu blog, que na altura parecia estar na moda. A qualidade dos comentários no Minudências - objectivamente superior à dos textos que os originavam - fez-me dar mais atenção aos comentadores, e passei a escrever um pouco em função dos mesmos.

Caí da bicicleta (ouch!). Só agora é que me considero recuperado a 100%. Mas entretanto ainda deu para reflectir sobre a origem dos preconceitos, repensar a minha relação com o ex, e perguntar:

Vale a pena entrar numa relação que se adivinha finita à partida? É melhor aproveitar a felicidade que a vida nos traz no momento ou compensa esperar por alguém que nos encha as medidas?

São as expectativas demasiado altas que nos privam ou as expectativas demasiado baixas que minam aquilo que realmente queremos e nos fazem aceitar algo bonzinho?


Respondi aqui, ao que fui acompanhado por 30 comentários. O que este povo gosta mesmo é de Amor. Mostrei ao meu melhor amigo este blog, e correu tudo bem. A partir desse momento, o blog entrou em velocidade cruzeiro, com texto após texto.

Em jeito de conclusão: orgulho-me de ter construído um espaço de partilha, que penso que soube gerir de modo a dar azo a participações inteligentes. Nisso, obviamente, o mérito é de quem comentou este espaço. Aprendi muito, e fiz amigos. Continuarei a ler e comentar blogs e talvez um dia volte aqui. Amanhã, daqui a uma semana ou um mês, ou nunca. Agora, precisava mesmo desta interrupção. Um abraço a todos!

1.5.06

Imagens


Na primária, braços abertos, a andar à roda sem sair do mesmo sítio, a senhora magra do sininho "ó meninos, que podem cair", alegria estonteante e centrifugada.

No Calvin & Hobbes, sentindo-se assim zonzo, o tigre, titubeante, pede "podiam parar o mundo? Queria-me apear".

Uma estrela encaixada entre dois cabos de electricidade, à qual tiro uma fotografia piscando os olhos. Prometi-me não mais me esquecer. Era um fim de tarde e o céu estava carmim. E eu que nem sei o que é carmim, mas era o que estava.

O momento em que mandei uma mensagem de carinho ao meu eu do futuro, agora presente. Um dia haveria de lembrar-me, e hoje é um desses dias. Passei tanto tempo a odiar esse miúdo fraco que era, quando ele só queria ser amado por mim próprio. Ainda vejo a mão, que me estendi e que agora posso agarrar, num sequência de eus de pequenino para agora. A cada momento como o menino da primária, de braços abertos, mas agora sem estar zonzo. O passado numa mão, e a outra estendida para o futuro.

Não há dúvida que é crucial a relação que temos conosco mesmo. Sabermo-nos amar, e perdoar. Aceitar. Ser razoáveis. Já me odiei com todas as minhas forças. Mas, como em todas as relações, há os dois lados. Se me odiei, igualmente me senti odiado. Assim me magoei, e me odiei mais por ser tão fraco, e mais magoado fiquei de me odiar. Estranha dicotomia dentro de mim mesmo. Mas o tempo cura todas as coisas, se fizermos por isso e nos deixarem. Aqui, foram cruciais as pontes que deixei para o futuro. Agora dão-me paz.

28.4.06

Catecismo da Igreja Católica

2357. A homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual, exclusiva ou predominante, por pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade se reveste de formas muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas. Sua gênese psíquica continua amplamente inexplicada. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a tradição sempre declarou que "os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados". São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados.

2358. Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Essa inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição.

2359. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes de autodomínio, educadoras da liberdade interior, às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.

Li muitas vezes esta condenação. Nunca percebi exactamente o que quer dizer "apoio de uma amizade desinteressada".

Terceira via

Kinsey não colocava a questão em se ser hetero, gay ou bi. Falava antes em ter-se comportamentos (nada a ver com cruzar as pernas ou ter tiques, claro) exclusivamente homossexuais ou exclusivamente heterossexuais ou algo pelo meio.

Assim, pensou numa escala de 0 a 7, onde 0 seria algo como 100% hetero e 7 seria 100% gay. Aplicando esta concepção a si mesmo, ele teria tido classificações diferentes ao longo da sua vida.

Muitas pessoas que se assumem como gay dizem que bi não existe. Concordo com o Kinsey, o que não existe é uma classificação estática e absolutista. Mas, claro, é sempre mais confortável viver num mundo a preto e branco. Incomoda quando os outros não se encaixam nas categorias pré-definidas nos nossos esquemas mentais. A propósito, cito uma citação:

"Because I happen to be gay, the far right expects to keep my personal life a deep, dark secret, while the far left expects me to buy into its entire political platform or risk being designated a "self-hating homosexual." Both groups share, moreover, an abiding devotion to the gay-subculture stereotype. Both would be more confortable with me, in short, if I talked, walked, dressed, and thought in accordance with that stereotype. That would make it easier for the far right to condemn me and easier for the far left to embrace me. The far right wants me to climb back into the closet; the far left wants to force me into another closet."

Por fim, coloco uma questão (se calhar não pela primeira vez neste blog). Porque é que tantos homossexuais adoptam comportamentos que temos por femininos? Será que a falta de modelos (role models) homossexuais terá algo a ver com isso? Afinal, o paradigma é que quem gosta de homens são as mulheres. Logo, se eu gosto de homens, ou sigo o modelo pré-definido ou tenho de construir um próprio, o que é fascinante mas, admitamos, não é fácil assumirmo-nos como órfãos de um paradigma próprio e construir referências do zero.

Claro, esta opinião parte do pressuposto de que o género (gender) e a orientação sexual são duas coisas completamente distintas. Não tomar isso como uma verdade absoluta levanta uma série interessante de questões: o género é determinado pelo que sentimos, ou pelos órgãos sexuais com que nascemos (há que lembrar aqueles/as a quem a natureza prega partidas)? Também se é homem ou mulher, ou também há uma escala? Um homem pode ser feminino e uma mulher masculina?

27.4.06

Essências

Creio que tenho uma visão feminina do sexo. O acto sexual - vou-me escusar a definir as fronteiras do mesmo - é-me relativamente indiferente. Ou melhor, o aspecto físico da coisa é bom e é importante, mas é o erotismo - que tem de ser construído - que determina o prazer que poderei ou não ter. Não nego o poder do instinto animal, nem o acho positivo ou negativo, simplesmente é. Só que, no degrau acima da escala do desenvolvimento, a forma como percepcionamos os prazeres dos sentidos está muito dependente de outros factores. Aqui tomo como visão masculina do sexo uma apetência para o mesmo pelo mesmo, pelo prazer físico, e a visão feminina como a necessidade de contextualização do mesmo. Aqui as palavras advêm de uma generalização simplista, claro.

O papel do erotismo, que tem de ser construído, é para mim determinante. Implica, por exemplo, que eu nunca poderia trair sexualmente ninguém. Para o fazer, precisava antes de construir uma relação erótica com uma outra pessoa, mas para mim o erotismo alimenta-se da exclusividade, entre outras coisas. Esta é-lhe indispensável. O erotismo, enquanto construção mental, está sujeita às condicionantes, crenças e valores de cada pessoa. Por isso, pela minha educação, por aquilo em que acredito, o erotismo - ou o tipo de erotismo que poderá envolver sexo - tem de surgir num contexto de compromisso. E aí está porque nunca poderia trair sexualmente alguém. Nem tenho mérito nenhum nisso. Simplesmente, o factor biológico é condicionado - não reprimido! - pela educação.

Na realidade, para o bem e para o mal, em quase todas as áreas da minha vida sou assim - mastigo muito com a inteligência os sentimentos e instintos -, o que acaba por ser um pouco confuso. É mais fácil de entender uma pessoa que simplesmente sente e segue os seus instintos. Mas nisso, cada um é como cada qual e usa as armas que tem. Se não podemos contrariar a Biologia, pois cada um é como é, também não podemos deixar de ser fiéis a nós mesmos. Podemos e devemos reeducar-nos para o melhor, mas aquilo em que acreditamos deve ser respeitado por nós mesmos. É para isso, afinal, que serve a liberdade. A questão está em nos aceitarmos a nós mesmos por aquilo que somos e em construirmos a nossa verdade. E esse, é um desafio enorme.

Não menos difícil é perceber que os outros têm a sua própria verdade e condicionantes. Falando por mim, projecto-me não raras vezes nos outros e percebo-os apenas do meu ponto de vista. Mas é assim mesmo que somos. Apenas podemos percepcionar o outro partindo de nós mesmos, e se podemos fazer algum esforço de flexibilidade, temos uma necessidade imperiosa de partir de bases seguras. Estas poderão eventualmente ser revistas, é claro, mas é fundamental tê-las. É um processo de aproximações sucessivas. Claro que aqui, o mais fácil é ser demasiado rígido ou demasiado flexível. O equilíbrio é difícil de atingir.

Tudo isso me leva a pensar nos limites das amizades, e no erotismo - ou falta do mesmo - nelas. Como disse, para mim o erotismo alimenta-se entre outras coisas da exclusividade. Mas seria ingénuo pensar que deixa de existir tensão sexual, ou melhor dito, questões sexuais (no sentido lato), nas amizades. Parece-me é que não se constrói erotismo nas mesmas, ou talvez nalgumas se construa algum erotismo, mas de tipo diferente. E é este o mais perigoso, por poder ser dúbio.

Há espaço para o erotismo nas amizades? Que tipo de erotismo? Até onde, quais são os limites?

Não me parece que estas sejam perguntas de resposta fácil e taxativa. O respeito pela personalidade de cada qual é obviamente basilar, bem como uma negociação constante, e o ter a certeza de que ambos jogam o mesmo jogo e não há enganos. Que nisso, tanto para o sexo (para os que o "praticam" nessas circunstâncias) como numa troca de elogios, é fundamental perceber se as pessoas se estão a dar ou a usar.

Finalmente, tenho reparado que muitas pessoas usam - abusam? - do erotismo para construir amizades. Será uma forma de falta de auto-estima? Uma ferramenta, apenas, como qualquer outra?

25.4.06

Paixão, Amor e Sexo


Hoje li de uma assentada o livro Paixão, Amor e Sexo, de Francisco Allen Gomes.

Transcrevo uma descrição:

Um sério contributo para comprender melhor a sexualidade e para uma tomada de consciência da forma como cada um reage, sente e se emociona, nas suas interacções amorosas e sexuais.

Em Paixão, Amor e Sexo, Francisco Allen Gomes, médico psiquiatra, debruça-se sobre a química dos grandes vínculos afectivos, as origens e continuidade do amor, o erotismo, o desajustamento sexual e as causas do sofrimento emocional, mostrando que as desordens da paixão são bem mais perturbadoras do que muitas das disfunções sexuais. Francisco Allen Gomes aborda, de forma sintética mas rigorosa, as questões mais prementes da sexualidade humana, numa obra que reflecte a sua vasta experiência clínica e o conhecimento da investigação científica mais recente. Um sério contributo para comprender melhor a sexualidade e para uma tomada de consciência da forma como cada um reage, sente e se emociona, nas suas interacções amorosas e sexuais. Um livro indispensável.

No livro, pode-se ler uma análise lúcida, clara, profunda e serena (não poupo nos adjectivos, porque gostei muito) sobre o amor, no sentido lato, e o sexo. Recomendo.

19.4.06

Fantasmas


Outro - Por onde andas?

Eu - Por Portugal. E tu?

Outro - Também. Então e quando vamos tomar um café?

Eu - ermm *say what?* Na sexta?
*sobrancelhas erguidas*

Outro - Olha, é melhor não. Não me apetece reencontrar fantasmas do passado.

Eu - Ah, então está bem.
*sobrancelhas de volta à origem*

Até era capaz de filosofar sobre este diálogo, mas acho-o suficientemente surrealista para se explicar a si próprio. Se calhar foi o retorno do "piropo", que fui o primeiro a chamar-lhe fantasma do passado - what goes around comes around. Ou então não. Nada de novo debaixo do sol. Deixa dormir.

Respirar (Debaixo de Água)


Legenda: This is the story of Pedro*, who by having his head being pushed down so much learned how to breathe under water.

Às vezes sinto que passo a vida sustendo a respiração, à espera dos raros momentos em que posso respirar fundo. Como quem (?) vive debaixo de água, só vindo à tona para respirar. Mas, curiosamente, nem sempre o ar me sabe bem. Vá-se lá entender. É instintivo respirar, é necessário.

O mais fácil é fechar os olhos e esperar que a maré nos cuspa para a areia de uma qualquer praia. Isso acontece, mas é perigoso confiar nas correntes. Ora bolas. Hoje é assim mesmo. Sustenho a respiração e fecho os olhos. Que sera, sera.

* Chama-me Pedro.

15.4.06

As regras

Segue o coração e deixa-te ir parece-me muito bem, quando não se magoa ninguém.

Mas entre duas pessoas há sempre riscos. Alguém que se pode magoar. Se a regra é o medo, nunca se avança. Mas ir sem travões é arriscar, e não apenas o que é nosso.

É curioso como tantas vezes a cabeça não sabe o que sente o coração. Quais as regras? Os limites?

14.4.06

Ego booster

Há uma semana atrás, ainda na Holanda, entrei numa loja Subway, uma casa que vende sandes - curiosamente, não posso dizer esta palavra sem me lembrar da minha professora de português que se irritava toda com a mesma; dizia que ou era sandwich ou pão com qualquer coisa, agora sandes é que era uma tradução insuportável, um meio caminho enervante.

Pedi uma sandes (o raio da stôra era uma chata de primeira; merece) de frango. Com ou sem gripe, que sou homem de me arriscar nas tarefas quotidianas (vide quedas espalhafatosas de bicicleta) e assim evitar a necessidade da busca de adrenalina por desportos radicais. Assim como assim, quando não é o frango é a vaca, haja pachorra, que o raio dos bichos andam chatos...

A rapariga que me atendeu estava a falar espanhol - sim, castelhano - com a sua colega, mas não parava de olhar para mim. Confesso, era mútuo. Não só a moça era linda de morrer, mas fui estimulado pelo seu olhar. A certa altura ela diz para a amiga: "este muchacho é lindo". Não a corrigi: "es lindo, qual é lindo qual quê?", nem fiquei com a certeza de que se estava a referir a mim (pelo contexto, podia estar a ensinar a outra a falar em espanhol - sim, castelhano -, que de quando em vez trocavam rosnadelas incompreensíveis em neerlandês e não deu para captar tudo), mas quero pensar que sim. Um autêntico ego booster.

Despedi-me com um "adiós" e ela respondeu "buenas noches, amigo".

10.4.06

The plan



Porque dibujaste eso?

Por gusto.
Y ademas porque desde siempre me ha gustado la cancion esa* que me mandaste.


Pero cuales son los sentimientos de este dibujo?

Soledad.
Nadie esta con nadie.
Nadie camina con nadie.
Todos estan por su cuenta.
Como si fueran sonambulos.
Y caminan soñando despiertos.
Pero nadie se fija en nadie.
Solo el protagonista
que ve a un muchacho de espaldas.


Y que piensa ese muchacho, el protagonista?

Que piensas tu?
Me base mucho en ti.
Claro, quita el cigarro.
Eso es idealizacion mia.


* uma música do grupo dEUS.

7.4.06

Páscoa

Suspeito que terei pouco tempo para actividades bloguísticas durante as próximas duas semanas. Estarei a meio gás, entre família, amigos, estudos e outros compromissos.

Gostaria de aproveitar para agradecer a todos os que têm sido parte activa deste espaço, que sinto simultaneamente meu e nosso. É um luxo poder partilhar assim um blog.

Boas férias a todos. Boa Semana Santa. Abraços e beijos!

Grandes camelos



Legenda: Foto tirada de cima para baixo. A preto, vêm-se as sombras de camelos (manchas claras).

5.4.06

Resumo

É uma cena algo apagada da memória da minha infância. Chorava por não ter amigos. Lembro-me da tristeza, de me sentir inadequado, da solidão. Não me bastava a família, precisava de mais, de muito mais. Recordo-me de fantasiar que do outro lado do mundo haveria alguém que me compreenderia, que eu entenderia, capaz de fazer tudo por mim. Se calhar eu até teria amigos, do tipo que uma criança tem, daqueles colegas com os quais se joga computador e pelos quais se é convidado para festas de anos. São assim os amigos da infância? De qualquer modo, isso não me dava mais que um bom livro, se calhar pelo contrário. Transferi então o meu coração da realidade para a ficção. Teria de haver alguém, nem que fosse na China, que fosse amigo como ninguém. Desinvesti do mundo que me rodeava.

A vida passa tão a correr que é difícil percebê-la. Novas realidades sobrepõem-se às antigas, o que perturba a memória, o passado visto com os olhos do presente. Não acho que o passado seja a explicação de tudo no presente, acredito no livre arbítrio, mas é importante. Vem isto a propósito do Amor. Que procuramos, e porquê?

Há quem diga que a homossexualidade é, no seu todo ou em parte, a consequência de uma infância sem referências masculinas. Tipicamente, mãe dominante e pai ausente. Assim, segundo esta tese, os gays (no masculino, perdoem-me o machismo) procuram durante o resto da vida o equilíbrio que não tiveram em crianças. Mas então, e os heteros? Procuram o quê? Qual a causa do seu desequilíbrio, que os faz sentir incompletos? Não excluo que a falta de referências masculinas leve alguém a sentir-se completado por alguém do mesmo sexo. Mas aí, estamos em igualdades de circunstâncias: todos procuramos o que nos completa. Seja porque razão for. Não vejo em que é que isto justifica que se diga que os homossexuais estão a procurar compensar a infância mais ou menos do que qualquer outra pessoa. Na verdade, todos crescemos em famílias disfuncionais. O corolário deste tipo de raciocínio parece-me ser que a maturidade plena só se atinge quando estamos bem sozinhos. A solidão seria o apogeu da espécie. Não, obrigado, prefiro ficar um passo abaixo na escala da evolução.

Eu acredito que o Amor é o mesmo, apenas tem objectos diferentes. Cada qual tem a sua personalidade, que o impele a buscar determinadas características. Mas o Amor é o mesmo. Que procuramos, então? Alguém que nos complete? Que tenha o que falta em nós? Que nos entenda, seja parecido conosco? Sim, é tudo uma coisa tremendamente animal, hormonal, molecular, não vou por aí... Não me importa que átomos compõem as emoções, o facto é que as sentimos. Que loucura é esta que nos faz queremos abandonar-nos a nós mesmos para nos tornarmos um com outra pessoa? Porque é que isso é tão importante para nós?

Pergunto mais do que respondo. Ao fim ao cabo, os porquês não são tão importantes como a forma como lidamos com quem somos e o que sentimos. Amamos porque amamos. Essa é a realidade tangível. Mas persistem tantas perguntas. Uma que me faço frequentemente é se as pessoas que buscam somente - e tão só e nunca mais que - sexo estarão apenas desiludidas. Este sentimento, esta pulsão a amar, não é de todos? Custa-me tanto aceitar que alguém possa nunca ter acreditado no Amor. Será possível existir alguém que recusasse a hipótese de felicidade a dois? Não acredito. Se calhar, falha-lhes a fé. Porque foram magoadas, ou nunca acreditaram. E contentam-se com o medíocre.

Esta visão romântica do Amor tem que se lhe diga. Talvez realismo, um aceitar ser moderadamente feliz, fosse melhor. Mas é possível a alguém ser 99% feliz? Uma característica de ser humanos não é buscar o 1% que falta? Queremos sempre mais e mais. E isso, no Amor, só se pode procurar com alguém em profunda sintonia. Não basta ganhar por um, tem de ser de goleada.

Mas todos nos desiludimos. A vida é dura, fria, cruel, vezes demais. Investimos tudo, que nascemos para isso, e quase sempre falhamos. Aprendemos a dosear, a rodear o coração de camadas protectoras. É normal. Ninguém gosta de sofrer. Mas não é irreversível. Por mais seguras que sejam as fechaduras, haverá sempre alguém capaz de as abrir. Embora às vezes seja só se deixarmos. Não há crimes muito piores que ter medo da felicidade. Curiosamente, muitas vezes, os períodos de maior desilusão são os mais propícios a abrir o coração. Estamos à espera de tão pouco que nos deixamos surpreender.

O que acho, verdadeiramente, é que independentemente das razões, vale a pena querer amar. Porque nisso colocamos muito da nossa felicidade.

Finalmente, um tema paralelo, relativo às amizades. O que as separa do Amor? O sexo? A paixão? Os limites são físicos ou têm de ser também afectivos? Se há algo que sempre me custou, é limitar os afectos nas amizades. Não entendo porquê, não percebo essa necessidade.

Humor

Há alguns anos vi uns retalhes de um filme francês numa sessão de zapping. Neste, numa cena pós-ménage a trois - não, o filme não era pornográfico, era sim francês! - entre uma mulher e dois homens, um judeu e um muçulmano, esta diz, suspirando:

"Sinto-me como uma cidade santa".

Se calhar não acharão assim tanta piada, mas a mim doeu-me a barriga de tanto rir. Antes de mais, só mesmo os franceses para dar um nome charmoso a uma cena a três. Haverá poucos povos que respirem mais sensualidade, de uma forma tão natural. Mas o que me encantou foi o humor inteligente, a evocação de uma situação ridícula num momento constrangedor, a capacidade de rir de tudo e de si mesmos em simultâneo. É revelador.

Fez-me pensar nas consequências que tem para Portugal e para o mundo o abandono da língua francesa - e, inevitavelmente, da respectiva cultura - pela língua inglesa. Sou demasiado novo, demasiado inculto, para poder ter uma opinião fundada. Mas, do que conheço dos franceses, acho que têm um savoir vivre e uma sagesse d'esprit que nos interessaria conhecer. E, cada vez mais, é um mundo desconhecido. Aliás, dá-me a impressão que a França é culturalmente uma ilha, para o bem e para o mal. E cada vez menos os nossos barcos atracam lá. Choca-me ver como as referências culturais de origem francesa foram, em tantas pessoas, completamente esquecidas. Digo eu que não tenho (quase?) nenhumas.

Até tenho vergonha de publicar este texto, acho-o de um atrevimento incrível.

3.4.06

Onde está o comando?



Há perguntas a que já não apetece responder, de tanta vez que são perguntadas. Mas, volta a meia, voltamos a colocá-las.

Porque nos sentimos atraídos por este/a e não por aquele/a? Que critérios regem o coração? O que é que o órgão cardíaco (coitado, ele que não tem culpa nenhuma lá personifica o amor*) sabe que eu não sei? É injusto. E não é justo. Entretanto, os deuses divertem-se:

- Ó cupido, não era engraçadíssimo se aqueles dois se apaixonassem?

Não, cupido, não era. Vê lá se tens mais critério da próxima vez. Enfim, o Big Brother continua na moda lá pelo Olimpo. Nada de novo debaixo do Sol.

* em letra minúscula, pois falo no sentido lato.

Música



Para quem como eu dança compulsivamente ao ouvir ouvir música, desaconselha-se subir muito o volume dos auscultadores. Principalmente se tiverem colegas que entram no gabinete sem bater e ficam a olhar, enquanto vocês dançam na cadeira, completamente desinibidos. É que quando dão por ela, ele esteve a olhar o tempo todo, sim, mesmo as carantonhas e braços no ar, ele viu tudo e não pareceu ficar impressionado com a coreografia. Por isso, a menos que sejam como eu, e façam quase tudo para ver um sobrolho de um colega quase a tocar na sua linha do cabelo, baixem o volume ou batam só com o pé no chão. E façam ar sério, que isto é um local de trabalho.

Eu não tenho culpa de dançar enquanto penso em equações. I'm feeling alive.

Hoje, por cá, há música em dose dupla.

2.4.06

Felicidade à lupa



Legenda: Devaneios de uma longa tarde ainda não de Verão.

Explicação: Muito para fazer, pouca vontade. Muito para exprimir, pouca capacidade.

Termo de responsabilidade: Não sou artista, nunca fui, nem nunca o serei. Chamemos-lhe terapia colorida do paint. Não, não é arte. É um problema de expressão.

E tu?



És feliz?

1.4.06

Por onde morre o peixe

Num conjunto de entrevistas a Joseph Ratzinger, na altura Cardeal, pode-se ler:

- Também aqui [houve] uma "mutação cultural", ou, mais ainda, [uma] "mutação antropológica", sobretudo entre os jovens, "cujo sentido acústico foi corrompido e degenerado, a partir dos anos 60, pela música rock e outros produtos semelhantes".

E na página seguinte:

- Um teólogo que não ame a arte, a poesia, a música, a natureza, pode ser perigoso.

31.3.06

Homofobia


Excerto do hino de campanha da Galp Energia relacionada com o mundial de futebol 2006:

É o retrato de um país aplicado ao futebol.
Tem tudo o que é preciso, só perde por ser mole.
Toca a acordar, pessoal!
Queremos mais garra,
deixar de ficar felizes quando a bola vai à barra.
Vamos com tudo, meter o pé, chutar primeiro,
Que o último a chegar é panel****.
Ter medo deles? Isso era dantes!
Vamos embora encher de orgulho os emigrantes.
Sem esquecer que nas grandes emoções
quando grita um português, gritam logo 15 milhões.



Já enviei o meu protesto para galp@galpenergia.com. Agora fico curioso em ver qual dos jogadores será o último a chegar.

Gosto muito do Ballack. Se ele assinasse pelo Benfica é que era!


Actualização: A GALP decidiu retirar a palavra panel**** da página de internet. 'Bora celebrar, quero ver tudo a pular!! E quem não salta, é panel****... uups...

This modern world



Legenda: As long as you don't flip-flop...



Legenda: Meanwhile, across the galaxy...



Legenda: It has always been this way...

Emoções

Se forem ali (mas voltem), poderão ler um texto sobre como lidar com as emoções, que cita o psicoterapeuta Jaime Graça Machado:

Bem disposto?
– Sempre!Também há pessoas que aprendem a suprimir e a negar os seus sentimentos através de distanciamento e insensibilização em relação a eles. Autodesligam-se dos seus sentimentos sem, contudo, terem consciência disso. Assim, quando essas pessoas são recompensadas socialmente por mascararem as suas emoções, acabam muitas vezes sentindo-se não ouvidas, alienadas, zangadas e deprimidas, sem saberem porquê. As suas vidas podem até parecer correr às mil maravilhas, mas elas sentem-se vazias, não preenchidas. Isto porque estão separadas das suas próprias emoções.

Que fazer com as emoções?
O primeiro passo na gestão das nossas próprias emoções e sentimentos é aceitá-las sem juízos de valor nem de culpabilidades. Ao aceitar as suas emoções e sentimentos está também a aceitar uma parte de si, cheia de força de viver, cheia de sabedoria sobre si próprio e sobre a qualidade das relações que estabelece com os outros, em especial de quem mais ama."


O tema é fundamental. Todos queremos ser felizes, mas às vezes é difícil gerir o que se sente. Prefiro ser cauteloso e não ter grandes certezas neste campo. Quando era miúdo barrei os sentimentos. Envergonhava-me o meu descontrolo; chorava copiosamente para me estar a rir cinco minutos depois. Excesso de empatia? Talvez, mas onde a palavra chave era excesso. Não era sustentável.

Fiz um esforço tremendo para me controlar. Tão grande que pensei ter secado a fonte dos sentimentos. Havia um turbilhão por dentro, pressentia-o, mas demasiadamente profundo para que o conseguisse sentir. Fui de um extremo ao outro. Passei de muito sensível a irritantemente perfeito, com um auto-controlo enorme e inconsciente, nalgumas áreas. De vez em quando, assomava em mim uma ponta de tristeza, insinuante, e sabia estar a viver por procuração. Mas, perdida a chave da cela onde tinha encerrado os sentimentos, já nada dependia de mim.

Acabei por pagar a factura, mais tarde. Numa fase em que a maior parte das pessoas já tinha construído a sua personalidade, uma depressão arrasou a minha. Claro que nem tudo foi abaixo, não se deixa de ser quem se foi, mas tive de reaprender a sentir, a sorrir e finalmente descobrir como lidar com os sentimentos. Foi uma oportunidade única - pude escolher, em grande parte, só de uma vez, quem e como queria ser - mas com um preço elevado. Com o tempo, aprendi a deixar fluir os sentimentos sem me permitir ser dominado por eles. Agora sei suster uma dor ou alegria dentro de mim e ir libertando-a aos poucos. Consigo abrir as portas da barragem quando necessário e apenas permitir a água esgotar-se às gotinhas quando deve ser.

É curioso, o conflito entre a razão e a emoção. Somos animais, não há como mudar isso - sentimos porque sentimos, é da nossa natureza - mas ao mesmo tempo o que nos fez subir na escala da evolução é a inteligência. Não podemos escusar-nos a usá-la, como moderação dos sentimentos, ou melhor, como doseador. Acredito sinceramente que podemos induzir em nós mesmos estados de felicidade ou estados depressivos. É preciso ser bom gestor. Deixar fluir as emoções negativas e aprofundar mais as positivas. Por essa razão, evito músicas, filmes ou livros que me possam puxar para baixo quando não me sinto seguro. Protejo-me como posso. Mas já não me impeço de sentir.

Na minha opinião, o meio termo é a melhor solução. Todos temos direito a sentir alegria, tristeza, gratidão ou mesmo raiva. Reconhecer o que se sente é necessário. Mas é preciso lidar com os sentimentos. E isso pode ser muito complicado. A nossa melhor arma, a inteligência, pode ser o nosso pior inimigo. É só uma questão de saber usar o que temos à nossa disposição. Há quem consiga instintivamente fazer a gestão dos sentimentos, mas creio que o melhor caminho é o auto-conhecimento.

30.3.06

Aritmética da paixão

Decidi-me calcular a percentagem de homens namoráveis na área da Grande Lisboa (a título de exemplo), onde vivem aproximadamente 3 milhões de pessoas.

Destas, cerca de metade (1.5 milhões) serão homens.

- Três em cem destes homens serão homossexuais/bissexuais e suficientemente assumidos perante eles mesmos, o que perfaz um total de 45 mil pessoas.

- Se quinze em cada cem for de uma idade (no sentido lato) compatível com a minha, restam 6750.

- Retire-se os oitenta por cento que andam no engate - ficam 1350.

- Três em dez hão-de atrair-me fisicamente: 405.

- Destes, um em cinco são compatíveis comigo psicologicamente: 81.

- Finalmente, com todas estas qualidades, com cerca de metade, ou seja 40, é possível que eu sinta o tal click.

- Mas, claro, uma boa parte destes estarão já comprometidos.


Onde estarão os restantes 20?

29.3.06

Da Holanda com amor


Reparei que já há algum tempo que não colocava uma imagem aqui. É injusto, e não é justo (esta é a mais recente entrada do livro de estilo), e decidi compensar os meus estimados leitores. Então, fiz uma imagem no paint, no mais autêntico estilo revivalista. Quero com isso dizer que se eu desenhava mal quando era puto, também não aprendi nada entretanto. Mas shhh, isso fica entre nós, ninguém tem de saber. Aos outros dizemos que é revivalista!

"Chamo atenção aos deliciosos pormenores infantis, demonstrativos de uma maturidade artística incomum por parte do artista. Quatro dedos em cada mão, pés ovais. Flores sem folhas, com aspecto murcho, suportadas por caules anoréticos. Ausência de qualquer noção de profundidade ou de luz. Uns "v" a fazer de pássaros. A representação simbólica insípida dos raios de sol.

Esta pintura a píxeis, aparentemente inocente, levanta questões deveras profundas. À primeira vista estas estão escondidas, mas uma análise atenta, tomando necessariamente em conta a vida e obra do artista, expõe metáforas que podem ser levadas aos limites da metafísica e que levantam as mesmas interrogações que têm perturbado os filósofos nas últimas décadas. Trata-se portanto de um trabalho de actualidade, com uma superficialidade profunda, num paradoxo de oxímoros que nos transporta a uma dimensão superior daquela a que estamos habituados."

Eis portanto um desenho fiel a a mim mesmo, coerente com a minha obra até agora, in touch with my inner child, a dar razão às notas não-tão-boas a educação visual.

Dedicado ao amigo a quem prometi dedicar.

O Medo

Eu recuso-me a acompanhar notícias sobre tragédias. Já basta o que tenho de negativo na minha vida - não me estou a queixar; simplesmente não vivo numa redoma -, não preciso de saber pormenores sobre o drama do submarino afundado, do tsunami e menos ainda da senhora de idade que está há cinco anos na lista de espera para ser operada à vista.

Estar informado é bom, mas do essencial ao tétrico distam dois segundos de um telejornal da TVI. Não nego o valor da comunicação social, de forma alguma, mas é uma escolha pessoal. Considero-me suficientemente sensível ao sofrimento alheio para precisar de ver alguém chorar a morte de um filho para me comover. Protejo-me.

Se bem me lembro, no seu filme Bowling for Columbine, Michael Moore defende a tese de que muitos dos comportamentos negativos da sociedade actual são devidos ao medo e acusa a comunicação social de fomentar esse sentimento.

Talvez tenha razão. Um exemplo é a homofobia; não podia deixar de o referir. Mas há quem viva a sua vida toda com medo. Medo de falhar, medo de sofrer. É terrível, quando a própria pessoa sabota as possibilidades que tem de realmente ser feliz, por ter medo de falhar. Impossível não lembrar a frase: façam o favor de ser felizes.

Para além de um paralisador medo de falhar, que tenho de contrariar permanentemente, eu tinha um pequeno medo de alturas. Nada de mais, apenas ligeiras vertigens. Fiando-me no popular "enfrenta os teus medos", aproveitei um dia a oportunidade de estar numa varanda sobre um precipício, com o chão em gradeado, para olhar bem para baixo, saltar, enfim, expurgar o medo. Não ajudou nada, pelo contrário. Não se tornou numa fobia incapacitante, nem de longe, mas piorou.

Julgo que o truque para vencer os medos é simplesmente estar disposto a pagar o preço. Eu sei que para amar alguém terei de correr riscos: se falhar, sofro. Mas amar é tão bom que vale a pena. Eu sei que subir ao cimo de um castelo com as escadas gastas pelo tempo tem o seu quê de perigoso, mas é-o tão pouco que a paisagem vale a pena. Claro que me posso proteger, mas num tanque de guerra não é possível chegar ao cimo do castelo. Quanto muito, poderei usar um colete anti-balas.

A razão não basta, em muitos casos, mas noutros sim. É uma questão de se estar ou não disposto a correr o risco. Mas, muitas vezes, as pessoas enganam-se a si mesmas. Dizem ter demasiado medo para procurar o que querem, mas continuam a fazê-lo, sem conseguir arriscar o suficiente para poderem realmente atingir o que querem. É um ciclo, porque assim ficam mais frustradas, e reforçam o medo. Vão-o alimentando mais, com o tempo. Choca-me especialmente as pessoas que vão de relação sexual em relação sexual, de uns para outros, mas realmente procuram é amar e ser amados. Vão usando e sendo usados, que é possivelmente até aquilo de que fugiam.

Por fim, é óbvio que não sei nada de psicologia. Mas uma coisa eu sei: não quero que a minha vida seja regida pelo medo.

27.3.06

História

Segundo John Boswell, uma diferença significativa entre homossexuais e outras comunidades perseguidas em determinados períodos históricos, como os judeus ou os negros, é que os primeiros não têm história.

Em comunidades bem definidas e identificadas, é de esperar que os conhecimentos passem de pais para filhos. É fácil para um judeu ter consciência histórica. Quanto aos homossexuais, vivendo isoladamente e não em guetos, geralmente a história começa no seu nascimento. Não há noção do que aconteceu antes, de como noutras culturas e noutros locais se viveu a diferença de orientação sexual.

Se hoje começa a haver estudos sobre a história da homossexualidade, não é menos verdade que a transmissão de conhecimentos sobre a mesma não assenta numa lógica de convivência natural entre várias gerações. Creio que este tem sido e é um factor facilitador da homofobia, e potenciador de muito sofrimento.

Personalizando a conversa, a certa altura da minha vida senti a necessidade de saber o que sentiam os outros que eram como eu. Como lidavam com a sua sexualidade. O que pensavam. A necessidade, premente, foi saciada pela internet. Não fosse a mesma, e ter-me-ia sentido imensamente só. Não faço ideia como teria evoluído a minha personalidade, ou quão longe teria chegado o meu conhecimento próprio.

Como era antes da Internet? Como é que as pessoas se conheciam, a si mesmas e às outras, como se relacionavam? Que expectativas tinham? Que condicionantes? É curioso, tento ler sobre o que se passava na Grécia antiga e noutras culturas e tempos, mas não tenho grande ideia sobre as vivências de quem hoje tem 35, 50 ou 65 anos.

Deixo assim as seguintes perguntas a quem quiser responder (comentando, ou por e-mail, ou ainda nos respectivos blogs):

1- Fazes ideia sobre como é que pessoas de gerações anteriores à tua descobriram e viveram a sua sexualidade? Sou só eu o ignorante nesses assuntos?

2- Como descobriste tu a tua sexualidade? Como lidaste com ela, perante ti mesmo? Como reagiram os que te rodeavam?


Desculpem, ando um bocado repetitivo.

A ver noutros blogs: dcg, zibl (uma partilha a não perder!!!).

26.3.06

Redoma

Queria

- dormir num quarto com telhado de vidro, para poder ver o céu e ouvir bater a chuva, ao adormecer, na segurança quente da cama.

- fazer bungee jumping, deixar-me cair na certeza de ser puxado para cima na altura certa.

- poder ver os filmes mais tristes do mundo, sem me preocupar como me iria sentir a seguir.

- saltar em cima da cama, em roupa interior, como se não pudesse vir a estragar o colchão.

- abrir os braços e correr meia cidade a fazer de aviãozinho, independentemente de quem estivesse a ver.



Não, não é isso. Na verdade, o que eu queria era um abraço que me fizesse sentir assim seguro. Poder sorrir a sério outra vez, com toda a alma. Voltar a viver a plenitude da vida. Amar.

24.3.06

Más allá del pecado



O blog Más allá del pecado tem como imagem um ícone curioso, que se relaciona com a história do casal de santos mártires Baco e Sérgio, que como se pode ler, "viveu durante o reinado do imperador Maximiano (286-306-8 A.D.)", tendo-se tornado "exemplo de amor entre dois homens".

São Sérgio e São Baco terão sido importantes militares, e declaradamente amantes, segundo o historiador John Boswell. Foram condenados à morte após terem admitido serem cristãos, numa altura em que estes ainda eram perseguidos. O seu dia comemora-se a 7 de Outubro.

Gado

Exemplos do dia:

1- DN:

O Governo desistiu da intenção de obrigar os desempregados subsidiados a permanecerem duas horas por dia em casa, de modo a limitar a hipótese de acumulação fraudulenta do subsídio com trabalho e a facilitar as inspecções, apurou o DN.

Ao menos desistiram, ao ver que não pegava. Mas só o pensar nisso já deve violar meia dúzia de "direitos garantidos" do 25 de Abril.

2- Visão:

O Governo está a estudar a possibilidade de o selo do carro ser comprado obrigatoriamente através da Internet mas o grupo de trabalho que está a avaliar o processo ainda não tomou uma decisão, disse fonte oficial à agência Lusa.

Ah bom, e depois é só importar novos portugueses da Finlândia. Assim até se pode mudar logo o sistema de ensino.


A sensibilidade deste governo é comovente. Como se liderar pessoas fosse o mesmo que lidar com gado. Mas pronto, depois do Santana, já se perdoa tudo. A falta de alternativas faz o resto. Apetece-me fazer como o antigo presidente da república e espetar cinco palavrões de seguida. Mas, ao contrário dele, suspeito que o meu telefone não esteja sob escuta. Ora bolas.

23.3.06

Greve

Efectivamente, não está em mim fazer greves. Já contei o meu trauma infantil com as mesmas. Não me lembro de alguma vez imaginar que o mundo era perfeito, mas confesso a minha desilusão quando aquela professora me disse que o objectivo das greves era prejudicar os outros, para assim os alertar.

Eu tinha noção de que era palermice o que a senhora proferia; o que não imaginava era que alguém fosse capaz de pensar algo desse calibre e nem sequer o disfarçar.

Quem me redimiu, largos anos depois, foi a minha professora de matemática do 10º e 11º anos. Num dia de greve em que todos os professores faltaram, ela lá estava, como sempre, a encher o quadro de letras e números antes de sequer termos tempo de nos sentarmos. Nessa aula, deixou a porta da sala aberta. Ao passar a funcionária, pediu-lhe "marque-me falta, por favor - estou a fazer greve". Quando lhe perguntámos porque dava aula então, explicou que não tínhamos culpa nenhuma, e que não tinha o direito de nos prejudicar.

Claro, cada um faz greve como quer, e ela não tinha esta obrigação. Mas esta Mulher mostrou-me que mesmo que em cada 100 pessoas, 99 sejam palermas, só pela outra vale tudo a pena. Se a encontrar, digo-lhe isto. Ela merece.

Caligrafia

Nunca fui capaz de alinhar numa greve. Melhor, nunca quis. Aquelas em que podia ter participado - "luta" contra os exames do secundário, contra as propinas ou outras no contexto do ensino superior - nunca concordei realmente com elas. Ganhei uma grande aversão a greves no dia em que uma professora me disse que o objectivo das mesmas era prejudicar terceiros (cortando estradas, etc.), para assim fazer toda a sociedade reflectir. Não fiquei muito convencido com o conceito de solidariedade forçada. Aliás, a maior alegria que jamais uma greve me deu foi quando uma amiga minha, professora no seu primeiro ano de aulas, pediu o altifalante emprestado ao dirigente associativo que entrou a berrar na aula dela. Perante a surpresa de meia dúzia de rapazes barulhentos vestidos à século XIX, disse que não tinham o direito de lhe perturbar a aula, que ninguém era obrigado a estar lá. Obviamente, respeitaram-na - tirando a parte de lhe terem entrado de rompante na sala, a berrar, coisa que não foram capazes de fazer com professores mais velhos.

Ultrapassado o meu trauma com greves, preparei-me para fazer uma, de uns poucos dias, ao Minudências e Lugares Comuns. Preciso de descansar um pouco, a vida tem de ser mais que um monitor de um computador. Parece, porém, que o meu destino é ser fura-greves... Um serendipismo levou-me a um teste de caligrafia e não consegui resistir a partilhar os resultados.

Infelizmente de há alguns anos largos para cá que escrevo com letra de computador, tudo em maiúsculas, para que me entendam. Temo por isso que o teste não se aplique inteiramente. Mas eis os resultados obtidos da análise da minha caligrafia antiga:

A inclinação de sua letra mostra que você tende a ser uma pessoa extrovertida, sociável e afetuosa. A ligação de sua letra revela organização, raciocínio lógico e razoável capacidade de adaptação. A direção de sua letra indica controle, constância e organização, especialmente nas tarefas cotidianas. A pressão que usa ao escrever sinaliza estabilidade e equilíbrio. As áreas valorizadas na sua escrita destacam idealismo, erudição, preocupação com seu crescimento interior. A forma de sua letra demonstra conservadorismo, formalidade e uma certa frieza em seus relacionamentos sociais. Tende a esconder sentimentos.

Quem me conhecer que confirma ou desminta. Eu recuso aceitar que a minha personalidade possa ser descrita em oito linhas (embora tenha feito o teste com avidez, para poder ler essas mesmas linhas)! Mas reconheço que me revejo nalgumas coisas. Noutras, nada.

22.3.06

Baleia explosiva

E se uma baleia lhe morrer na praia?



Problemas a ver o vídeo?

Estamos encerrados

Hoje apenas me queria ausentar de mim, poder não ser eu por um dia. Descansar dos meus problemas, das minhas responsabilidades. Não ter de trabalhar, telefonar à minha mãe, comprar senhas de autocarro, fazer o jantar, perceber-me a mim mesmo. É um turbilhão por dentro e por fora, tanta coisa em simultâneo, que me sinto perdido. Anseio por paz.

Queria fugir, ser eremita, reencontrar o equilíbrio perdido. E depois sim, de cara lavada, enfrentar o mundo, e não mais a mim mesmo. São tantas coisas ao mesmo tempo! Tantas solicitações, tantas necessidades, tanto fogo por apagar. Hoje deixem-me descansar. Amanhã pode ser tudo outra vez, mas hoje não consigo.

21.3.06

Religião II

Ainda a propósito do texto do Padre Anselmo Borges, dou-lhe razão. É muito mais fácil aceitar a segurança de uma verdade construída que ter a responsabilidade de se ser livre. É muito arriscado, ser-se livre. Cometem-se erros, é-se criticado, é-se obrigado a pensar. Mas Cristo concedeu-nos liberdade. Às regras antigas contrapôs um mandamento novo: "amai-vos uns aos outros".

Assim sendo, o que é mais importante? Cito um amigo meu: "A autoridade da Igreja, que eu, naturalmente, aceito, centra-se nas matérias de fé. Querer fazer de tudo um dogma desvaloriza o essencial. Caberia lembrar aqui as palavras de Santo Agostinho: “Unidade no essencial, liberdade na dúvida e caridade em tudo”".

Assim sendo, talvez se possa medir o papismo de uma pessoa*, mas não se pode ser mais ou menos cristão. Ou se é, ou não se é, e para se ser basta seguir a Cristo. E nisso, a consciência está antes das regras. Aliás, creio que isso vale tanto para cristãos como ateus ou agnósticos.

O problema para os cristãos homossexuais é que se sentem muitas vezes órfãos de uma Igreja que lhes é hostil. E, muitas vezes, sentem-se atacados por todos os lados, como se fossem incoerentes - já me referi a isso. Era infinitamente mais fácil escolher a segurança de qualquer um dos lados - a repressão de uma Fé vivida em sentido estricto ou a sua rejeição. Mas ser livre tem destas coisas: escolhemos o nosso próprio caminho. Neste, tudo tem de ser construído. São poucas as certezas e muitas as dúvidas.

* Ia propor um sistema de 0 a 100, tomando uma determinada pessoa para 100, mas apesar de ser uma figura pública, acho deselegante. Raios partam o meu sistema ético...

Moralidades


É curioso como relativizamos os nossos sistemas éticos. Roubar é muito grave, mas piratear... é que a Microsoft cobra preços estupidamente altos! E eu até comprava aquele CD, mas sabes quanto dinheiro vai realmente para o artista?

Se a pirataria é universal, há distorções morais restrictas a espaços geográficos mais bem definidos. Por exemplo, na Holanda é normal comprar bicicletas roubadas. Vai-se à estação e espera-se no mesmo lugar até ser abordado. Depois, é discutir o preço e especificar o tipo de bicicleta. Uns minutos e um cadeado partido depois, a transacção pode ser efectuada.

Na realidade, o normal é conhecer um amigo de um amigo que tem um amigo cujo amigo vende bicicletas estranhamente baratas. Não é costume pronunciar a palavra roubadas, embora todos a subentendam... Hoje, porém, um colega contou-me a forma mais original de roubar, ainda que inadvertidamente, uma bicicleta. Há uns tempos, pareceu-lhe reconhecer a bicicleta que lhe havia sido roubada um mês antes. Telefonou à polícia, que arrombou o cadeado. No caminho para casa, o meu colega apercebeu-se de que a bicicleta afinal não seria a dele. Uups...

20.3.06

Religião

Diz Anselmo Borges, num comentário a ler no DN:

"Os seres humanos são, por natureza, frágeis, carentes e, por isso, é quase inevitável que, entre a liberdade e a segurança, a maioria não hesite em escolher a segurança."

Teremos esse direito, em religião? Mais, teremos o direito de impôr o nosso conceito de segurança aos outros, em detrimento da sua liberdade?

Roupa suja

No ano anterior ao último do ensino secundário, tive um professor péssimo. Não só passava as aulas a falar da sua vida pessoal - aliás desinteressante -, como tinha um sistema de avaliação pseudo-objectivo, que na realidade manipulava a seu bel-prazer.

Eu não podia com o homem. Achava-o injusto, patético, demagógico, falso e até perigoso. Não suportava os seus incentivos à bajulação e à competição desenfreada ou a sua falta de profissionalismo. Mais tarde, vim a saber tratar-se de uma pessoa desequilibrada.

O pior é que ele parecia gostar de mim. Se calhar achou curiosa a minha frieza educada, suponho que não a entendeu. Chegou-me a elogiar, até um dia perceber que eu não jogava o jogo dele. Foi um processo lento e progressivo, mas inevitável, até entrar na lista negra do homem.

Num dos últimos dias de aulas, num exame oral (no secundário!), o stôr perguntou-me apenas perguntas ambíguas para me conseguir baixar a nota*. Tinha a faca e o queijo na mão e adulterou todas as regras de honestidade mental. Submeti-me a tudo. No fim, pedi a palavra. Levantei-me e disse-lhe que ele tinha agido de má fé, comigo e com outros colegas. Que era tudo propositado. Que era vergonhoso um professor agir daquela forma. E voltei-me a sentar. Sabia que apenas tinha a perder, que era a parte fraca, mas quis dizer-lhe tudo, cara a cara.

Age-se assim quando se sabe ter razão. Saber que estamos certos muitas vezes compensa o que se perde ao confrontar as pessoas. O que não compreendo é quando se desferem ataques ao abrigo da anonimidade. É falta de coragem ou, mais frequentemente, falta de razão. Foi o que aconteceu ao Zé Beirão, foi alvo da cobardia alheia. Alguém deixou comentários desagradáveis no seu blog, dirigidos a uma qualquer outra pessoa, mas não por isso menos antipáticos. Resultado: o perdeu a vontade de continuar com o seu blog. Para não permitir que na sua "casa" alguém fosse insultado. Para ti, , um abraço solidário.

* No fim, ganhei eu. Perdi uma semana de férias a estudar para o exame de melhoria da disciplina, mas acabei com a nota que merecia.

19.3.06

Olha o telemóvel!



Tão depressa estou grato ao meu telemóvel como só me apetece afogá-lo sanita abaixo (flushhhh). Mas não convém; ainda há duas semanas me entrou o senhorio de charuto em riste casa adentro, a verificar as canalizações. Apenas mudou a água ao autoclismo umas quatro vezes, mas foi o suficiente para deixar um cheiro pior dentro de casa que fora, onde os esgotos estavam a ser limpos a céu aberto. O drama é que o mesmo instrumento que me liga ao mundo inferniza-me a vida. Tenho mais momentos de sossego no meu próprio país, que aqui, a muitos quilómetros de distância.

Claro, podia deixar o bicho em casa. Podia não lhe carregar a bateria. Mas já habituei todos a responder. O hábito aumenta as expectativas. Tomam por garantido que vou atender. Se não o faço, é um ai Jesus que deve ter caído por uma ribanceira abaixo ou mesmo caído da bicicleta sem razão*, ou porque é que ele não me atende a mim, estará chateado?

Hão-de ver se não arranjo uma bateria estragada que esteja constantemente a ir abaixo... Ou se não mudo para uma rede que tenha má cobertura nesta cidade. Chego a ter saudades dos tempos em que se telefonava das cabines públicas e se trocavam cartas! E eu escrevia tantas. Foi assim que mais aprendi espanhol, foi assim que mais aprendi a conhecer-me. Num pedaço de papel cabe mais da alma que o computador mais avançado alguma vez terá a capacidade de captar. Foram tantas, as cartas, as que chegaram ao destino e mais ainda as que acabaram rasgadas no caixote de lixo. Como cheguei a esta situação, reduzido a mails e chamadas telefónicas? Como dizia o outro a explicar a sua falência, primeiro aconteceu gradualmente, e depois de repente. Foi algo assim.

O problema é que cão que ladra não morde. Menos ainda quando acabou de receber uma chamada de um grande amigo de outro continente. Acabo por ter de dar graças pelo maldito telemóvel.

* Não que isso me aconteça, claro! Nos únicos registos que há, em toda a minha vida, de quedas da bicicleta, as culpas foram atribuídas ao muro que não saíu da frente, às linhas do caminho de ferro, ao gelo que estava na estrada e a um pneu que rebentou.

18.3.06

Sacos


Quando era puto, media o grau de civilização de uma cidade pelo número de Macdonald's e número de escadas rolantes que esta tinha. Em Londres, aprendi a substituir o critério quantitativo das escadas rolantes pelo facto de as pessoas cumprirem a regra "stand on the right, walk on the left", deixando sempre o lado esquerdo para os mais apressados. Quanto ao número de Macdonald's, ganhei juízo (e, creio, bom gosto). Agora para além do critério comportamento-nas-escadas-rolantes, tenho outros, igualmente subjectivos. Demasiados para descrever num só texto. Bom, nem tanto, mas o Sol brilha lá fora e tenho de o ir aproveitar!

Hoje fui comprar um livro de banda desenhada japonesa, uma manga chamada Rorouni Kenshin. É uma banda desenhada que se lê da direita para a esquerda, e como tem muitas particularidades próprias da cultura japonesa, satisfaço a criança em mim (que anda sempre esfomeada de atenção!) sem parecer muito infantil. É assim como colocar um escorrega num prédio de escritórios de advogados e chamar-lhe exercício de segurança para a eventualidade de incêndios. Adoro imaginar os pobres engravatados a morderem-se todos para não exteriorizar o grito weeeeeeeeee.

O rapazito da loja já me conhece. Da primeira vez que lá comprei um livro, ele perguntou-me se queria um saco de plástico ou de papel. Respondi-lhe que queria o que poluísse menos. Ele não sabia qual era, nem eu. O de plástico pode reutilizar-se, o de papel depende. Ficou combinado que começaria sempre a levar o meu próprio saco. Hoje esqueci-me eu, mas lembrou-se ele, e puxou-me as orelhas com as palavras e um sorriso. Pediu-me para que da próxima vez eu leve dois sacos, um para transportar os livros, o outro para eles reutilizarem na loja.

Já nos supermercados nos fazem pagar os sacos que usamos. O ambiente agradece. Afinal, que custa levar um saco de casa? Esta conta para os meus critérios de grau de civilização...

Graças ao M., este blog já tem música. Não começa automaticamente, quem a quiser ouvir tem de carregar no play, na barra à direita.

17.3.06

Tentativa


Primeiro são as cócegas. Difusas, quase imaginárias, mas insinuantes. Semicerro os olhos e a boca, uns ao contrário da outra, que os primeiros estavam abertos e a segunda fechada. Instintivamente aspiro ar. A cabeça inclina-se para trás, a equilibrar o peso crescente da zona frontal do cérebro. As cócegas intensificam-se. Os olhos humedecem, arrepiam-se* enquanto progressivamente se vão fechando. É como um orgasmo que não se sabe se realmente irá chegar. O ar que aspirei deveria ser suficiente. Vai falhar... Olho para a luz da sala, que me disseram que a luz ajuda à concretização. Continuo a inspirar, devagarinho, como que a chamá-lo. Mas o espirro não vem. Molham-se mais os olhos, fica mais pesada a cabeça, permanecem as cócegas, mas não há espirro.

Ora bolas! Odeio a sensação que permanece depois de um espirro falhado.

É difícil descrever um espirro (ainda que falhado) de memória! Para além de não me chegar - ou não saber usar - o meu vocabulário... Principalmente para descrever aquilo que acontece aos olhos - *. Alguém consegue fazer uma descrição melhor?

16.3.06

Provocação



[...]
But I see your true colors
Shining through
[...]

Banda sonora (têm de imaginar): True Colors, de Cindy Lauper.

Optimismo

Excesso de informação


Aviso: Não aconselhável a pessoas facilmente enojáveis.

Esta noite adormeci tarde. Curiosamente, quando estamos mais cansados descansamos pior. É um ciclo vicioso, que apenas pode ser invertido com persistência. Após meia dúzia de pesadelos, acabei por acordar às 5 da manhã cheio de frio. No virar e revirar do sono, tinha destapado a parte esquerda do corpo. Ao tocar-lhe, parecia coisa de morto, tão frio que estava.

Tapei-me e fechei os olhos com muita força, como que a chamar Morfeu. Tentei ignorar a dor de cabeça e o frio que me atormentavam, até porque debaixo dos cobertores logo aqueceria. Porém, nunca conseguiria adormecer: tinha o nariz entupido! Como o fio do pensamento estava completamente emaranhado no sono, peguei no meu Vicks Vapospray, e sem sequer me assoar antes despejei aquilo pela narina abaixo.

- Hellooo, sleepy boy? Primeiro assoas-te, depois usas o vaporizador como vaporizador, não é para espremeres o frasco todo!!!

Aquilo escorreu-me pela cara, e de repente era frio, dor de cabeça, sono, nariz entupido e Vicks vapospray a escorrer-me pela cara e em quantidades industriais no nariz! Saí da cama num pulo e lá me fui assoar, entre grunhos e resmungos. Lavei a cara e voltei para a cama. Com frio, dor de cabeça e sono mas sem nariz entupido nem Vicks vapospray. E, claro, ainda a resmungar...

Pronto, apeteceu-me partilhar...

15.3.06

Fazer a diferença



Eu gostava de mudar o mundo...

Um amigo disse-me que apenas me posso mudar a mim mesmo. Seja. Então, no mínimo, posso mudar somente o meu próprio mundo. Mas, se este incluir duas pessoas, já é uma a mais que eu.

Os pessimistas dirão ser uma gota no oceano; eu prefiro pensar na versão positiva da borboleta a bater as asas no outro lado do planeta.

Lost in Translation



Legenda: Air conditioning fixing using desenrascanço.

O dcg diz que para além da saudade, há mais uma palavra portuguesa que não se pode traduzir: desenrascanço.

Isso lembrou-me - e o Vasco Pulido Valente não me ouça! - de um texto de Clara Ferreira Alves que versava sobre uma outra palavra intraduzível: chulé. Perguntava ela qual seria a necessidade de um povo de ter uma palavra própria para o odor dos pés?

Já agora, como se dirá cunha em inglês?

14.3.06

Choro e ranger de dentes

Confunde-me a facilidade com que despimos a pele de civilizados. Por caricaturas, jogos de futebol ou outras rivalidades, cometem-se atrocidades. Mas se esses fenómenos ainda consigo entender (mas não aceitar), algo que me tira do sério é a política do "olho por olho, dente por dente".

Tenho para mim que o ataque de 11 de Setembro foi uma oportunidade perdida para o mundo contemporâneo. Tivesse o discurso do presidente Bush exigido justiça e não vingança, se calhar viveríamos num mundo bem diferente, para melhor. Mas não, na hora agá, o homem prometeu vingança, assim mesmo, vingança. Perdeu uma oportunidade de ouro. E deu um péssimo exemplo.

É um excepcional avanço civilizacional ter um sistema de Justiça que impeça a justiça popular e guarde, ainda que pouco mais que em princípio, espaço para a reabilitação dos criminosos. Aqui tenho de pôr de lado a minha desconfiança quanto às pessoas de Direito - e à sua* capacidade incomum de defender tanto um ponto quanto o seu contrário, consoante os seus interesses - e tirar-lhes o meu chapéu.

Esclarecido que está que não acredito na vingança, restam-me dúvidas sobre o Perdão. Toda a vida fui ensinado a acreditar que devemos perdoar tudo e todos. Mas afinal, o que é perdoar? Será simplesmente a ausência de vingança, a não retaliação? Não é certamente o esquecimento. Também não me parece que seja confiar, ou dar uma segunda oportunidade. Perdoar é apagar a dor que se sente no coração? Pode-se perdoar quem não está arrependido?

Não sei o que é o Perdão.

* Salvo seja, que cada um é como cada qual.

Análise Complexa


Onde encontrar mais tiras engraçadas.

13.3.06

Nouvelle cuisine

Alguém é servido?
(preparação e apresentação: /me; foto: amigo A.)

A realidade e o reflexo


(obrigado, A.)

12.3.06

Pedofilia

Quando era miúdo, lembro-me de adultos que me deixavam desconfortáveis. Era algo intuitivo, que não entendia, mas que me fazia receá-los. A forma como estranhos me olhavam, as atitudes de um determinado professor, alguns gestos ansiosamente amigáveis por parte desta ou daquela pessoa confundiam-me.

Aos 11 anos, uma abordagem explícita - mas mal sucedida - perturbou um pouco a minha inocência. Apesar de ter entendido o que se passou, não quis ou não pude pensar sobre isso, deixando as perguntas para mais tarde. Quando chegou a altura de me perceber a mim, falando com outras pessoas, cheguei à conclusão que a percentagem de pessoas vítimas de pedofilia, consumada ou tentada, é enorme.

Agora que olho para o passado, interrogo-me se esses adultos que me deixavam desconfortáveis seriam também pedófilos, ou se se sentiriam atraídos por crianças/adolescentes. Seria a minha imaginação delirante, ou o mundo é mesmo um local perigosíssimo para os mais novos?

11.3.06

The internet is for...

As coisas que se encontram por ...

Barragem


Na minha escola, quando chovia, a água desenhava sulcos superficiais no caminho de areia, pelos quais corria. O divertimento, nos intervalos, era construir pequenas barragens de areia que impedissem a água de prosseguir. A luta era inglória, claro, mas por uns breves instantes ilusórios, éramos os senhores da água, pequenos domadores da natureza. O suficiente para compensar as meias molhadas na aula seguinte.

Na altura, via a minha vida como uma série de barragens de areia, que eu procurava manter. Pressentia já que a chuva acabaria por vencer... Nunca poderia manter todas aquelas barragens invioladas, principalmente quando via aumentar o volume de água.

A percepção da inevitabilidade, embora me assustasse, não mudava nada. Apenas procurava ganhar tempo. Sabia que mais cedo ou mais tarde, a água romperia uma barragem. E esse seria o ponto de viragem, com o qual não saberia lidar. Sempre tinha sido perfeito, nada podia falhar. Então corria a reforçar esta e outra barragens, num omnipresente receio de ver tudo desmoronar.

Eram as notas, a família, a religião, a sexualidade, tantas coisas. Sofre-se quando se quer controlar tudo, como se isso fosse possível. Ainda dei o meu melhor, mas um dia a água ganhou. É inútil lutar contra o que tem de ser. Nessa altura, desisti de mim, só para muito mais tarde me recuperar. Gradualmente mudei por fora, enquanto por dentro ardi, para das cinzas me ir refazendo. Não seria possível de outro modo.

Agora que tenho barragens de betão e controlo os fluxos com as comportas, em vez de tentar impedir o natural curso da água, é raro haver inundações ou secas. Mesmo assim, às vezes volto ao mesmo. Hoje reencontrei uma pessoa que me magoou muito no passado. Por largos minutos, desorientei-me, e ao tentar lidar com essa barragem, negligenciei as outras. Mas já está tudo resolvido. Agora, é só limpar a lama que ficou.

10.3.06

Confissão



Preferia ser hetero.

Não foi por falta de tentar...

9.3.06

O drama do armário



- Eu quero-te contar uma coisa, mas prometes que não vais levar a mal? Promete!

- Tu deixavas de gostar de mim se eu fosse um assassino?

- Eu já tentei contar-te muitas vezes, mas nunca consegui!

- Não é justo não te contar, mas se calhar até preferias não saber.

- Pronto, esquece, também não é nada de importante.

- Deixavas de me falar se tivesse SIDA?

- Não, não fiz nada de mal! Quer dizer, se calhar vais achar que sim. É algo sobre mim, não sobre o que faço, mas o que sou, ou como sou.

- Quero-te contar mas não consigo!

Olá, eu sou o /me e gosto de homens.

É tão complicado o coming out* para amigos... Às vezes já nem é de não saber como vão reagir. É que o segredo acumulou pó e anos, e há remorsos de não ter contado antes. Seria justo. Depois há todas as situações do passado: as noites dormidas no mesmo quarto, abraços, a história sobre a Luísa que afinal era Luís. Como explicar que nunca houve segundas intenções, que aquilo era a sinceridade possível, que nunca deixei de ser eu apesar de nunca ter sido inteiramente eu, que a amizade apenas tem a crescer?

Depois, quanto melhor é o amigo, mais difícil é. A amizade pode já ser tão boa que não se pede mais nada. Resta é a obrigação de ser sincero e a certeza de que é um passo necessário. Mas é tudo tão pouco fluido, tudo tão confuso, são tantas as razões para esconder e em simultâneo tantas para revelar. É uma arte escolher o momento em que a mentira inicialmente necessária deve ser desmontada.

No caso do meu melhor amigo, contei-lhe o ano passado. Ele reagiu com a dignidade e afecto como sempre se comporta. Quem estava em falta era eu, porque ele já merecia saber - e tenho noção disso. Mesmo assim, o processo é lento, é difícil mudar o registo que se tem com uma pessoa. Fui-lhe contando as coisas por alto, mas é tão terrivelmente difícil ir para além disso. Nisso, os medos e preconceitos têm sido inteiramente meus. Do lado dele, apenas amizade.

Mostrei-lhe hoje este meu blog. Novamente, reagiu como já sabia. Sinto aquele misto de nervosismo e sensação de alívio. A minha vida vai-se unificando, o que só pode ser bom.

Como já disse antes, há amigos que podemos tomar por garantidos, e ainda bem. Mesmo que às vezes, como tenho feito, precisemos de muito tempo para lhes dar o que é devido.

* as frases que escrevi em cima são a título meramente ilustrativo!

Pulso



Num texto recente, descrevi como, sem razão aparente, caí da bicicleta e magoei o pulso da mão direita.

Ora para quem usa a bicicleta como meio de transporte todos os dias há mais de dois anos, cair sem justificação é humilhante. Atenta contra a minha virilidade! Infelizmente, na impossibilidade de nomear insípidas comissões de inquérito (que, como prova Camarate, também não serviriam de muito), tive de me resignar: não sou suficientemente homem para me manter na bicicleta.

Não imaginam o drama, o horror, a tragédia, a baixa auto-estima e a conta elevada do psicólogo. Perder o cabelo ou ser despedido ainda é de homem, mas saber que tinha caído da bicicleta sem que houvesse gelo ou areia e sem sequer ter sido empurrado por uma rajadinha de vento fazia-me cabisbaixo e triste.

Hoje, porém, volto a erguer a cabeça! Ao pegar pela primeira vez na bicicleta após o trágico acidente verifico que a roda traseira estava completamente vazia. Um furo! Eis a razão cientificamente comprovada para o que aconteceu. Certamente que a falha na câmara de ar provocou um desequilíbrio no sistema homem-bicicleta que culminou na posterior perda de controlo e espalhafatosa queda.

A minha honra de macho latino está salva! E melhor ainda, tenho uma boa justificação para usar aquelas bandas de pulso da nike (a minha é preta), que acho bué sexies.

Insensibilidade

Ainda menino, fui operado ao apêndice. Na primeira vez que voltei a andar na rua, ainda dorido mas sem que isso fosse exteriormente visível, uma velha apressada deu-me um encontrão, à saída da missa. Foi a vingança da beata, que por uma vez estava em melhores condições que o jovem.

Mais crescido, num período em que estava mergulhado numa depressão muito profunda, um professor dirigiu-se a um grupo que ficou para lhe fazer perguntas: "há alunos que se acham muito inteligentes. Pensam que não é preciso ter atenção nas aulas, só que depois apanham uma surpresa no segundo exame. A nota do primeiro não garante nada". O homem, que me fitava directamente nos olhos enquanto dizia isto e se referia apenas a mim, não imaginava que para mim a dificuldade já não era estar atento, mas sim viver. Era-me impossível controlar a ansiedade e dor que sentia, quanto mais pensar em definições e demonstrações.

As aparências enganam. E se é fácil dar por ela quando a fazem a nós, imagino a quantidade de vezes que seremos elefantes nas lojas de porcelanas alheias...

Paridade

Li aqui que foi "[...] com a Constituição na mão que José Sócrates justificou ontem a necessidade da lei [da paridade para] promover a igualdade." Segundo o nosso primeiro ministro, "A Constituição manda que haja esta lei. Não diz que devemos dar tempo ao tempo".

Ainda bem que o argumento de uma determinada questão não ser prioritária não vale para todas as discussões políticas. A Constituição, tal como os discursos do Presidente da República, serve para o que se quer e quando se quer. Nos outros casos, chuta-se para canto. Ou se calhar, temos um primeiro-ministro que não precisa de discutir as questões: a forma correcta de interpretar a Constituição é a dele, ponto final. Habituem-se.

Posto isto, senti a necessidade de ir ver a lista de ministros. No total de 16, apenas 2 são mulheres. Curioso como os políticos são pródigos em actuar contrariamente ao que defendem.

Na minha opinião, este é mais um assunto que está a ser tratado pela rama. Se há discriminação ou desigualdade, que se elimine. Agora promover artificialmente carreiras como as de Edite Estrela, Maria de Belém ou Elisa Ferreira, no, grazie. Eu até prefiro ser mandado por uma mulher, mas se for pelos seus lindos olhos e não pelas suas capacidades, não.

Por outro lado, há ainda na nossa sociedade uma mentalidade discriminadora. Eu tinha uma colega de curso bem melhor do que qualquer rapaz e os professores diziam sempre que ela era muito trabalhadora, enquanto os melhores entre os rapazes eram muito inteligentes. E se ela era mesmo muito trabalhadora, em inteligência ficava anos-luz à frente de todos os outros rapazes.

Dito isto, acho que seria muito mais eficaz (e cumpridor da Constituição, eheh) se para o próprio governo tivessem sido escolhidas as pessoas mais competentes, em vez de serem aplicados os habituais critérios. Certamente que haveria muito mais mulheres. Também gostava de ver os tais projectos do PCP que prevêm "medidas de reforço da participação cívica e política das mulheres" e estabelecem "um novo regime de prestações familiares e um subsídio social de maternidade e paternidade".

8.3.06

Would you light my candle?

Não vale a pena mentir. Queremos o pacote completo: acordar nos braços de alguém, encostar a cara ao seu peito, ter o pequeno almoço na cama, começar o dia de trabalho com esse Amor. Receber uma mensagem ou um telefonema no meio do dia, chegar a casa e ter quem abraçar. Partilhar ideias, preocupações e projectos. Tomar banho juntos, fazer um jantar especial, dar as mãos no cinema.

Depois há o outro lado, as discussões, o trabalho que dá, ultrapassar obstáculos interiores e exteriores, negociar e renegociar tudo. Idealmente, tudo flui com naturalidade, mas na maior parte dos casos não é assim: o Amor exige uma disponibilidade psicológica enorme, de parte a parte. O mais fácil é que todos os esforços caiam por terra...

É frustrante dar tudo e acabar por esbarrar contra barreiras intransponíveis nos momentos mais vulneráveis. Tanto assim que muitos desistem de investir. A sofreguidão de que padecem cedo se torna em secura. Erguem-se as defesas, para não mais sofrer. Como se desistir dos sonhos fosse algo senão sofrer.

A vida é triste quando é condicionada pelo medo. Medo de ser assaltado, medo de falhar os objectivos, medo de sofrer... A cautela exige-se, mas quando esta manda matar os sonhos, castra do que mais importante há em nós. Gosto de realismo, mas não de resignação. Prefiro sofrer a tentar que fingir que não sinto. Cada um sabe de si, e há muitas formas de Amar... Mas quando para não sofrer se deixa de dar aquilo que se tem a dar, então, senhores, é crime!

A resignação é um crime, ou o caminho que leva à mesma é que o será. Não sei... Mas é feia e dói e não gosto dela. Recuso-me! A dor deve apenas servir para melhor apreciar as coisas boas da vida, nada mais!

Por isso mesmo, quero acreditar num Amor que não acaba. Amar como se não fosse sofrer, dançar como se ninguém estivesse a ver. E por isso, não consigo aceitar uma relação que saiba ter, à partida, os dias contados por algo que não o inevitável fim da vida. Nunca poderei dar o que tenho em mim, apenas será consolo, não Amor. E eu quero Amar, não quero ser consolado. Tenho tanto para dar, e tento saber receber, não me quero distrair com o acessório. É tudo ou nada, não quero o meio termo, nem quero crer que este é o único que posso ter. E acredito que, lá no fundo, somos todos assim. Por mais que disfarcemos com anos e anos de carapaças e defesas.

Queremos Amar e ser Amados, dar o que de melhor temos e receber o melhor de outra pessoa. Apenas dificultamos tudo quando nos anestesiamos.

Acrescentado mais tarde: Eu não preciso, para entrar numa relação, de ter a certeza de que esta seja para a vida. Isso não existe. Preciso é de ter uma esperança minimamente fundada de que aquela pessoa poderá construir comigo uma relação de Amor para o resto da vida.