20.12.05

A essência de um beijo

Hoje faria 11 meses desde que comecei a namorar com ele.
Foram 10 meses e meio recheados de emoções, em que tive de romper com imensas barreiras, essencialmente dentro de mim mesmo. Isto de escolher quem se ama independentemente do sexo da pessoa não é moderno nem antigo, é amor. Seria cómodo para muitas pessoas, e às vezes até para mim, se reprimisse o que sinto ou o tentasse direccionar apenas na direcção que me apontam. Mas ninguém tem o direito de me negar a felicidade, nem eu próprio. Amar é dar-se, importa assim tanto a quem se dá? O problema é quando há desigualdades, egoísmos, aproveitamentos. De resto, posso não gostar de alguém por ser gordo/a, feio/a, chato/a, burro/a, sei lá, mas não por causa do sexo. A muitos isto soará a modas, mas não. É amor. Quem quiser entender que entenda, quem não quiser aprenda a viver com isso. Que se pode dizer de alguém que se sente incomodado pelo amor (não confundir com sexo ou manifestações ostensivas)?

Enfim, faria hoje 11 meses. Não é muito, bem sei. "But it's a lifetime, in gay years", disse um amigo. Pura ironia, claro está. É triste a superficialidade, seja em que meio for, mas segundo um outro amigo, falta a cola da sociedade às relações entre dois homens ou duas mulheres. Como são recusadas, olhadas de soslaio, não é de esperar que sigam as regras dessa mesma sociedade. Não há a mãe a dizer "paciência, ninguém é perfeito, mas se gostas dele..." ou o pai a dizer "essa rapariga não é boa para ti", usando a sua experiência de vida. É um mundo apartado que se constitui, onde as regras se constroem do zero, sem sequer haver grande transferência de conhecimentos entre gerações (quanto mais não seja, pelo zelo com que se foram apagando registos históricos da homossexualidade). É a selva. Só pessoas com princípios muito sólidos e estruturados ficam à tona, o resto é arrastado por uma corrente que nunca chega ao mar. Cada um tem a sina que tem. É um sem fim de gente órfã de referências sólidas. Como não desenvolver tiques, quando a mulher é o modelo de quem ama um homem? Como não fingir um orgulho gay como resposta ao ódio irracional que muitos lhes guardam? Apenas com uma personalidade forte e princípios firmes. Mas não é fácil.

Produto dessa mesma selva foi a pergunta que ele me colocou: já curtiste com alguém? Perdão, rei morto, rei posto? Já se vê porque acabámos, se 10 meses não bastaram para ele conhecer o mais básico que há em mim... Adiante, salve-se o que houver a salvar.

Chego finalmente ao objectivo deste texto: falar de beijos.
Em toda a minha vida beijei 3 pessoas. A primeira enganou-me, a segunda enganei-me e a terceira pensei que seria a pessoa certa. Tudo isto apenas confirmou aquilo em que acredito: um beijo é uma arma poderosa e não deve ser usado sem certezas do que se faz. Pelo menos, não por mim. Um beijo é para mim uma promessa... Não é um casamento, claro está, mas abre portas de afectos que mais valia estarem fechadas se não for a sério. Magoa ser enganado com beijos, é mau enganar com beijos. Para mim é assim, beijar apenas se houver a possibilidade de ser uma pessoa com quem queira passar o resto da vida. Como a primeira e terceira pessoas que beijei. A segunda... foi um erro. Já me penitenciei.

3 comentários:

Zeca disse...

Again mt bem escrito :)...também concordo com isso do beijo...apesar de achar que é mais a paixão com que se dá, e o sentimento que se poem nele, do que proprimaente o beijo que abrem as tais portas :)

Ptt rapaz

juizo

dcg disse...

Este post está fantástico. O modo como descreves as particularidades das relações a dois ou a duas é tão bem conseguido...
Na parte dos beijo, posso dizer que só beijei uma pessoa na minha vida e incluiu-se na segunda situação que referes: um engano meu.

/me disse...

Obrigado pelo elogio!!!
De resto, coragem... Assim sabe-te melhor quando o beijo for a valer...