27.12.05

Na merda

Vi o Crime do Padre Amaro com um amigo e a irmã dele. Apesar das prestações de alguns actores deslocados (cinema não se faz como se fosse teatro) gostei. Sim, a história não tem nada a ver com a original, sim há muitos elementos deslocados, como chamarem bispo ao cardeal (chocou-me, mas talvez seja por simpatizar muito com o cardeal Policarpo), enfim, há algumas coisas que não batem certo. Mas havia actores muito bons - gostei da actriz negra novita - e nuances suficientes para divertir. E os meus amigos que me perdoem, mas não vi nenhuns sinais de anti-clericalismo. Há padres bons e padres maus, mas aquela história servia era para entreter. Achei pena foi a forma como se resvala tantas vezes para a caricatura, mas isso é um mal português. Acho que evitamos assim a realidade.

Saí do filme, despedi-me dos meus amigos, e fiquei só sob a chuva. Convidei um outro amigo para sair mas era tarde. Corri a minha lista de contactos de telemóvel. Os amigos são poucos e precisam de dormir. Só a internet não dorme, mas essa apenas chegou agora, nesse momento estava longe, presente só mesmo a chuva. Não me deprime, a chuva, antes me consola, antes deixava-me pensar que ela chorava por minha vez. Agora não preciso, e por isso chora comigo, sempre me consola. Sabem, dói-me não saber dele, onde está, como está, não o poder consolar. Sim, estou a ser lamechas, mas sou assim, é o meu sentir, nada dói tanto como a distância forçada.

Uma das minhas deliberações de ano novo será sentir-me bem, hão-de ver, parecer feliz, que esse é o primeiro passo para se o ser. Mas agora é uma ferida aberta. Não só o termos acabado, mas a forma como o fizemos, os nomes que me chamou e as mortes que me desejou ressoam em mim. Ecoam os nomes que me chamei, as mortes que me desejei. A evidência do abismo seria enorme, não tivesse eu idade para ter juizo. Sei manter-me em lugar seguro, mas custa. E, como em tudo na vida, há um preço a pagar, só que uma regra do jogo é não perguntar qual.
Mas pior é a incerteza, o não saber dele. O centro da minha vida, a pessoa com a qual mais me importei durante tanto tempo, é-me agora um estranho. Pode ser da vida, mas é violento, muito violento, demasiado violento. E que vá à merda quem me quiser negar este sentimento.

É um vazio que ele cavou fundo. Há quem o preencha com "putarias". Outros com comprimidos. Outros fingem ignorar. Quanto a mim, preciso de algo bom para preencher o meu. Acho que só o tempo o trará.


Tenho tanto fogo na alma, tanta raiva e tanto amor no coração, tantas lágrimas nos olhos, e não sei o que fazer com tudo isso.

25.12.05

Feliz Natal

23.12.05

22.12.05

Mais um vídeo

21.12.05

Vou de férias

Sinterklaas



Sinterklaas é o Pai Natal, versão holandesa. Ou o Pai Natal a versão americana do Sinterklaas, não me meto nessas discussões. Vem da Espanha (curioso), acompanhado de Zwarte Piet's - literalmente Pedros Pretos - que são negros muito muito escuros que vêm de outro lado qualquer. Estes eram supostos ser os escravos ajudantes do Sinterklaas, mas o politicamente correcto foi corrigindo esta e outras pontas soltas, como os castigos corporais aplicados aos meninos maus por esta figura Natalícia.

Tradicionalmente, nas semanas antes da chegada do Sinterklaas e na noite de 5 de Dezembro, antes de irem para a cama, as crianças colocam os seus sapatos perto da chaminé da casa, com uma cenoura ou feno dentro deles, para o cavalo do Sinterklaas. Para além disto, cantam alguma canção de Sinterklaas. No dia seguinte, encontram algum doce na forma de chocolate ou outra nos seus sapatos no dia seguinte, supostamente atirados chaminé abaixo por um Zwarte Piet ou até (honra das honras) pelo próprio Sinterklaas. Porém, com o advento do aquecimento central, muitas crianças deixam os seus sapatos ao pé de radiadores ou até ao pé da porta da casa.*

Vou guardar para mim o que penso de colocar chocolates dentro de sapatos, tudo isso é de somenos, cada um com a sua tradição. A reter é o facto de muitos holandeses trocarem os presentes de Natal no dia 6 de Dezembro de manhã.

Este ano, nesse dia, ao chegar ao gabinete e à falta de melhor, disse "Merry Sinterklaas" ao meu colega. Ele retribuiu e perguntou o que é que eu tinha recebido esse Sinterklaas. A minha resposta:

- A breakup.

Tinha acabado com ele no dia anterior. Twisted.


* Parágrafo adaptado e traduzido do original aqui.

20.12.05

Why oh why?

Não sabia que o pai lhe tinha morrido em 2003. Quando sacou a foto dele da carteira, os meus colegas continuaram impávidos, como se falássemos de futebol. Nada a que não esteja já habituado. É gente de fazer pedra mármore parecer calorosa. Peguei na conversa, já que mais ninguém parecia estar interessado. Foi um homem interessante, o pai dele. Tinha ele 3 anos, uma alemã disse "que criança ariana tão pura". O pai cuspiu na cara da senhora, pegou na mão ao filho e saíu de lá. Noutra ocasião, apontou uma arma ao joelho do patrão, que lhe devia salários. O meu amigo contou-me isso e mais com o ar mais sereno, mas triste, do mundo. Mas via-se que tinha encontrado consolo nestas pequenas histórias.

Porque é que as pessoas são tão indiferentes ao sofrimento alheio?

Doentio





Destruiram o que restava do meu imaginário infantil...

A essência de um beijo

Hoje faria 11 meses desde que comecei a namorar com ele.
Foram 10 meses e meio recheados de emoções, em que tive de romper com imensas barreiras, essencialmente dentro de mim mesmo. Isto de escolher quem se ama independentemente do sexo da pessoa não é moderno nem antigo, é amor. Seria cómodo para muitas pessoas, e às vezes até para mim, se reprimisse o que sinto ou o tentasse direccionar apenas na direcção que me apontam. Mas ninguém tem o direito de me negar a felicidade, nem eu próprio. Amar é dar-se, importa assim tanto a quem se dá? O problema é quando há desigualdades, egoísmos, aproveitamentos. De resto, posso não gostar de alguém por ser gordo/a, feio/a, chato/a, burro/a, sei lá, mas não por causa do sexo. A muitos isto soará a modas, mas não. É amor. Quem quiser entender que entenda, quem não quiser aprenda a viver com isso. Que se pode dizer de alguém que se sente incomodado pelo amor (não confundir com sexo ou manifestações ostensivas)?

Enfim, faria hoje 11 meses. Não é muito, bem sei. "But it's a lifetime, in gay years", disse um amigo. Pura ironia, claro está. É triste a superficialidade, seja em que meio for, mas segundo um outro amigo, falta a cola da sociedade às relações entre dois homens ou duas mulheres. Como são recusadas, olhadas de soslaio, não é de esperar que sigam as regras dessa mesma sociedade. Não há a mãe a dizer "paciência, ninguém é perfeito, mas se gostas dele..." ou o pai a dizer "essa rapariga não é boa para ti", usando a sua experiência de vida. É um mundo apartado que se constitui, onde as regras se constroem do zero, sem sequer haver grande transferência de conhecimentos entre gerações (quanto mais não seja, pelo zelo com que se foram apagando registos históricos da homossexualidade). É a selva. Só pessoas com princípios muito sólidos e estruturados ficam à tona, o resto é arrastado por uma corrente que nunca chega ao mar. Cada um tem a sina que tem. É um sem fim de gente órfã de referências sólidas. Como não desenvolver tiques, quando a mulher é o modelo de quem ama um homem? Como não fingir um orgulho gay como resposta ao ódio irracional que muitos lhes guardam? Apenas com uma personalidade forte e princípios firmes. Mas não é fácil.

Produto dessa mesma selva foi a pergunta que ele me colocou: já curtiste com alguém? Perdão, rei morto, rei posto? Já se vê porque acabámos, se 10 meses não bastaram para ele conhecer o mais básico que há em mim... Adiante, salve-se o que houver a salvar.

Chego finalmente ao objectivo deste texto: falar de beijos.
Em toda a minha vida beijei 3 pessoas. A primeira enganou-me, a segunda enganei-me e a terceira pensei que seria a pessoa certa. Tudo isto apenas confirmou aquilo em que acredito: um beijo é uma arma poderosa e não deve ser usado sem certezas do que se faz. Pelo menos, não por mim. Um beijo é para mim uma promessa... Não é um casamento, claro está, mas abre portas de afectos que mais valia estarem fechadas se não for a sério. Magoa ser enganado com beijos, é mau enganar com beijos. Para mim é assim, beijar apenas se houver a possibilidade de ser uma pessoa com quem queira passar o resto da vida. Como a primeira e terceira pessoas que beijei. A segunda... foi um erro. Já me penitenciei.

19.12.05

Relato erótico - Parte II

Afasto o meu corpo do dele. Interpõe-se ar frio. Olha para mim, suplicante, não quer a separação. Com um sorriso maroto coloco as mãos bem abertas no peito dele. Impeço que se aproxime. Empurro progressivamente até ele perder o sorriso e cair no sofá.

Faço uma careta, mostro a ponta da língua por entre os dentes. Sento-me de encontro a ele, com uma perna a separar as dele. Agarra-me a cabeça e puxa-ma para baixo. Fecho os olhos e deixo-o explorar-me a boca. Apoio-me com uma mão enquanto com a outra lhe sinto o peito.

O cheiro dele, o calor dele, a intensidade. Perdi a razão. É loucura. Absorvo ar com fúria enquanto lhe arranco a t-shirt. Sinto-lhe o odor. Sento-me-lhe ao colo, levanto os braços, despe-me. Endireito-me e arranho-lhe o peito com um sorriso. Uma festinha na cara, mordo-lhe o pescoço, sinto-lhe a respiração.

Não sei que faço, onde acaba o meu corpo e começa o dele. É uma luta, quero-o respirar, sentir, comer. Que me magoe, que me dê prazer. Mordo-lhe o peito, lambo os mamilos, afasto-o, abraço, nada chega. Chupo-lhe os lábios, toco-o entre as pernas, nenhuma posição serve, urge mais. Beijo, toco, sinto, cheiro, deixo-o fazer tudo o que quer. Estou insaciável... Ouço um "amo-te".

Sorrio felicidade imensa. A fúria animal é afinal amor.

(o resto do relato fica para a vossa imaginação... Isto é um blog para quase toda a família)

Relato erótico - Parte I

A ternura permanece nos seus olhos enquanto os lábios exibem um sorriso maroto. Respondo mordendo o lábio inferior. Os meus olhos não fingem; sorriem em pleno. Descomprimo a boca devagar, tento reprimir que seja depressa demais. Ele faz uma careta e rio-me finalmente.

A cara dele aproxima-se, mas retiro a minha antes que se toquem. Puxa a minha cintura para ele, já sério, mas o meu sorriso é ainda provocante. Agarro-lhe o cabelo e faço cara de mau. Agora ri-se ele e contagia-me. É difícil ficar sério quando se gosta assim de alguém.

Puxo-lhe o cabelo para trás e ele puxa mais a minha cintura. Fecha os olhos. Roço os meus lábios nos dele, enquanto deixo escorregar a minha mão pela sua cara. Ele tenta beijar, mas vou-me escapando a cada momento.

Mordisco-lhe os lábios e toco-os com a língua. Enfio a outra mão por debaixo das calças dele, sentindo o fim das costas. Fecho finalmente os olhos e deixo-o beijar-me no momento certo. Um segundo mais e teria ouvido os seus protestos. É um jogo, esperar o último momento, sofrer um pouco aumenta o prazer.

Entrelaçam-se as línguas e puxamo-nos um para o outro. De dois corpos se faz um, numa empenhada luta de eliminar qualquer espaço entre nós. Lambo-lhe a língua enquanto se sincronizam os corações e puxo-o ainda mais. Sinto-o e sinto-me impaciente, quase animal, quero-o morder, fazê-lo mais meu, possuí-lo mais e mais e mais. Magoa a forma como me agarra, tanta força. Abro os olhos e vejo-lhe o ar animal. Quer-me como eu o quero.

Até morro de tanto rir



É curioso

Nunca tinha reparado. Neste país, as pessoas não apenas conduzem do lado direito, mas também caminham tendencialmente do lado direito, em ruas fechadas ao trânsito. Será isso a civilização? Pensando bem, não me lembro de em Portugal isto se passar... Enfim, já tenho entretém para o Natal... É sempre bom levar uma questão de sociologia como TPC, sempre se parece mais culto.

De qualquer modo, esta constatação deixou-me com algumas questões. Fluirá mais rápido o trânsito de pessoas na Holanda? Onde é mais fácil progredir quando se tem pressa? O que é que estes comportamentos dizem das respectivas sociedades? Que teria Freud a dizer sobre tudo isto?

Enfim, nada que desvie a minha atenção da irritação que me dá as pessoas que se comportam como galinhas, com mudanças súbitas de direcção. Eu, que estou sempre com pressa, acabo por esbarrar (e ser esbarrado) por tais pessoas. E ainda se fossem gajas ou gajos giros, mas não, é sempre uma coisa mal-cheirosa e desconhecedora do conceito de "tomar banho". Mas a vingança está prestes a ser servida: esperam-me duas semanas de dolce fare niente. Vão ver se não me coloco à frente de todos os apressados mais incautos...

18.12.05

Amostra do novo capítulo I (ainda em fase inicial)

O frio da parede lembrava-o que estava vivo. Embalado pela tristeza da música, sentia em pleno a sua solidão. Dez voltas ao Sol e não tinha amigos para convidar. Pior, não tinha amigos. Eram tão superficiais, os miúdos da sua idade. Não sabiam o que era ser amigo. Ou se calhar ele é que era estranho. Queria tanto um amigo a quem pudesse dizer tudo, em quem pudesse confiar. Os outros não sentiam o mesmo? Não percebia, não dava para perceber.

Acumulava-se nele o desespero. Mais um ano assim, a sentir o mesmo. Desde quando o sentia? Não se lembrava de alguma vez se sentir bem, e porém enquanto bebé devia ter sido feliz. Os bebés são todos felizes, e a mãe sempre se tinha preocupado com ele. Mas não se lembrava de ser feliz, como via os outros. Ninguém sentia o mesmo que ele? Ninguém ansiava por algo, quase em desespero? O pior é que tinha dez anos, completava-os agora. Quantos lhe restariam? Com sorte poucos. No pior caso, setenta ou até oitenta. Sentir-se-ia assim toda a vida? Não sabia se era possível aguentar, parecia demais. Era criança, sabia que era suposto estar feliz. Porém, não estava.

As lágrimas silenciosas trepavam o lábio que lambia com algum alívio. Se chorar deixasse sulcos talvez percebessem o que sentia e se o dispusessem a ajudar... Tinha que ser feliz, todos achavam que era feliz. Mas aí estava, no seu décimo aniversário, sozinho e esquecido. Lembrara-se a mãe, mas tinha tido que trabalhar. Não podia pedir mais dela, sabia que o trabalho é importante. O que custava era ficar com o pai...

Escape

Descobri como aplicar a minha necessidade de escrever. Há anos escrevi uma pequena história em inglês, para um amigo meu ter um argumento para uma "manga" (banda desenhada à japonesa). Durante muitos anos, nem a reli, porque tinha medo que a tristeza que verti nessa história reentrasse em mim. Estou bem mais maduro, mas ainda não virei a página no que toca a sentimentos. Já não sou a pessoa que era, mas também ainda não sou completamente uma pessoa nova, por isso não perdeu completamente actualidade. Pois bem, vou reescrever essa história em português.

Relapsias revisited

A leveza dos meus pensamentos não é capturável por palavras. São tão difusos, anestesiados, irreais, que dir-se-iam pertencerem a outra pessoa. É uma defesa, beber a dor pelo que ela é, sem valorizar muito. O que se sente é passageiro e vai-se aprendendo a dosear. Há pouco sentia euforia, que não reprimi. Agora estou no pico contrário mas sei-o controlar. A tristeza é como a febre. Mantida dentro de limites, é uma reacção natural ao mal que nos afecta. É redentora. Faz-nos olhar para nós. Para um espelho ou para o que é ainda mais nosso. Como as mãos. Não há algo mais nosso que as mãos: o rosto somos nós para os outros, as mãos é o que vemos sem reflexões ou simetrias. Junto a estas, os pulsos. As finas linhas azuis por debaixo da pele.

Revivo os tempos em que sentia fixação por facas. São tão frágeis, as linhas azuis. Sofria de uma tristeza tão absoluta. Como me fascinavam as linhas azuis. Tão tão frágeis. Ainda agora lhes toco, por debaixo do pulso, à vista de uma faca. São cicatrizes que ficam, suponho. O meu caminho não foi, não é, esse. A pele continua imaculada, só a alma foi cortada. São "sexy", os pulsos, beijo-os com carinho. Penso que ainda tenho muito a compensar-me pela forma como me tratei no passado. Pela forma como fui mau para mim mesmo. Por isso lambo as feridas, neste momento de tristeza. É uma lição de amor a mim mesmo. A prova que a história mais triste pode ter um final feliz. Como nos bons filmes, um final agridoce.

17.12.05

Aqui encerrado

Quero arrancar a carne, de tão frustrante a minha voz, incapazes os meus dedos, descordenados os movimentos. Mordo-me, retorcendo-me nesta prisão. Tento várias línguas, insuficiente o meu vocabulário, falsa a entoação, insubstancial o brilho dos olhos. Mortifica-me o pensamento.

Anseia a alma sem se poder exprimir. Pintar, escrever, esculpir, cantar, nada serve. Os punhos cerrados com força, o corpo que acompanha a música, os dedos no teclado, aquilo que digo, tudo é pouco.

Arranco pelos, desespero. Olho em volta, mordo lábios, respiro fundo. Uma estalada, um abraço, um orgasmo. Comer chocolate, sentir calor, ler um livro, nada serve. Só a morte liberta deste mundo. Nele nada mata a sede.

O meu reino por um escape para a minha criatividade.

16.12.05

O espelho

Raramente me reconheço ao espelho. Vejo sempre uma pessoa diferente, estranha, perplexa. Uma pessoa cansada, velha, desiludida. Se há Dorian Grays por aí, não sou um deles. Estou farto de mim, confesso. Quero ser a pessoa do espelho. Cansada, velha, desiludida. É mais fácil ceder que resistir. Vê-se tanta gente assim. Conformada ao espelho. Mostram-o nos olhos. Perderam o brilho. A pessoa tornou-se o corpo, tornou-se a imagem do espelho. A tentação seria forte, tivesse eu escolha.

Uma vez tentei, mas não se deixa de ser o que se é.

14.12.05

Engraçado

Acabei de me aperceber.
O meu coração tem uma firewall!!!
Até soltei uma gargalhada, quando me apercebi.
Vai ser do caraças desactivar esta cena, mas a seu tempo se verá.

13.12.05

Sistemas de medida

Que sou igual ao litro.

O problema das coisas ditas para magoar é que mesmo quando se sabe que são mentira, magoam na mesma.

Antes não era assim

Ao telefone, ao falar com ele, é tão difícil aguentar a voz. Com tantos anos de experiência, seria de supor que me seria fácil. Parece-me que ele disfarça melhor. Dizem-me que não lhe devia telefonar, que o devia deixar em paz, que era o melhor para ele. Mas eu não consigo ser assim, e não é por querer ficar bem na fotografia, é simplesmente mais forte que eu não saber como ele está. Eu estou a fazer o máximo para lhe dar espaço, a sério... E tento não pensar nisso, mas às vezes fico simplesmente com falta de ar...
Não escrevo mais que estou no trabalho...

O "mau" amigo

O meu amigo João (nome inventado) tinha um amigo chamado Tiago (nome inventado) que lhe pediu 500 euros emprestados. Devolvo-tos para a semana, disse o Tiago. Passou-se a semana, e outra e outra, e o João acabou por precisar dos 500 euros. Pediu então ao Tiago que lhos devolvesse, se pudesse. O Tiago disse que sim, mas do dinheiro nem vê-lo. Então, o Tiago deixou de falar ao João.

Pergunta-me o João: afinal o que se passou? Se não tinha o dinheiro, porque é que me deixou de falar em vez de simplesmente explicar que não podia pagar nessa altura? Por 500 euros destruiu a nossa relação de amizade. Como é que uma pessoa que conheço há tanto tempo é capaz disso?

De facto, é difícil de entender. Mas penso que talvez se explique assim: o Tiago até pode ser boa pessoa. Pode ter um conjunto de princípios e valores muito firmes. Mas, a partir do momento em que transgrida uma vez os seus próprios princípios, que fará? Dará a mão à palmatória, admite que caíu e volta a levantar-se ou faz uma fuga em frente?
Claramente, foi a segunda opção. Pode nem ter deixado de ser óptima pessoa, mas quando não consegue agir segundo as próprias expectativas enfia a cabeça na areia.

Pode nem ser verdade, mas é a explicação que me ocorre.

Princípio do egoísmo funcional

Alguns dos meus amigos já conhecerão a minha teoria do egoísmo mínimo (que hoje passarei a denominar por Princípio do egoísmo funcional - pode até nem valer muito como pensamento filosófico, mas tem um bom nome).

Tenho uma tia minha que gosta de me dar dinheiro, bem como aos outros sobrinhos. De cada vez que a vejo, é uma nota de 10 euros ou de 20, às vezes "apenas" umas moeditas, em ocasiões especiais quantias maiores. Claro que é desconfortável aceitar por sistema dinheiro de alguém de quem se gosta, porque o importante é que se goste, não o vil metal. Durante muitos anos debati-me com o problema: "devo ou não aceitar esse dinheiro"? Por um lado, não devo, é claro. Poderei estar a alimentar inseguranças da minha tia, e quem sabe se ela não precisará do dinheiro mais tarde (claro que me terá a mim para recorrer, mas nunca se sabe como corre a vida, ou se cá estarei)? Por outro lado, se a minha tia gosta de dar, eu gosto de receber, e ambos sabemos que gostamos um do outro, porque lhe hei-de negar a ela o gosto de eu ficar contente por receber algo que me dá? A isto chamava a minha teoria do egoísmo mínimo.

Vem isto a propósito de ele dizer que sou mau. Acho que finalmente percebi porque às vezes as pessoas pensam isso. Eu sou uma pessoa que se rege pela ética. É a esse altar, e não ao das emoções, que sacrifico (às vezes sacrifícios enormes). Posso perceber que isso me pinte de mau, pois penso quando o outro sente. Para além disso, o facto de eu procurar fazer o melhor para o outro, neste caso para ele, pode ter esta leitura: sou egoísta, porque coloco a minha "necessidade" de ser ético à frente do bem dos outros.Talvez haja alguma razão aqui: quando tento fazer o melhor para os outros, e actuar de uma forma ética, estou a ser algo egoísta. Mas, na realidade, estou também a ser quem sou. Não é melhor nem pior que responder à realidade ao sabor dos sentimentos. É a minha forma de ser.

Finalmente, percebi a minha inadequação perante tantos episódios da minha vida. Percebi porque algumas pessoas - que passado algum tempo se voltaram a aproximar de mim, ou pelo menos sempre tem sido assim - me achavam às vezes frio e mesmo mau. Percebo porque ele diz que tenho de mudar. Coloco a ética à frente das pessoas. Mas isto é muito paradoxal, porque a minha ética vai no sentido de fazer o melhor para as outras pessoas! Logo, poderei ser incapaz de cumprir os ditames da minha consciência, mas não sou egoísta, poderei quanto muito ser inábil. E acho que já percebi porquê. Falta-me aplicar o princípio do egoísmo funcional às relações. É contra aquilo em que tenho acreditado, mas, se à luz deste pensamento, achar que é o melhor para os outros, fá-lo-ei. Mesmo que isso me magoe. Para mim, o ênfase da ética não é sentir que fiz o meu melhor, mas fazer mesmo o meu melhor para os outros. Custa-me a acreditar que na prática ser-se mau pode na realidade ser bom para os outros, enquanto que ser bom (fazer o que se acha ser melhor para os outros) pode ser mau para esses outros. A vantagem de quem se guia pela ética é pode sempre tentar adequar os seus comportamentos e moldá-los com a experiência. O mesmo não se aplica tanto a quem segue meramente as suas emoções.

Viver não é fácil. E às vezes é bem doloroso.

12.12.05

Biologia

Ele teve 18 a Biologia. Que mais não fosse, isso chegava para ter valido a pena.

Acabaram de se passar algumas coisas muito chatas (não vale a pena aprofundar). Mas fazem-me pensar que a melhor pessoa é capaz das piores coisas, nalguns momentos.

Um último pensamento: não basta ser capaz de se ir muito longe, para provar o nosso amor. Tem de haver reciprocidade: a outra pessoa tem de acreditar nesse amor. De facto, a confiança é um pilar fundamental em qualquer relação...

Alvíssaras a quem encontrar o poema que descreve o ciúme como um monstro verde!

10.12.05

Nem minudências, nem lugares comuns

Acabei por conseguir dançar! Só não digo é ao som de que música...

9.12.05

Lugares comuns

Quando dizemos que o tempo resolve, estaremos esquecidos de que este é escasso?

Minudências

Não há nada como dançar sozinho com ninguém a ver. O difícil é escolher a música. Há um número limitado de tentativas. A música enlaça. Suave demais, perde-se a vontade, com muita batida soa a ridículo. Músicas com letra são sempre perigosas, e acreditar no título só mesmo por inexperiência... Mesmo assim caí nessa e acabei em guitarra de Coimbra. Ainda tentei um passito de dança nas duas primeiras músicas, mas ficou-se por baixo das ancas e o resto do corpo sempre foi esquisito para acompanhar. O melhor mesmo é ir para músicas parvas. Nada é tão dançativo como uma qualquer patetice. Talvez por isso e frivolidade venda tanto. Funciona! Não tanto porque perdi o ímpeto inicial, mas mais uma destas e nem Fred Astaire na sua juventude!

Light-headed

A neve que cai não faz sentido. A neve é bonita, é branca, é fria, pertence a filmes de Natal. A música de Bach sim, pertente ao agora, como se adequa, é suave, como pode, as teclas tão delicadamente pressionadas, ao mesmo tempo rápido, um allegro de tristeza, confusão. O latim bate certo, o holandês fere, se nem os olhos consigo abrir, também italiano, é doce, às vezes compreensível, lampejos na escuridão. Os braços abertos ao mundo não disfarçam, como se girasse à minha volta, tudo, este egocentrismo exacerbado, odeio que esteja seco, cabeça não erguida, uma pele de cobra, deve doer quando a muda, como a mim. É a pequena vingança da manhã, irónica incoerência, frenetismo parado, tanta coisa, em tudo significado, no todo o caos. Brotam de mim as palavras, ok, tão desarrumado, as bolachas, faz-me rir, não há nada tão triste como um sorriso, o espelho longe, bem me lembro, é a poesia. Um quadro literário, tão grande sentimento, o tempo parou, vazio do que fica. Mas tudo bem, a cadeira já a sinto, os ecos do passado, peixe, os carros, estava tão só. Consigo agora o que reprimi então, de surpresa em surpresa, a vingança, olheiras, chegou. A realidade.

Até se apagam!

A solidão

Choca-me a solidão dos momentos das grandes escolhas.
Choca-me a solidão da morte.
Choca-me a solidão de quem não tem ninguém.

Deus nos livre.

7.12.05

Obrigado

Um agradecimento aos amigos que me têm ajudado nestes momentos mais difíceis. A lista não é exaustiva, até porque há amigos de "outras guerras" que não foram pontualmente chamados ao serviço. A ordem dos nomes que refiro não tem significado. Nem o comprimento dos comentários, ou a falta dos mesmos. Pessoas susceptíveis estão proibidas de ler o que se segue! Finalmente, apenas indico primeiros nomes. Espero não me esquecer de ninguém...

Um obrigado a:
- António, apoio fundamental;
- Elizabete, cujas palavras foram providenciais. Parecia que tinham mel;
- Aninhas, eternamente ela mesma;
- Zeca, sempre disponível;
- Cristina;
- Ricardo, que está também a passar por momentos difíceis;
- Víctor, que me anima sob ameaça de pancada;
- Pedro;
- Erik;
- Josh;
- Quim;
- Inês: quem meus filhos beija, minha boca adoça (não é bem isso, mas o princípio é o mesmo);
- Asser, pelas suas orações (que retribuo);
- Aarón, um tolo bem intencionado;
- Alonso, que terá sempre um lugar no meu coração;

Acima de tudo, agradeço ao meu ex(!), pois teria sido impossível sobreviver sem a sua ajuda. Hesitei antes de escrever isto, porque tive medo que soasse estranho e frio o termo "ex". Mas assim posso usar o pronome possessivo meu... É paradoxalmente carinhoso. Finalmente, agradeço a Deus, por ter colocado tanta gente boa na minha vida.

6.12.05

Um novo início

Há frases que por si só preenchem um blog.

Não é o caso. Começo aqui o blog, no momento em que acabo uma relação. O amor ficou, o amor fica, não há-de passar, mas deixámos de ser donos um do outro. Quando se planeia algo para a vida, 10 meses sabe a pouco, a quase nada. Seria demasiado trágico, absurdo, insuportável se o fim não correspondesse a um novo início. A um reencontro comigo mesmo, uma fidelidade (a quem sou) perdida algures num momento de cedência pouco saudável. E a um reencontro com ele.

Li hoje as mensagens que me mandou nestes últimos dias. Denotavam sofrimento, ao qual fui cego. Não me revejo nisso, não quero ser alguém que não se importa com o sofrimento de quem ama. É o vício do ciclo em que caem os incautos que, como nós, não souberam resolver a tempo os problemas.

Dirijo-me agora a ti, meu amor. Sinto que não te perdi e quero que saibas que não me perdeste. Temos é muito que aprender. Nunca se deixa de amar quem se amou. Não sei onde nos leva a vida, mas conta sempre comigo, tal como eu conto contigo. Orgulho-me de ti, da maturidade que demonstras nos momentos difíceis, do que foste capaz de crescer. Da hombridade com que muitas vezes rechaças as tuas próprias limitações (geralmente no último momento... sacanita...). Errámos os dois, agora aprendamos os dois. Eu mudei tanto quanto tu, mas ainda temos muito trabalho pela frente, muitas limitações. É um fim, sim, mas cai em solo fértil. Fecha-se uma porta mas abrem-se algumas janelas. Tu não és parte do que hoje acaba, mas sim do que hoje começa. E é isso que faz com que não sofra. Poderei não sorrir nos próximos tempos, mas nada em mim se partiu. Saber que estás bem é um escudo contra toda a dor.

Este blog é o meu espaço, é onde me reencontro com quem sou. Pode durar um dia ou um ano. Vejo um blog algo como um estado de espírito. Demasiado volátil para que perdure. A ver vamos. Bem vindos ao meu blog.

Dói

Acabei uma relação de 10 meses e meio.