31.3.06

Emoções

Se forem ali (mas voltem), poderão ler um texto sobre como lidar com as emoções, que cita o psicoterapeuta Jaime Graça Machado:

Bem disposto?
– Sempre!Também há pessoas que aprendem a suprimir e a negar os seus sentimentos através de distanciamento e insensibilização em relação a eles. Autodesligam-se dos seus sentimentos sem, contudo, terem consciência disso. Assim, quando essas pessoas são recompensadas socialmente por mascararem as suas emoções, acabam muitas vezes sentindo-se não ouvidas, alienadas, zangadas e deprimidas, sem saberem porquê. As suas vidas podem até parecer correr às mil maravilhas, mas elas sentem-se vazias, não preenchidas. Isto porque estão separadas das suas próprias emoções.

Que fazer com as emoções?
O primeiro passo na gestão das nossas próprias emoções e sentimentos é aceitá-las sem juízos de valor nem de culpabilidades. Ao aceitar as suas emoções e sentimentos está também a aceitar uma parte de si, cheia de força de viver, cheia de sabedoria sobre si próprio e sobre a qualidade das relações que estabelece com os outros, em especial de quem mais ama."


O tema é fundamental. Todos queremos ser felizes, mas às vezes é difícil gerir o que se sente. Prefiro ser cauteloso e não ter grandes certezas neste campo. Quando era miúdo barrei os sentimentos. Envergonhava-me o meu descontrolo; chorava copiosamente para me estar a rir cinco minutos depois. Excesso de empatia? Talvez, mas onde a palavra chave era excesso. Não era sustentável.

Fiz um esforço tremendo para me controlar. Tão grande que pensei ter secado a fonte dos sentimentos. Havia um turbilhão por dentro, pressentia-o, mas demasiadamente profundo para que o conseguisse sentir. Fui de um extremo ao outro. Passei de muito sensível a irritantemente perfeito, com um auto-controlo enorme e inconsciente, nalgumas áreas. De vez em quando, assomava em mim uma ponta de tristeza, insinuante, e sabia estar a viver por procuração. Mas, perdida a chave da cela onde tinha encerrado os sentimentos, já nada dependia de mim.

Acabei por pagar a factura, mais tarde. Numa fase em que a maior parte das pessoas já tinha construído a sua personalidade, uma depressão arrasou a minha. Claro que nem tudo foi abaixo, não se deixa de ser quem se foi, mas tive de reaprender a sentir, a sorrir e finalmente descobrir como lidar com os sentimentos. Foi uma oportunidade única - pude escolher, em grande parte, só de uma vez, quem e como queria ser - mas com um preço elevado. Com o tempo, aprendi a deixar fluir os sentimentos sem me permitir ser dominado por eles. Agora sei suster uma dor ou alegria dentro de mim e ir libertando-a aos poucos. Consigo abrir as portas da barragem quando necessário e apenas permitir a água esgotar-se às gotinhas quando deve ser.

É curioso, o conflito entre a razão e a emoção. Somos animais, não há como mudar isso - sentimos porque sentimos, é da nossa natureza - mas ao mesmo tempo o que nos fez subir na escala da evolução é a inteligência. Não podemos escusar-nos a usá-la, como moderação dos sentimentos, ou melhor, como doseador. Acredito sinceramente que podemos induzir em nós mesmos estados de felicidade ou estados depressivos. É preciso ser bom gestor. Deixar fluir as emoções negativas e aprofundar mais as positivas. Por essa razão, evito músicas, filmes ou livros que me possam puxar para baixo quando não me sinto seguro. Protejo-me como posso. Mas já não me impeço de sentir.

Na minha opinião, o meio termo é a melhor solução. Todos temos direito a sentir alegria, tristeza, gratidão ou mesmo raiva. Reconhecer o que se sente é necessário. Mas é preciso lidar com os sentimentos. E isso pode ser muito complicado. A nossa melhor arma, a inteligência, pode ser o nosso pior inimigo. É só uma questão de saber usar o que temos à nossa disposição. Há quem consiga instintivamente fazer a gestão dos sentimentos, mas creio que o melhor caminho é o auto-conhecimento.

7 comentários:

Miguel disse...

mmmm...
Compreendo..as nossas opiniões poderão derivar da nossa experiencia de vida.
Evitar sofrer (como fugir a alguns filmes por exemplo) deriva do uso da inteligencia, ou do apurado sentir?
Sentir, sentir sempre, não nos pode levar a ser "vidros de cheiro". Da forma como o mundo é andaríamos quase sempre a chorar. O que não podemos é viver igonrando a primazia do senti como se andássemos anestesiados.
Sintamos... para o bom e para o mal...e façamos depois uso da inteligencia para nos guiar os sentidos.

/me disse...

Se calhar deriva também do apurado sentir. Evito alguns filmes, tal como evito acompanhar as tragédias todas que vêm na imprensa. Já me basta todos os dias passar por um mendigo e não lhe oferecer mais que um sorriso.

Concordo contigo, Miguel. Não podemos viver ignorando a primazia do sentir - muito bem dito!

Miguel disse...

Além disso ;-) em tempos tina lá escrito (http://voualiejavenho.blogspot.com/2005/12/assunto-encerrado.html) apenas o seguinte:
"Por vezes infiro que devia ser mais razão e menos paixão. Depois sinto que não."
Apenas falhei no titulo que era "ASSUNTO ENCERRADO".
;-)

/me disse...

Eu lembro-me dessa frase: é épica! Um monumento! :)

NaSacris disse...

Um tempo atrás, a leitura do livro "Vai Onde Te Leva Coração", da conhecida escritora italiana Susanna Tamaro ajudou-me a integrar na minha vida todo esse turbilhão de complexidades de que falas no teu post. Trabalhar e saber manejar os nossos sentimentos é um campo de trabalho que nos "hipoteca" a vida toda. A condição humana é muito complicada. Somos pessoas em construção.
Fazer tudo para viver sem vergonhas (o que não significa viver sem ética), sem evasivas, admitindo erros e fracassos e assumindo sentimentos que facilmente levamos reprimidos é, sem dúvida, um caminho de superação.

Anónimo disse...

A minha batalha diária... :))

NaSacris disse...

Um erro crasso que muda o sentido do título do livro que citei no meu comentário anterior e que só agora me dou conta. Corrijo: "Vai Onde Te Leva O Coração"