28.2.06

Ai



Raios partam a beertender do meu colega. Ele já a levava para casa!

Estava eu sossegadinho a trabalhar, ao som dos Ala dos Namorados, quando a maquineta, sem aviso prévio, irrompe num barulho desgraçado, presumivelmente para acertar a pressão da cerveja. Por reflexo, contraí ainda mais a mão direita que já estava fechada como defesa contra a dor - ligeira mas persistente - no pulso. Resultado: uma cãibra no braço, que era algo que nem sabia possível. Como praguejar não ajudou, optei por contrair e estendi todos os músculos de cuja existência me lembrei. Por fim, só massajar acalmou a dor. Fiquei uns bons cinco minutos* a esfregar o braço. Quando o meu colega voltar, faço-lhe esta cara...




Ele há-de aprender o que é bom para a tosse. Ainda por cima, cerveja... se fosse sumo de laranja natural ou qualquer coisa que eu pudesse roubiscar (que bom, inventei uma palavra) ainda podia ser, mas não, logo tinha de gostar daquela bebida com cor de toda-a-gente-sabe-o-quê com sabor a feno líquido. Eca.

Embora em Portugal seja feriado, aqui trabalha-se, mas como já devem ter percebido, estou sem vontade nenhuma. De qualquer modo, os corredores hoje estão vazios, quase todas as pessoas optaram por tirar um fim de semana prolongado. Não gosto de trabalhar neste silêncio, prefiro confusão, o stress dos colegas "sabes-me resolver isto???", o intervalo ocasional para chá.

Finalmente, vou aproveitar a sapiência de quem me lê: em português temos algum nome para aquela coisa que não é bem neve nem é chuva, mas fica entre uma neve meio derretida e uma chuva que cai em câmara lenta? Estão 3C.

* cerca de 20 segundos

Outra vez a co-incineração

Confrontada com um estudo recente que comprovou a maior incidência de problemas de saúde em Souselas, a ex-ministra do ambiente Elisa Ferreira respondeu:


É natural, durante muito tempo os tubos de exaustão libertavam muitas poeiras, mas isso resultou do fabrico do cimento sem mangas que fizessem a filtragem dessas mesmas poeiras. A co-incineração prevê filtros e um reforço de controlo sobre todas as emissões.
"


Ou seja, durante este tempo todo foi natural permitir-se que a população adoecesse. E a menos que se instale a co-incineração, será natural deixar tudo na mesma. A preocupação dos nossos governantes pelo bem estar dos portugueses comove-me.

O clima da Terra está a atingir um ponto de viragem

Excertos de uma entrevista a James Hansen, no Expresso.

- A temperatura da Terra, com o rápido aquecimento global dos últimos 30 anos, está agora a passar pelo nível de temperatura mais elevado do Holocénico, o período de clima relativamente estável que existe há mais de 10 mil anos.

- A atitude de alheamento perante as emissões de CO2 produzidas pelos combustíveis fósseis, que na última década aumentaram 2 por cento ao ano, será responsável por um aquecimento adicional de 2 a 3 graus Celsius neste século. Tão drástico aumento implicará mudanças que praticamente darão origem a um planeta diferente.

- O clima da Terra está quase a atingir, mas ainda não ultrapassou, um ponto de viragem além do qual será impossível evitar alterações climáticas de longo alcance e de consequências indesejáveis. Estas alterações compreendem não apenas a perda do Árctico como nós o conhecemos, com tudo o que isso implica para a vida selvagem e para as populações indígenas, mas também prejuízos em muito maior escala devido à subida do nível dos mares em todo mundo.

- O nível do mar subirá primeiro lentamente, [... processo que acabará] aumentando o nível do mar em 25 metros.

- Este cenário sombrio provocado pelo alheamento perante as alterações climáticas pode ser evitado se o aumento das emissões de gás estufa for reduzido no primeiro quartel deste século. Estas acções têm de ser imediatas.

- Nos Estados Unidos, apesar do número de veículos na estrada aumentar todos os anos, é possível sair da via das emissões crescentes aceitando nem que seja as recomendações moderadas que propõem um faseamento das melhorias de eficiência, que atingiriam cerca de 30 por cento até 2030. Isto seria baseado na tecnologia disponível, o que dá aos fabricantes de veículos muito tempo para se prepararem.

- O benefício acumulado em 35 anos com apenas esta acção moderada, mesmo sem a adição de veículos de motor a hidrogénio, é uma poupança de petróleo igual a mais de sete vezes a quantidade de petróleo que o U.S. Geological Survey calcula existir no Alaska National Wildlife Refuge.

- Quanto aos aspectos técnicos, fazer parar a subida da temperatura global para menos um grau Celsius está inteiramente ao nosso alcance. Tudo depende agora de um público informado que reforce a vontade política dos dirigentes deste planeta em aquecimento.

26.2.06

Agenda



Tirado daqui.

Serviço Público



É impressão minha, ou o Brokeback Mountain diminuiu em muito o número de cowboys deste carnaval? Quem sofre são os putos, impedidos de usar pistolas de estalinhos. Por falar nestas, será que ainda se vendem daquelas pistolas de água que nunca duravam mais que uma semana? As boas brincadeiras são tantas vezes as mais efémeras...

Eu que não gosto nada de Carnaval logo vim para uma cidade onde o levam bem a sério. Novos ou velhos, tudo se disfarça. Até acho bom que se leve a sério a brincadeira, mas eu tenho complexo de gente adulta que não gosta de voltar a ser criança. Ou então, o que é mais provável, as minhas fantasias deixaram de passar por ser quem não sou. Com toda a certeza, o facto de não regar a alma com álcool é decisivo em tudo isso. Era pouco fundada a minha certeza, em criança, de que sempre compreenderia a frustração dos bonecos na manhã de sábado acabarem sempre cedo demais. A construção da minha personalidade fez-se como a das cidades portuguesas: as novas por cima das velhas, utilizando as últimas como pedreiras.

Bom, onde isto já vai. Voltando ao carnaval, aproveito para fazer um pouco de serviço público: relembro os mais distraídos que a figura na imagem em cima costuma desfilar em cuecas por esta altura do ano. Aconselha-se que desliguem os televisores ou ao menos usem os óculos que compraram para ver o último eclipse.

24.2.06

Viva o humor




Para que a minha cabeça não role sozinha, agradeço ao mr fights por me ter enviado estas (e outras) imagens!

23.2.06

Karma



Pois é, eu andava com sorte a mais... O trabalho corre bem, ele anda bem disposto e desconhecidos propõem-me negócios milionários sem mais esforço da minha parte que uma assinatura, o número da minha conta bancária e uma "reduzida" verba para arranque das operações. Não bastando isso, o Sol tem-se deixado ver por entre as nuvens por breves mas frequentes instantes.

Eu devia ter suspeitado... Apenas há um karma que mereça tanto, mas a Madre Teresa morreu já eu era vivo. Pelo menos não é de prever que outra alminha incarnada mereça tamanha fortuna. Vai daí, ia eu ontem de bicicleta para casa e, sem razão aparente, num instante igual a qualquer outro sinto o pé direito cair no vazio. É engraçado como o tempo fica lento quando se cai, embora em simultâneo tudo seja muito de repente. Acordado por adrenalina, forcei o meu pé a sondar, desesperado, a existência de pedal, mas este há muito que tinha fugido. Concentrado nisso, apenas a meio da queda me apercebi da sua inevitabilidade. O meu cérebro dividiu-se entre o "porquê?" (é nisto que nos apercebemos da potência da máquina pensadora - mesmo nos momentos mais críticos encontra tempo para considerar questões comparativamente irrelevantes) e o preparar do embate.

O tempo acelerou: cerrei os dente e "pumbas". Foi a mão direita a suportar a maior tensão do choque, seguido pelo joelho que voltou a perder um bocado de pele, mas já está habituado a isso. A mão esquerda também ajudou, mas pouco, e as luvas então, foram providenciais. Já no chão, a fazer relatório dos estragos, ouço atrás de mim um grupo de turistas franceses com risos fracassadamente abafados. Acenei-lhes, que nisso de rir de mim é difícil se também me rio com eles, e ao menos diverti alguém. Combalido, montei de novo na bicicleta e segui caminho, não sem passar pelo mesmo grupinho e provocar nova dose de boa disposição.

Pensei eu que a história ficava por aqui. Mas não... Umas horas depois, o braço direito doía cada vez mais, e estava inchado e com algo saliente. Razões suficientes para estrear os hospitais holandeses. Fui transportado por um taxista que orgulhoso me contou ter ganho uma competição de skate com um braço partido, enquanto me desejava múltiplas fracturas, para eu coleccionar tipo troféus de guerra. Lá lhe expliquei que não acharia piada nenhuma andar com gesso e ter de fazer tudo com a mão esquerda. Ele riu-se, na onda do que não tem remédio, remediado está.

Felizmente, as urgências holandesas são uma maravilha. Pelo menos à uma da manhã. Fui atendido por um enfermeiro que só faltou dar beijinho no dói-dói, e o médico era lindo de partir o outro braço só para voltar lá. Viu-me o braço e não soube explicar o porquê de um músculo (seria músculo?) estar saliente, mas foi da opinião que não havia nada partido. Quanto muito este osso aqui, disse ele, mas uma fractura nesse não é visível no raio-x. Mandou-me andar com o braço ao peito e se passados três dias as dores e o inchaço não diminuissem voltar ao hospital. Cinco minutos e umas ligaduras depois, fiquei como novo. Ou quase...

Alguém faz ideia do que custou escrever isto só com uma mão?

22.2.06

Help



Há quem crie um blog para partilhar pedaços de si. E há, felizmente para mim, quem não querendo escrever no seu próprio espaço, use as caixas de comentários de blogs de outros para o fazer.

Convido quem sente este espaço como seu, quando e se lhe der vontade, a enviar-me textos para minudenciascomuns@gmail.com. Assim podem ter um blog em time-sharing. E de graça!

Não tem nada a ver, mas vou ficar milionário. Um magnata sul-africano sem descendentes bateu a bota. Por um feliz acaso, eu partilho do apelido do falecido. Isso levou o advogado do milionário a propôr-me, por e-mail, um negócio que me vai render 50% da herança do homem, que não foi reclamada por ninguém. É totalmente legal e nem tenho de fazer nada. Há dias de sorte.

E ainda tenho a receber 10% daquela transferência referente a negócios de petróleo e 40% em acções de uma empresa que quer fazer um negócio para o qual precisam de um testa de ferro. Sou mesmo um homem de sorte!

20.2.06

Assim como quem não pensa

Não gosto que me digam "só tu". É mentira.

Não gosto que me digam que sou "especial". Ou me estão a chamar deficiente ou algo vai acabar por sobrar para mim.

Fujo a conversas de casa de banho. Nem que encontre o meu melhor amigo que não vejo há meses, apenas o cumprimento e proponho continuar a conversa "lá fora". A sério que não é local onde me consigam prender mais que o tempo estritamente necessário para cumprir aquilo para que lá fui.

E sim, sinto-me bem melhor depois de ter escrito isto!

Finalmente, o lobby gay afinal existe mesmo - está aqui! Sinto-me obrigado, sob pena de vir a perder o direito ao cartão 2g (gay gold - quando for inventado dará descontos em cultura e roupas), a ir à versão online d'As Beiras participar na votação "Portugal deve permitir casamentos entre homossexuais?"

Nos próximos dias, não vou estar muito online. Um abraço a todos!

18.2.06

Solidão

Tenho saudades dele, não dá para disfarçar. Até lhe telefonei, quebrando a minha resolução de lhe dar espaço, mas não dava para aguentar mais. Um homem não é de ferro, e se fosse enferrujava.

Fugi de casa e procurei consolo nas ruas frias de uma cidade insípida. Mas isto é o Norte, apenas se vive, não se sente. Não há um vão sofrido, um banco onde se beijem namorados, um pequeno sinal de personalidade. É tudo Zaras e Macdonald's aqui, as próprias pessoas são franchises, desprovidas de sal. Não é palco para Romeos e Julietas. D. Pedro e D. Inês nunca existiram aqui; os sentimentos moram a sul.

Sofrer numa cidade sem eco é não existir. A arquitectura é como as pessoas, ou estas como aquela, tudo corrido a castanho, sobriedade inquietante que sobressai por absorver a luz. Talvez por isso tenham tanta escassez desta, mas nada que os incomode; não há aqui restaurantes com luz forte, as velas são um must. Apenas eu colecciono candeeiros, na vâ esperança de capturar um pedacinho de Sol.

Termino com uma anedota: O governo anunciou que, devido ao actual quadro de contenção e para efeitos de poupança de energia, foi decidido desligar a luz ao fundo do túnel.

17.2.06

Coisas antigas

All my life i've lived in two different worlds - mine and everyone else's. At least that's what my psychiatrist says. He tells me i should make some effort to keep it real. But what does he know? Reality sucks.

[...]

True, i might just be another angry teen, but everything happens for a reason. It drives me further away from sanity, trying to understand all the why's, the who's, the when's and the what's. Makes me so much different from all the people out there... They're living their lives, while mine's been frozen. I just lay here, trying to make sense of everything.

[...]

Everyone who knew me as a child says i was a beautiful baby. Now that i'm not a baby anymore, i wouldn't know if i'm still beautiful. The mirror reflects something different every day. And it's not like i can trust people on that either; i could be a fucking Cyrano and still get told i look good. Everyone is either trying to hurt your feelings or trying to be nice to you, but they just won't be real.

(to be continued... maybe)

16.2.06

Novamente o Amor

Há lugares que se pensam comuns, mas afinal não o são. Noções que se creem universais são entendidas por cada qual à sua maneira. Amor, amizade, liberdade, caridade são coisas diferentes na boca e mente de cada pessoa.

Tem o seu quê de perigoso, esta falta de uniformidade. É que todos falamos e discutimos, tentamos aprender uns dos outros, mas não partindo das mesmas definições, como poderemos chegar seja onde for? O problema, claro, não se aplica só a estas palavras. Em todos os campos da vida - e mais particularmente a política - os desencontros de ideias são chocantes. É grave... Falar distingue-nos dos animais; a capacidade de traduzir sentimentos e ideias em palavras é basilar. Mas se divergimos quanto ao significado das mesmas, toda a retórica e construção intelectual são inúteis.

Cada vez mais entendo o papel de quem repensa conceitos. Só entendendo os mesmos, conhecendo a forma como os vemos e como são vistos por outros, poderemos ter uma base comum de entendimento. Nesse sentido, a última carta encíclica colocou muita gente a pensar sobre o que é afinal o Amor. Urge reflectir, pois todos procuramos Amor, todos fazemos esforços para os encontrar, e muitos nos desencontramos em relações em que cada um tem a sua noção do que é afinal o Amor.

Penso que para muitas pessoas, o Amor é atracção. Não apenas física, mas também psicológica e a outros níveis. O carácter elevado do Amor, para estas pessoas, passa por a atracção não ser somente física. Como se houvesse mais mérito de gostar da personalidade de uma pessoa que do corpo. É tudo o mesmo. Não está aí o verdadeiro Amor, assim mesmo com maiúscula. A atracção é uma base para o mesmo, mas não tem mérito em si. O Amor constrói-se, negoceia-se, dá-se e aprende a receber-se. Mas acima de tudo constrói-se. E isso, de tão óbvio que é, dificilmente se explica. O pior, estou em crer, é que poucos o percebem.

Tantos anos volvidos, e perdura o egoísmo.


E porque o meu texto ficou muito incompleto, o Manuel escreveu algo que eu gostaria de ter escrito: "O amor é uma acção. É cuidado. O estado de enamoramento a que normalmente chamamos amor é, apenas, um sentimento amoroso, um estado emocional. Torna-se amor quando se expressa. Mas também é verdade que o amor tem uma forte componente de contemplação. Contemplação do outro, do amado. Isto é o contrário de muitos amores que não passam de egoísmos, porque o sujeito não contempla outra coisa que a si mesmo, aos seus desejos ou necessidades. Contemplar o outro é descobri-lo e, porque o descobrimos, amamo-lo ainda mais."


Acrescentado mais tarde: Vejam onde a conversa já vai.

15.2.06

WC Arte

Texto #100

O fim da minha relação deixou-me um grande vazio, e uma necessidade imensa de me reencontrar a mim mesmo. Também por isso, decidi-me a ter novamente um blog, meses após uma primeira experiência efémera que para pouco mais serviu que debutar.

Foram muito ex-cêntricos, os primeiros textos. Surgiu logo a primeira regra do meu (inexistente mas) imaginário livro de estilo: usar sempre "negrito" para me referir a ele. A segunda regra apareceu mais tarde: preterir a palavra post pela portuguesa texto. De resto, sempre me importei mais em usar este espaço como uma válvula de escape do que em construir algo coerente ou bonito.

O tempo tudo vai curando, e o blog foi-se encontrando consigo mesmo à medida que eu próprio o fazia, e aprendendo como eu a aceitar os inevitáveis desencontros. Por vezes espaço intimista, outro espaço de meras opiniões, a salganhada final tem saído a meu contento, ajudada pelo baixo grau de exigência imposto pelo título Minudências e lugares comuns, que estou bem contente de ter escolhido.

O que de facto me surpreendeu, e tem sido para mim fonte de gratificação, é a quantidade e qualidade da participação dos leitores, ocasionais ou resistentes, por comentários ou por e-mail. Acho que todos gostamos de ter feedback, e nisso não sou excepção. Muito por causa disso, este blog tem-se vindo a tornar importante para mim.

Obrigado a todos.

Protesto

A foto do dia no JN:



Legenda: Como forma de protesto, um indivíduo de Fafe pagou a factura da água de 2500 euros com moedas de um, dois e cinco cêntimos, num total de 322 quilos.

Lembra-me o outro, que deixou no testamento que depois de morto queria ser incinerado. O objectivo era que as cinzas fossem enviadas para as finanças com um bilhete do tipo: "já que chuparam até aos ossos, agora fiquem com o resto".

14.2.06

Este "cartoon" já se pode?

Se eu tomasse café não escreveria disto

Cada manhã que passa, ao olhar ao espelho, tenho mais dificuldade em reconhecer a cara que se entrevê entre as olheiras. Já as tomo por adquirido, agora que me desabituei a dormir 8 horas por noite. Felizmente, o meu gosto por eufemismos permite-me encarar toda esta situação na desportiva; até penso que ganhei personalidade. Isto de ter uma cara fresca qualquer um consegue, agora aquelas olheiras é obra. Sinto-me orgulhoso, portanto.

Nestes preparos de encontrar o fio do pensamento, na altura feito em novelo anárquico e emaranhado, acabei por me atrasar um bocado. Lancei-me à bicicleta e asinha asinha, que temos pressa. Senti então pena que esta expressão esteja a cair em desuso. Aliás, tal como a pergunta "por quem sois?". Esta era avançada para mais para o seu tempo; numa altura em que não havia Benfica, Porto e Sporting, ficava sempre sem resposta, mera retórica avant guard. É curioso que agora que a expressão teria todo o cabimento não a usemos mais.

Finalmente, cheguei à conclusão que é muito feia a palavra barriga quando comparada com ventre ou regaço. E que temos de incentivar o uso da palavra vil. Há muito então que fazer na nossa língua. Asinha asinha, senhores leitores e amigos, trabalhemos nisso! Peço-vos a todos que sugiram outras palavras a necessitar de alguma reabilitação. Desde já, o meu obrigado!

13.2.06

Desafio difícil - A fuga dos prisioneiros

Numa prisão do Texas, o director decide divertir-se à custa dos 23 reclusos. Reúne-os todos numa sala vazia. Todas as paredes estão nuas, excepto uma onde se podem ver dois interruptores, lado a lado, na posição "on". O director explica as regra de um jogo que inventou.



- Vamos escrever o nome de cada recluso num papel e metemos os 23 papéis num saco. Cada dia tira-se aleatoriamente um nome do saco, e o prisioneiro sorteado terá de vir a esta sala. Após isso, o nome volta a ser colocado no saco. Uma vez na sala, o recluso terá obrigatoriamente de mudar a posição de um só interruptor, o da direita ou o da esquerda. Tem de mudar a posição de um, mas não dos dois. Depois disso, voltará para a sua cela.

- No início, como vêm, os interruptores estão ambos na posição "on". Iremos jogar este jogo até um qualquer prisioneiro dizer que todos os seus colegas encarcerados já passaram pelo menos uma vez por esta sala. Se de facto for verdade, todos vocês são libertados. Caso contrário, serão todos condenados a prisão perpétua.



- Para comemorar o início do jogo, vamos ter um grande banquete hoje à noite. Depois disso, e durante a duração do jogo, todos os prisioneiros estarão impedidos de falar uns com os outros! Ficarão nas respectivas celas. Cada dia, o prisioneiro cujo nome seja sorteado será levado em segredo à sala para cumprir o acordado, após o qual será de novo confinado à sua cela.

Nessa noite, os prisioneiros combinam uma estratégia... Como fazer para conseguir ter a certeza absoluta de que todos já passaram pela sala?

Resumo:

- cada dia é sorteado um prisioneiro, de entre os 23. Quem já foi sorteado anteriormente pode voltar a sê-lo;


- o prisioneiro sorteado tem de mexer um dos interruptores. Nem mais, nem menos;

- no início, ambos os interruptores estão na posição "on";


- o jogo acaba quando um prisioneiro afirmar que todos os outros passaram pela sala. Estando certo, todos os reclusos são libertados. Caso contrário, serão condenados a prisão perpétua.

Salada de minudências



Assim do nada, lembrei-me de uma amiga que decidiu chamar Zé ao cão.

Zé, anda aqui, Zé, onde te meteste? Larga isso, Zé!

Era comum ficarem várias pessoas a olhar para ela, com ar insultado. Outro amigo, ao perguntar-se-lhe a idade, arredonda-a sempre para cima, quando faltam menos de 6 meses para fazer anos. Diz ele que é mais preciso.

Finalmente, há um blogger de parabéns. Imaginem que fez anos e não disse nada a ninguém! Isso não se faz! Os anos sim, mas a outra parte não.

Não é propriamente o caso, mas pessoas há que não celebram os aniversários próprios, apesar de encararem com muita alegria os alheios. Uma espécie de modéstia envergonhada, diria eu. Mas é preciso alegrarmo-nos com as nossas coisas para darmos justificação aos outros de se juntarem a nós. Não nos alegremos só pelos outros, mas também por nós. É uma forma de altruísmo.

12.2.06

Desafio "fácil"

Um grupo de quatro exploradores amadores, perdido no deserto, é capturado por uma tribo.

- "Invadiram o nosso território sagrado!", diz o chefe da tribo, "e agora vão ter que pagar as consequências! Porém, de acordo com a nossa tradição, concedemo-vos uma hipótese de salvar as vossas vidas. Vamos jogar... o jogo do muro!"



Dito isto, a tribo enterra os quatro exploradores na areia até ao pescoço. Tendo apenas as cabeças de fora e não se podendo virar, cada explorador apenas consegue ver o que está à sua frente.

Todos os exploradores são enterrados do lado direito do muro sagrado da tribo, excepto o explorador A, que é enterrado à esquerda do mesmo. Todos estão virados para o muro. Assim, o explorador D vê o B e o C. O explorador C vê o B. Os restantes vêm o muro.



O chefe da tribo coloca chapéus nas cabeças dos exploradores e diz-lhes:

Coloquei um chapéu na cabeça de cada um de vocês. Há quatro chapéus, dois amarelos e dois cor de rosa. Um de vocês tem de adivinhar a cor do chapéu que está a usar. Se proferir mais alguma palavra que essa cor, morrem todos. Se adivinhar, deixamo-vos ir em liberdade.

Desafio: Qual dos exploradores fala?

Resumindo: Os exploradores não podem falar entre si. Cada um usa um chapéu, e as cores estão conformes a figura. O explorador D sabe a cor dos chapéus dos exploradores B e C, e o C sabe a cor do chapéu do explorador B. Quem consegue adivinhar a cor do seu chapéu?

Termo de responsabilidade: Nenhuma pessoa foi maltratada na invenção deste desafio. Quaisquer danos que possam ter sido causados pelo uso da cor rosa no orgulho macho dos exploradores foram devidamente abordados por um psicólogo competente. Don't try this at home, ou pelo menos use cores decentes.

11.2.06

Crónicas do passado



Devia ter desconfiado de uma galeria que tem um quadro destes. Nada disso, porém, me passava pela cabeça quando tentei ler em voz baixa o nome do artista alemão que tinha pintado o quadro à minha frente. Atrás de mim, risinhos, seguidos da pronunciação correcta. Sem que eu pedisse, o alemão trintão e o seu amigo adolescente contaram-me a história toda do pintor. Eu nisso até sou sociável, gosto de meter conversa e que metam conversa comigo, mas senti que algo estava mal. Tentei desencorajar a conversa de um modo subtil, mas o amigo que estava comigo tem o defeito terrível de não desperdiçar nunca uma oportunidade de aprender mais, seja o que for.

A cadência rápida dos minutos acabou por me proporcionar a melhor desculpa: "a conversa está muito agradável, mas temos de ver o museu". Logo contrapôs o alemão que nos encontrássemos à saída para lanchar, que ele pagava. Todos os sinais de alarme soaram ao mesmo tempo no meu cérebro, e antes que tivesse tempo de organizar os pensamentos numa desculpa razoável, já o meu amigo tinha concordado. Alma ingénua! Ainda mais que eu, o que é difícil.

A Villa Borghese é um regalo para os olhos. Que desperdício aqueles minutos a discutir a vida de pintores alemães. Saltámos de sala em sala, a absorver a beleza pelos nossos olhos ignorantes. Para mim, a arte é pouco mais que isso: ou me evoca sentimentos positivos, ou não gosto. Dei a entender ao meu amigo que aquele lanche me cheirava a esturro. Mas nem eu tinha certezas nem queria dar a entender um "sexto sentido" que começava ainda a despontar em mim.



E pronto, lá tivemos que o deixar pagar-nos o lanche, umas sandes no parque. Tirei a carteira, barafustei, tentar chegar a nota ao vendedor com mais rapidez, mas perdi. Ele sabia-a toda, e eu era demasiado novo para o contrariar. Entretanto, o meu amigo dava-lhe corda. E eu a pensar furiosamente numa forma de fuga civilizada. Levantar-me e sair dali não era então uma opção para mim, seria rude. Nesses preparos, o alemão começa a tirar fotografias de tudo e de mim. É que nem disfarçou, nem uma tirou do meu amigo. Eu protestava envergonhadamente. Sim, sei que é de homem responder à altura, mas eu nisso pouco mais era que uma criança.

Eu já estava exasperado com o meu amigo, que não percebia nada. Pronto, eu ainda não tinha mais que suspeitas (naïve...), mas ele estava realmente a apreciar a conversa a nível intelectual. Disse-lhe palavra por palavra o que pensava, mas não o consegui convencer. Anuíu novamente quando o alemão nos propôs mostrar a "melhor gelataria" de Roma, apesar dos meus protestos "temos pressa, vamos perder o combóio, os nossos amigos estão à espera". No caminho, tive de suportar uns olhos-nos-olhos do alemão. Ainda se fosse do "amigo" dele, mais para a minha idade e atrativo... Mas não, estava mesmo a ser aliciado por um sugar daddy...

Comprou-nos gelados e passou o dedo mindinho pelo meu enquanto mo dava. Se eu já estava mortificado, aí foi o limite. Inventei mil e uma desculpas e fiz o meu amigo jurar que tínhamos de apanhar o combóio seguinte dali para fora. E ele ainda queria as nossas moradas. Demos os e-mails, cantámos o hino nacional (essa não me lembro porquê...) e fugimos.

O curioso, é que mesmo depois disso tudo, o meu amigo não tinha ainda mais que ligeiras suspeitas. Eu deixei cair. Não me cabe a mim tirar a inocência aos outros. E apesar de tudo, recomendo a Villa Borghese. Não vão é com um amigo ingénuo!

10.2.06

A culpa é do Zé

Fui de novo desafiado. Um novo inquérito. Tinha-me prometido a mim mesmo não responder a mais nenhum, mas não posso dizer que não ao . Ele não merece uma desfeita dessas, bem pelo contrário. De qualquer modo, um aviso para o futuro: se mais alguém me faz uma sacanice destas, haverá choro e ranger de dentes.

Vou-me servir das perguntas do inquérito, mas o guião sou eu que o escrevo. Acedo a revelar um pouco sobre o autor deste blog, mas prefiro deixar o grosso à imaginação dos leitores. Confio na generosidade da mesma. Aqui vai, então.

Nasci numa das mais históricas cidades portuguesas. Encanta-me, a cidade, mas ao mesmo tempo diria que encarna o excesso de identidade português. Como que ficou para sempre conservado nas suas velhas ruas. Nisso, a arquitectura reflecte completamente a realidade, ou vice-versa, nunca souber perceber.

Conheci Portugal pelos olhos de uma criança, nas frequentes viagens que fazia. Cedo comecei a viajar para o estrangeiro, ignorando o conselho da minha professora primária, adepta incondicional do ir para fora cá dentro, até porque "sem conhecer todas as maravilhas de Portugal, para que vale a pena ir para o estrangeiro"? Não fazia grande sentido o ralhete, vindo da mesma pessoa que gabava o infante D. Pedro da "Ínclita Geração" por ser tão viajado. Mas nem a minha inteligência infantil captava a contradição, nem eu era assim tão viajado. Tenho saudades dessa professora que encontrava em Cavaco Silva o substituto do seu saudoso Salazar, que batia nos alunos pelo mais mínimo erro e que foi fundamental na minha educação.

Embora nunca tenha vivido na Espanha, em certo sentido é como se tivesse. De resto, morei um período breve na Itália, e encontro-me neste momento na Holanda. Já passei férias por toda a europa ocidental, mas nunca fui além disso. São as vantagens da livre circulação e as desvantagens da falta de tempo e disponibilidade. De qualquer forma, nisso estou como a minha professora da primária: ainda não apreciei o suficiente Paris ou Barcelona. Embora também nunca o consiga fazer tão plenamente até ter visto Tokio ou Lima (não sei porque me lembrei destas cidades... porque não Chihuahua? - para quem não sabe, fica no México).

Adoro a liberdade da Espanha, os gelados e as mulheres de Itália (infelizmente, as interessantes são quase todas feias) e as bicicletas da Holanda. Mas sou português e não consigo nem quero escapar a isso. A minha pátria é mais que a minha língua, é toda uma cultura e um punhado rectangular de terra. Gosto do estrangeiro, mas sei onde pertenço.

Quanto a empregos, trabalho na área das ciências exactas.

Gosto muito de ler e de ir ao cinema. Por culpa do Gerard Dépardieu, corri a comprar o livro O Conde de Monte Cristo, que continua a ser um dos meus favoritos, a par d'O Perfume, de Patrick Süskind. Não que alguma vez tenha relido estes livros; tal como os filmes, não gosto muito de repetir (salvo raras e honrosas excepções). De resto, leio bastante, mas com pouco mais critério que os pequenos textos na contra-capa. Sempre que tento cultivar-me com autores recomendados, acabo desiludido. Foi assim com Dostojevský, que me dava pesadelos. Melhor sorte teve Kafka, que encontrei numa prateleira no quarto do meu irmão, ao lado do Amor de Perdição que devorei para meu grande escândalo. Acho que os livros se lêm porque sim e não porque o autor ganhou um Nobel. Saramago está adiado até aprender a usar pontuação. A menos que me intrigue vê-lo numa prateleira inesperada.

Sou um esquisito para comer. Não imaginam o que a minha mãe me chateia. Não sabem a inveja que me faz quando alguém diz "se não queres, passas fome". O luxo... Bom, a bem dizer, até já tenho saudades das piores comidas da minha mãe. Das melhores, nem se fala. Ninguém lhes chega aos calcanhares.

Finalmente, se pudesse escolher, agora queria estar na minha caminha, em Portugal. Nunca encontrei um sítio onde dormisse melhor.

Quanto ao resto das perguntas, fica sem resposta. Acho que já não foi muito mau. Quanto às 4 pessoas a quem tinha o direito de passar este inquérito, por esta safam-se. Aproveitem, que não dura para sempre!

Psicologia invertida

Não comentes!!!

Quem poderá resistir?

9.2.06

Cartoons

Muito resumidamente: acho as caricaturas da polémica insensíveis, mal desenhadas e de duvidoso sentido de humor. Não me ofendem, mas compreendo que ofendam terceiros. É o preço da liberdade de expressão.

Se outros estão ofendidos, ensinemo-los a jogar o nosso jogo. Alguém que processe o jornal. É lícito, democrático, civilizado e, nas mãos de políticos hábeis, poderia servir para aliviar tensões.

Nojo

Disse-me um amigo que o período de nojo pelo fim de uma relação a sério, embora dependa de muita coisa, geralmente dura algo não inferior a oito meses. É caso para dizer: eca!

Vou nos dois meses.

Manuela Moura Guedes

Aqui pode-se escrever uma frase em catalão, chinês, neerlandês, inglês, francês, alemão, grego, italiano, japonês, coreano, português, espanhol ou sueco, e o computador reproduz oralmente o texto escrito. O engraçado é colocar a Amália a dizer "Manuela Moura Guedes". Percebe-se logo quem deu a voz ao boneco, aliás, à boneca.

Não tem nada a ver, mas de quando em vez fixo-me numa qualquer expressão ou palavra. Desta vez é a brasileira "eca, que nojo". Quero ver se começo a incorporar uns "ecas" no meu discurso.

8.2.06

Cansado

Estou farto deste sentimento de viver num país e ter a vida noutro. De apenas ter indígenas ou pessoas "a prazo" à minha volta. Os primeiros têm as suas vidas montadas e são nórdicos, frios. Os segundos, vão às suas vidas antes de ter tempo de aprofundar uma amizade. Já nem tento... Com o tempo construí uma carapaça que penso ser capaz de desmontar. Mas aqui é necessária.

Para os holandeses, os sorrisos não são de graça. Pensam sempre que se vai pedir algo em troca. Não faz muito parte da nossa lógica. Faz-me falta um "está tudo bem contigo?" genuíno, sentido, acompanhado de um toque no braço e um olhar directo nos olhos.

Categorias

Eu não posso defender o casamento homossexual e não apoiar o BE? Não posso dizer que há um fosso geracional, em que basicamente alerto para a necessidade de estarmos atentos às diferenças dos mais novos, sem que me atribuam todo o discurso "o mundo está perdido, as novas gerações são inferiores"? Por ser católico, perco todo o direito de crítica em relação à Igreja? Por ser liberal nuns aspectos, tenho de varrer para debaixo do tapete as minhas preocupações sociais, ou vice-versa?

Às vezes, parece que por se defender uma posição, tem de se assumir um esterotipo. Parece que as ideias vêm em pacotes. Ou se é de direita, ou é de esquerda. Ou se gosta de cães ou se gosta de gatos. Ou isto ou aquilo, mas nunca um bocadinho disto e um bocadinho daquilo. Onde está o espaço para verdadeiramente reconhecer nos outros a sua personalidade, se mentalmente os encaixamos em classes pré-definidas?

7.2.06

NOS OSSOS QVE AQVI ESTAMOS PELOS VOSSOS ESPERAMOS



A Capela dos Ossos é um dos mais conhecidos monumentos de Évora, em Portugal. Está situada junto à Igreja de São Francisco. Foi construída no século XVII por um monge que, dentro do espírito barroco da altura, pretendeu transmitir a mensagem da transitoridade da vida, tal como se depreende do célebre aviso à entrada: “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”. A capela é formada por 3 naves de 18,70m de comprimento e 11m de largura, entrando a luz por três pequenas frestas do lado esquerdo. As suas paredes e os oito pilares estão "decorados" com ossos e caveiras ligados por cimento pardo. As abóbadas são de tijolo rebocado a branco, pintadas com motivos alegóricos à morte. É um monumento de uma arquitectura penitencial de arcarias ornamentadas com filas de caveiras, cornijas e naves brancas. Foi calculado à volta de 5000 o número de ossadas de cerca de 5000 religiosos, provenientes dos cemitérios, situados em igrejas, da sua ordem religiosa.

Fonte: wikipedia.

6.2.06

Alta Velocidade II - Fosso Geracional

Em Bruxelas fui ver um filme, com uma amiga. À saída da sala de cinema, chamou-me a atenção uma senhora de idade, que nos cumprimentou com um sorriso. Meti logo conversa, e fiquei encantado com a senhora. Já tinha mais de 80 e ali estava ela, no cinema, com a mesma naturalidade que os putos que brincavam em correrias por detrás dela.

Nunca vi disso em Portugal. Tenho pena, mas no nosso país parece haver coisas reservadas para velhos, e outras para jovens. Há em muitos aspectos um divórcio geracional. Os velhos portugueses estão gastos, caducos, abandonados, e os mais novos há muito que ficaram órfãos das suas referências culturais. Aliás, no nosso país (talvez também nos outros, não sei), tudo parece funcionar numa guerrilha de gerações. Não se dá espaço aos mais novos, e estes, uma vez que o conquistam, põem os mais velhos na prateleira. Há excepções, mas regra geral, a harmonia inter-geracional é pouca.

Mais assustador que isso, é o verdadeiro abismo entre a geração que agora tem de 21 anos para baixo e a que tem de 21 para cima. Claro, apontar uma idade é pouco mais que subjectivo; o que me parece ser um facto é que os miúdos de 18 anos de hoje não têm nada a ver com os miúdos da mesma idade há cinco anos atrás. Podem-no confirmar os professores, habituados que estavam a ser respeitados pela sua função, reduzidos agora à impotência de "aturar" uma geração que não controlam nem tão pouco compreendem. Não sei se terá a ver com os efeitos do 25 de Abril nos filhos das gerações que o viveram. Mas o fosso lá está. E não vejo ninguém a contribuir para nada que não seja aumentá-lo. Nem tão pouco vejo alguém reconhecê-lo.

Alta velocidade

Por isso é que temos de ir morrendo, diz a minha mãe, perturbada por mais uma modernice. Ir morrendo, no português dos Fados e de Amália, significa deixar um pedaço de nós em cada momento do passado, como se fosse o tempo um corredor demasiado estreito de paredes ásperas. Não é o sentido usado pela minha mãe, que sendo uma mulher profunda é também bem mais prática: ainda bem que a nossa vida tem limite porque somos produto do tempo em que fomos criados, e há limites para a nossa capacidade de adaptação. Os tempos correm mais que as pessoas. É duro, acho eu, ir acompanhando tudo o que muda. Às vezes dá vertigens, a rapidez de tudo. Era bom poder baixar a guarda sem tudo mudar. Mas não é o mundo em que vivemos. As vagas de mudança vêm primeiro gradualmente, depois bem de repente, apanhando de surpresa mesmo os que há muito anunciavam a sua chegada.

4.2.06

Também fui apanhado

A MC, do jardim, fez-me uma sacanice. Acorrentada e obrigada a passar a bola a outros, desafiou-me a descrever cinco das minhas manias. Aqui vão:

1- Dificilmente digo não a uma senhora, mesmo que faça destes desafios em corrente...

2- Odeio queijo! Tenho nojo, mesmo. Evito até tocar-lhe. Já tive de comer por uma questão de educação, mas completamente a contragosto...

3- Quando discuto com pessoas que sabem mais que eu, por vezes mantenho-me na minha só para aprender mais, mesmo quando já suspeiro de que afinal não tenho razão. Mas depois no fim admito que fiz isso.

4- Vejo ou ouço os relatos dos jogos do Benfica, sempre que posso.

5- Danço e canto, mas só quando estou sozinho.

Cumprida a vontade da MC, tenho direito a "exigir" a cinco pessoas que também descrevam cinco manias. Não posso garantir que estas sequer leiam este blog, mas pode ser que tenha sorte. A fava calha às Assumida Mente e Mente Assumida (2 em 1), daqui, ao Mr Fights, daqui, à Madi, daqui, ao Manuel, daqui, e à Sofia, daqui. Quanto aos outros, por esta safam-se.

Bolas, que é difícil escolher só cinco!!! Por mim, gostaria é de passar a batata quente a todos os intervenientes nos blogs que tenho aqui referenciados.

Crista da onda

Principalmente para os católicos, como eu, deixo a pergunta: porque é que a homossexualidade é pecado?

Eu acho que não é.

Esta é uma questão fundamental para mim, por motivos óbvios.

Fui educado numa atitude de respeito temeroso e acrítico para com a Igreja e o Santo Padre. Por uma questão de prudência, mantive essa mesma atitude durante anos a fio. Não me arrependo, porque a isso a minha consciência o obrigava. Porém, a História ensina-nos que a Igreja, Santa como a acreditamos, é composta por homens que erram. Não ponho em causa Deus, a minha Fé, o Credo ou qualquer dogma. Assumo-me Cristão e Católico. Ao mesmo tempo, tenho sérias reservas quanto aos ensinamentos da Igreja relativos à sexualidade, em particular à vivência da orientação sexual.

Amai-vos uns aos outros, disse Cristo. Se alguém deseja fazer alguém, neste caso do mesmo sexo, feliz e partilhar a sua vida com essa pessoa, valorizando mais as necessidades dessa pessoa que as suas, isso é amor (agape, para quem leu a última Encíclica). Até aqui ninguém coloca problemas. Se, porém, para além de esse amor, houver também amor erótico, exigem que isso seja colocado de lado. Ou seja, que se ame só com a alma, não com o corpo. Ou que não se ame de forma nenhuma.

Dizem uns que o amor homossexual é só desejo carnal. Outros que é uma amizade pervertida. Estranho que cristãos se coloquem assim tão facilmente em posição de julgar o que desconhecem. Há casos de casais homossexuais em que um fica em coma e o outro passa o resto da vida a tomar conta deste. Dificilmente se poderá chamar a isso desejo carnal. Quanto a ser uma amizade pervertida, o que quer isto dizer? Que o amor agape deixa de o ser se a este se juntar amor erótico, no caso de se tratar de pessoas do mesmo sexo? Nada disto me faz sentido.

Citam-se as escrituras, para condenar a homossexualidade. A contextualização que se faz noutros temas (escravatura, direitos das mulheres, etc), passa a ser relativismo, se aplicada às passagens sobre a homossexualidade. Até o Levítico é citado com convicção. Vale tudo, o que importa é justificar que a homossexualidade seja vista como nojenta. A pressa de condenar atropela a seriedade que se dá à reflexão sobre o tema. Diz-se que sempre foi assim, conta-se a história de Sodoma e Gomorra, ignorando que esta não era interpretada como um condenar da homossexualidade pelos primeiros cristãos, e também já não o é agora.

Falta muita caridade e até seriedade, nesta discussão. Do muito que tenho lido, reflectido e discutido sobre o assunto, acabei por concordar com os que acham que não é claro o que a Bíblia diz sobre a homossexualidade, que será mesmo omissa sobre o assunto.

Dito isto, para um Católico que concorde e viva os preceitos da Santa Sé, o pecado que um homossexual comete ao comprometer-se a uma vida em fidelidade, amor e partilha com outra pessoa do mesmo sexo, é quando muito equivalente ao de um casal heterossexual que use a pílula. Que estranho então que tudo isto cause tanto nojo e tanta repulsa. Ao ponto de dizerem que permitir-se o casamento civil a homossexuais vai conspurcar o conceito de casamento (supõe-se o religioso?) e destruir a sociedade.

Todo o assunto merece ser relectido de novo, sem preconceitos, por Teólogos e por todos nós. Entretanto, é preciso caridade.

3.2.06

Censura

Censurei um comentário que recebi neste blog, pela primeira vez.

Fi-lo porque o achei deselegante. Raiava o insulto, e ainda para mais como se dirigia a senhoras (nomeadamente ao casal de raparigas que se quer casar), tive por bem não aceitar publicá-lo aqui.

Não é bonito, censurar. Não me agrada fazê-lo. Tinha escrito um outro texto sobre o assunto, no qual reproduzia o comentário censurado e explicava as minhas razões, mas talvez fosse pior a emenda que o soneto. Acabei assim por eliminar esse texto e os respectivos comentários.

Segui o que achei correcto, mas confesso que fiquei desassossegado. Peço desculpa se errei.

Casamento IV

Reflexões sobre o casamento homossexual:

Quanto à constitucionalidade da lei que reserva o casamento a casais heterossexuais, poderá não haver muito a apontar. Afinal, a lei é igual para todos. Qualquer homem se pode casar com qualquer mulher, independentemente das orientações sexuais dos mesmos. Não sou formado em Direito, mas suponho que se pode argumentar que deste ponto de vista não há discriminação. Os direitos são iguais para todos. Não são é equivalentes. Não sei que leitura farão os juristas de tudo isto, mas talvez seja mais uma questão de interpretar a letra ou o espírito da Constituição. Não sei que margem de manobra haverá, tanto num como no outro sentido.

Por outro lado, note-se que o casamento civil existia já antes do sacramento religioso. Os romanos e os outros também se casavam, antes de haver Igreja. Mais tarde, quando os Reis davam os filhos em casamento, não havia o pré-requisito de amor que é quase consensual exigir-se hoje. O divórcio, em certas sociedades admitido, depois deixou de ser, para voltar a ser novamente instituído para o casamento civil. Os conceitos mudam com os tempos, e querer dizer que isto que é agora foi sempre assim não é razão. Devemos é ver como deve ser, não como tem sido.
Os que defendem a pureza do conceito de casamento, das duas uma: ou têm valores, porventura religiosos, que há que respeitar mas que não têm direito a impôr, ou se não é isso são preconceituosos.

A homossexualidade não é natural, dizem uns. Se natural se refere à natureza, então os homossexuais são produtos de quem, se não da mesma? Suponho que também não é natural cortar o cabelo? Nunca vi nenhum animal fazê-lo... Este argumento é puro preconceito.

Outros dizem que se deve tratar de forma diferente o que é diferente. Os casais heterossexuais podem gerar descendência, os outros não. Muito bem, negue-se então direito a casamento a heterossexuais estéreis, também. Se esse é o critério, tudo o resto é discriminação. Vamos lá ver, os homossexuais pagam impostos como os outros? Então não deverão ter direitos equivalentes?
Se não se quer tratar de forma igual o que é diferente, ou seja, se se reconhece o direito à diferença, dêm-se direitos equivalentes, e não iguais. Ou seja, permita-se a um homossexual casar com alguém do mesmo sexo tal como se permite a um heterossexual casar com alguém do sexo oposto. Apenas isso é justo.

Muitos criticam que o que os homossexuais querem é ser aceites e impôr o seu ponto de vista. Ser aceite e impôr seja o que for é diferente. Eu aceito que alguém seja judeu, e defendo que tem todo o direito a sê-lo, mas não é por ele ir a uma sinagoga ou usar aquele pequeno adereço na cabeça que sinto que me está a impôr seja o que for. É óbvio e é natural que os homossexuais querem ser aceites. E também é óbvio, dada toda esta discussão ser sequer necessária, que sentem que ainda não são aceites.

Espero ainda um argumento aceitável contra o casamento homossexual.

Caricaturas



Legenda: A publicação num jornal dinamarquês de 12 caricaturas do profeta Maomé provocou a cólera do mundo muçulmano. Para saber mais.

2.2.06

Prioridades

Quem foi que disse que a discussão do casamento homossexual não era uma prioridade?

Uma coisa é certa: não lê blogs!

Os dados estão lançados...

Metáforas e eufemismos

Um amigo precisava de uma resposta clarificadora. Obteve "as luzes das estrelas hão-de iluminar o nosso caminho". Discutivelmente poético, mas seguramente enervante... Odeio metáforas que mais não fazem que esconder o vazio. Parece ser recorrente, nalgumas pessoas, refugiar-se em palavras bonitas para fugir às questões! De estilhaçar os nervos a qualquer um...

Por falar em metáforas, tenho uma a oferecer-vos. Um amigo meu trabalha numa pizaria, aqui na Holanda. Lá, têm o vinho da casa, baratinho, e um vinho melhor e mais caro. Pois bem, o dono do restaurante, que é italiano, recusa-se a vender o vinho melhor à maioria dos clientes, mesmo quando o pedem. Com muito jeitinho, consegue convencê-los sempre que o vinho da casa é bom, e que não vale a pena gastar mais. A razão? Diz que não quer desperdiçar o vinho de qualidade em pessoas que não o sabem apreciar (o que, segundo ele, se aplica à esmagadora maioria dos holandeses)...
Guardem esta história na memória, secção de "histórias que são fáceis de usar para criar uma metáfora".

Quanto a eufemismos, sou um fã. Para quê "tenho de ir mijar/cagar", quando se pode dizer "tenho de ir à casa de banho"? Toda a gente sabe para que serve a casa de banho, e na maioria das conversas não costuma fazer muita diferença que modalidade de de uso se lhe vá dar... Pior só mesmo "tenho de ir fazer xixi/cocó", dito por alguém com mais de 10 anos. Aos menos a primeira alternativa criticada era de macho. Meus amigos, ir "fazer xixi/cocó" é pecado duplo: não só é verbalizada uma acção que eu preferia não ter de visualizar, como ainda por cima o é usando uma expressão infantil. Se isso pode até ser enternecedor num miúdo, já não o é tanto numa "criança grande" (outro eufemismo)...
Vou-me escusar a comentar a questão do tampo da sanita.

Se estavam à procura de um sentido neste post, lamento desiludi-los. Não tem mesmo.