18.3.06

Sacos


Quando era puto, media o grau de civilização de uma cidade pelo número de Macdonald's e número de escadas rolantes que esta tinha. Em Londres, aprendi a substituir o critério quantitativo das escadas rolantes pelo facto de as pessoas cumprirem a regra "stand on the right, walk on the left", deixando sempre o lado esquerdo para os mais apressados. Quanto ao número de Macdonald's, ganhei juízo (e, creio, bom gosto). Agora para além do critério comportamento-nas-escadas-rolantes, tenho outros, igualmente subjectivos. Demasiados para descrever num só texto. Bom, nem tanto, mas o Sol brilha lá fora e tenho de o ir aproveitar!

Hoje fui comprar um livro de banda desenhada japonesa, uma manga chamada Rorouni Kenshin. É uma banda desenhada que se lê da direita para a esquerda, e como tem muitas particularidades próprias da cultura japonesa, satisfaço a criança em mim (que anda sempre esfomeada de atenção!) sem parecer muito infantil. É assim como colocar um escorrega num prédio de escritórios de advogados e chamar-lhe exercício de segurança para a eventualidade de incêndios. Adoro imaginar os pobres engravatados a morderem-se todos para não exteriorizar o grito weeeeeeeeee.

O rapazito da loja já me conhece. Da primeira vez que lá comprei um livro, ele perguntou-me se queria um saco de plástico ou de papel. Respondi-lhe que queria o que poluísse menos. Ele não sabia qual era, nem eu. O de plástico pode reutilizar-se, o de papel depende. Ficou combinado que começaria sempre a levar o meu próprio saco. Hoje esqueci-me eu, mas lembrou-se ele, e puxou-me as orelhas com as palavras e um sorriso. Pediu-me para que da próxima vez eu leve dois sacos, um para transportar os livros, o outro para eles reutilizarem na loja.

Já nos supermercados nos fazem pagar os sacos que usamos. O ambiente agradece. Afinal, que custa levar um saco de casa? Esta conta para os meus critérios de grau de civilização...

Graças ao M., este blog já tem música. Não começa automaticamente, quem a quiser ouvir tem de carregar no play, na barra à direita.

13 comentários:

Assumida Mente disse...

Escorregas nunca vi, mas acredita /me, que a gravata não inibe, de modo nenhum, os advogados de fazerem, no seu escritório, as maiores criancices imagináveis... no melhor e no pior sentido da palavra!...

/me disse...

No escritório acredito, Assumida Mente, mas em público? (tens de me desculpar o estereótipo :P)

LeGourmet disse...

Também acho muito civilizado o facto de a música não começar automaticamente!

Tongzhi disse...

Estou inteiramente de acordo com o queer gourmet. Por vezes, quero abrir os blogs la na faculdade e, se tenho o som ligado, la fica tudo a saber que ando a "pastar"
lololololo

Mikael disse...

Parabéns pela adição da música e pela escolha o M. deve ser um gajo muito porreiro e civilizado por ter escolhido não iniciar a música automáticamente. Se bem que agora quem fica com os louros és tu, mas de certeza que ele não se importa :)

Gostei do post. Pôs-me a pensar nas primeiras vezes que visitei outros países e em que ficava abismado com a ordem das coisas. Mas depois cresci e deu-me para analisar esses comportamentos. No caso dos alemães e ingleses (que são os que conheço melhor) ele durante o dia são extremamente ordeiros. Não passam num semáforo vermelho, não andame rráticamente pelo passeio, não ocupam o espaço todos nas escadas rolantes e dispôem-se tais sardinhas em lata quando andam de elevador, mas sempre sem tocar nas outars pessoas. Contudo, quando chegam as 17h da tarde passam-se. Parece que a depressão desaparece e são possuidos por demonios embriagados. É só vê-los bebados nos bares e nas ruas, a falarem alto e a caminhar aos S's. E então quando há dias de festa (como quando apanhei o Carnaval de Nottinghill) são 24 horas de embriaguês e loucura.

Acho engraçado estes comportamentos bipolares. Talvez para se ser tão ordeiro em algumas circunstâncias é necessário que noutras se seja completamente insano.

Abraço

dcg disse...

É verdade /me, ao fim de semana pára tudo um bocado! Eu incluído claro. Mas este fim de semana até fiz dois posts. Já não foi mau! :)

/me disse...

Queer Gourmet, também não gosto nada quando a música começa sem "pedir licença". Ninguém deve ser obrigado a ter de ouvir as músicas de que os outros gostam! E é como disse o Tongzhi, ninguém precisa de saber que páginas visito...

Mikael, o meu amigo M. é mesmo muito porreiro e civilizado e mais ainda. Mas eu não colocaria música se esta começasse automaticamente. E ainda tenho direito aos louros de escolher bem os amigos!
Os holandeses também são bipolares... E maníacos, no outro dia quase andavam à pancada, porque um não deu prioridade ao outro, que andava do lado direito da rua. E iam ambos a pé...

Dcg, eu reparei. :)
Ainda bem que existes tu para manter os serviços mínimos da blogoesfera. :D

big ZZ, eu adorava a série de TV! Aliás, foi por causa de ter visto esta que agora compro os livros. :)

Anónimo disse...

O escorrega no prédio de escritórios de advogados faz pensar ...

Na semana passada fui ao oculista buscar as caixinhas de lentes para os próximos seis meses. No átrio, que é grande, estava um escorrega para putos ( há seis meses não estava ). Para os clientes crescidos e para os empregados - népia. Claro: somos todos respeitáveis. Então, tratando-se de advogados ... ou gestores ... ou o pessoal da política ...

Mas é um erro. Quanto mais conformes ao padrão são os nossos comportamentos ( públicos, que é onde interessa seguir o padrão ), mais tendemos ao desvio na vida privada: é o Princípio dos Vasos Comunicantes aplicado ao espírito humano.

O establishment britânico é uma fonte inesgotável de tais exemplos. O último "retentissant" de que me lembro foi nos últimos anos do Major como PM. Um MP tory, respeitabilíssimo, pregoeiro da "Revolução Moral", membro destacado de um dos Conselhos laicos da Igreja de Inglaterra, foi encontrado morto, num apartamento em Whitehall, nuinho em cima da mesa da cozinha, sufocado por meias de senhora. Os sinais de orgasmos eram iniludíveis.

Nada de novo sob a rosa do Sol: o sufoco como meio de excitação sexual masculino é bem conhecido, bem documentado, muito antigo e, em certas culturas, largamente praticado ( o "Império dos Sentidos" não resulta só da imaginação do Oshima; tem toda uma tradição por trás ).

Tampouco faço juízos morais na matéria: havendo consensualidade, nada tenho a dizer. Há o problema das ofensas físicas e psíquicas. Mas eu acho que - se ninguém depende de nós - podemos fazer o que quisermos conosco próprios.

O que me entristece e faz ter muita pena do pobre deputado é pensar que ele passou uma vida inteira a ser diferente do que achava que devia ser.

Se houvesse escorregas para adultos espalhados pela cidade e os usássemos, talvez as coisas fossem mais fáceis.

E, enquanto a ebulição do teu espírito descarregar com a leitura de BD japonesa infantil, estás seguro. Também há BD japonesa homoerótica de grande qualidade; e também estarias seguro. A minha visão da pornografia está longe de ser globalmente negativa ...

Um abraço,
ZR.

Anónimo disse...

Não tenho nada contra Chopin: eu gosto muito de mel, mas, em excesso - enjoa.

Daqui a uns dias pões qualquer coisita menos enjoativa, ora pões?

ZR.

/me disse...

Zé Ribeiro, pus outra música, mas também é calmita... :)

Tia Loira, tens de contar mais histórias dessas. :P

/me disse...

Tens de clicar na setinha que aponta para a direita. Fizeste isso? :)

Anónimo disse...

Ah, esta é melhor!

( O meu problema não é ser calminha. O meu problema, em Clássica, é entre Mozart e Beethoven, preferir Bach. )

ZR.

/me disse...

Nem de propósito! Tenho uma de Bach na manga. Para daqui a uns dias. :)