Li aqui que foi "[...] com a Constituição na mão que José Sócrates justificou ontem a necessidade da lei [da paridade para] promover a igualdade." Segundo o nosso primeiro ministro, "A Constituição manda que haja esta lei. Não diz que devemos dar tempo ao tempo".
Ainda bem que o argumento de uma determinada questão não ser prioritária não vale para todas as discussões políticas. A Constituição, tal como os discursos do Presidente da República, serve para o que se quer e quando se quer. Nos outros casos, chuta-se para canto. Ou se calhar, temos um primeiro-ministro que não precisa de discutir as questões: a forma correcta de interpretar a Constituição é a dele, ponto final. Habituem-se.
Posto isto, senti a necessidade de ir ver a lista de ministros. No total de 16, apenas 2 são mulheres. Curioso como os políticos são pródigos em actuar contrariamente ao que defendem.
Na minha opinião, este é mais um assunto que está a ser tratado pela rama. Se há discriminação ou desigualdade, que se elimine. Agora promover artificialmente carreiras como as de Edite Estrela, Maria de Belém ou Elisa Ferreira, no, grazie. Eu até prefiro ser mandado por uma mulher, mas se for pelos seus lindos olhos e não pelas suas capacidades, não.
Por outro lado, há ainda na nossa sociedade uma mentalidade discriminadora. Eu tinha uma colega de curso bem melhor do que qualquer rapaz e os professores diziam sempre que ela era muito trabalhadora, enquanto os melhores entre os rapazes eram muito inteligentes. E se ela era mesmo muito trabalhadora, em inteligência ficava anos-luz à frente de todos os outros rapazes.
Dito isto, acho que seria muito mais eficaz (e cumpridor da Constituição, eheh) se para o próprio governo tivessem sido escolhidas as pessoas mais competentes, em vez de serem aplicados os habituais critérios. Certamente que haveria muito mais mulheres. Também gostava de ver os tais projectos do PCP que prevêm "medidas de reforço da participação cívica e política das mulheres" e estabelecem "um novo regime de prestações familiares e um subsídio social de maternidade e paternidade".
7 comentários:
Concordo contigo. Aqui em Espanha também anda em voga o tema. Com uma diferença: O Governo de Zapatero é paritário desde o início.
O argumento fundamental dos que se opõem às quotas é que devem ser escolhidos os melhores - não os que são deste ou do outro género.
O argumento esquece que, em teoria, é esse o regime actual - mas que, na práctica, são escolhidos predominantemente homens e, de certo, muito para além da aplicação REAL do princípio "os melhores".
Vivemos numa sociedade em que as mulheres têm muitas desvantagens comparativas quando se trata de carreiras profissionais ou políticas. Na minha opinião, a principal é a desigual divisão das tarefas domésticas e de educação dos filhos. Tenho um grande pó aos maridos-de-pantufas-a-ver-televisão; e não compreendo como mulheres aceitam viver com tais monumentos de egoísmo. Mas há outras, como a desconsideração social, que podem ser combatidas eficazmente pelas quotas. Eu defendo a introdução de quotas por géneros em diversos sectores; política, por exemplo.
Mas sejamos sérios: Se se impõe 1/3 de CANDIDATAS, ficará tudo na mesma, porque a maioria delas ficará em lugares não-elegíveis. Estabeleça-se 1/3 das ELEITAS, com arredondamento para o inteiro mais próximo por defeito, e sendo a sanção negativa o não recebimento do subsídeo da República ao partido. Ah!, seria remédio santo: nem um se atreveria a ter menos deputadas que o exigido.
Não conheço os projectos de lei do PCP. Na mimha opinião, o PCP tem posições muito correctas quanto à discriminação LABORAL por género. Falha em OUTROS tipos de discriminação por género ( por exemplo, no mundo da política ).
Nisto, enquanto não nos sentirmos todos mulheres, haverá muita coisa errada.
Zé Ribeiro.
Zé Ribeiro,
Eu acho esta questão interessante. E penso que concordamos em duas coisas:
1- devem ser escolhidos os melhores, independentemente do género.
2- a percepção de quem são os melhores é injusta (como acho que demonstra o meu exemplo sobre a minha colega).
Eu não sou capaz de dizer linearmente não a um sistema de quotas, mas como sempre, quando a questão é colocada num banal sim/não, perde-se o que realmente é fulcral. Como tu dizes, sejamos sérios.
Frustra-me muito que esta, como qualquer discussão, não seja colocada a um nível onde se possa progredir. Não me importo de discordar, de discutir, de mudar de opinião quando a outra pessoa tem a mesma atitude e apresenta argumentos inteligentes (como os teus), mas quando se baixa à "peixeirada" da política, perde-se tudo.
De resto, se concordamos nas premissas (pontos 1 e 2), apenas falta concordar na melhor forma de resolver o problema. Até admito que as quotas possam ser parte da solução, embora por princípio não me agradem (acho humilhantes...) e achar que supõem mais digna a profissão de deputado que de cabeleireira (para onde não se exigem cotas mínimas para homens).
Não /me, eu não concordo inteiramente com o ponto 1.
Homens e mulheres são iguais ( nesta parte do mundo ) em direitos. Mas homens e mulheres são muito diferentes em tudo: na maneira de pensar, de sentir, de se relacionarem, de valorarem isto ou aquilo na vida ( falo em termos médios, claro ).
É bom para a sociedade que essa diversidade esteja presente em certas instituições "sensíveis": forças armadas, aparelho judicial, sistemas de ensino e saúde, ...
Aqui defendo 1/3 ( mulheres mais capazes ) + 1/3 ( homens mais capazes ) + 1/3 ( mais capazes sem atender ao género ).
Que fiquem os machões descansados: com a tendência actual dos homens para a burrice e das mulheres para o estudo, um tal sistema globalmente favoreceria os homens ...
Zé Ribeiro.
Zé Ribeiro,
Reconheço que és capaz de ter razão! :)
Ao meu ídolo, a Emily Noether (1882-1935)
(que onde estiveres possas sorrir de cada vez que uma de nós arranja emprego).
Não sou feminista porque não entendo o que isso possa dizer, como tudo na vida, acho que houve uma fase temporal para esta palavra. Sou contra as quotas para nós, mulheres. Quero competir com os homens em pé de igualdade mas assumo, por outro lado, que é muito bom entrar numa conferência e saber que me tiram mais fotografias do que aos meus colegas homens LOL! Numa profissão dominada por homens, gosto de madeixas, anéis e de tudo o que me distingue porque sou uma mulher, mesmo fazendo uma coisa de homens sou uma mulher. Disso eu não abdico.
Reza a História (e se esta merece maiúscula!) que Noether dava as melhores palestras do seu tempo. Mexia os braços, saltava, acabava as palestras de “fraldas” de fora. Falava apenas de Matemática. Com a paixão que poucos outros tiveram. Filha de um Matemático, só teve emprego no fim da sua vida. Amiga pessoal de Einstein, não teve lugar permanente senão quase no fim da sua carreira e numa Universidade feminina, sem o prestígio das coisas que têm prestígio. Chegou a ensinar sem receber salário. Não exigiu nem pediu quotas. Nem emprego tinha. Mesmo assim, só há poucos anos uma mulher entrou para o corpo docente de Matemática em Princeton. Nunca a medalha Field foi dada a uma mulher. Mas hoje, certamente a Noether teria emprego. E isso é bom.
Aliás, só uma mulher para descobrir os Anéis de Noether!
\me, desculpa, entusiasmei-me!
AR
AR,
não peças desculpa! Gosto muito de ler o que escreves!
E haja quem escreva um texto digno do dia das mulheres (mesmo que no dia seguinte) neste blog!
Enviar um comentário