28.4.06

Catecismo da Igreja Católica

2357. A homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual, exclusiva ou predominante, por pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade se reveste de formas muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas. Sua gênese psíquica continua amplamente inexplicada. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a tradição sempre declarou que "os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados". São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados.

2358. Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Essa inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição.

2359. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes de autodomínio, educadoras da liberdade interior, às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.

Li muitas vezes esta condenação. Nunca percebi exactamente o que quer dizer "apoio de uma amizade desinteressada".

Terceira via

Kinsey não colocava a questão em se ser hetero, gay ou bi. Falava antes em ter-se comportamentos (nada a ver com cruzar as pernas ou ter tiques, claro) exclusivamente homossexuais ou exclusivamente heterossexuais ou algo pelo meio.

Assim, pensou numa escala de 0 a 7, onde 0 seria algo como 100% hetero e 7 seria 100% gay. Aplicando esta concepção a si mesmo, ele teria tido classificações diferentes ao longo da sua vida.

Muitas pessoas que se assumem como gay dizem que bi não existe. Concordo com o Kinsey, o que não existe é uma classificação estática e absolutista. Mas, claro, é sempre mais confortável viver num mundo a preto e branco. Incomoda quando os outros não se encaixam nas categorias pré-definidas nos nossos esquemas mentais. A propósito, cito uma citação:

"Because I happen to be gay, the far right expects to keep my personal life a deep, dark secret, while the far left expects me to buy into its entire political platform or risk being designated a "self-hating homosexual." Both groups share, moreover, an abiding devotion to the gay-subculture stereotype. Both would be more confortable with me, in short, if I talked, walked, dressed, and thought in accordance with that stereotype. That would make it easier for the far right to condemn me and easier for the far left to embrace me. The far right wants me to climb back into the closet; the far left wants to force me into another closet."

Por fim, coloco uma questão (se calhar não pela primeira vez neste blog). Porque é que tantos homossexuais adoptam comportamentos que temos por femininos? Será que a falta de modelos (role models) homossexuais terá algo a ver com isso? Afinal, o paradigma é que quem gosta de homens são as mulheres. Logo, se eu gosto de homens, ou sigo o modelo pré-definido ou tenho de construir um próprio, o que é fascinante mas, admitamos, não é fácil assumirmo-nos como órfãos de um paradigma próprio e construir referências do zero.

Claro, esta opinião parte do pressuposto de que o género (gender) e a orientação sexual são duas coisas completamente distintas. Não tomar isso como uma verdade absoluta levanta uma série interessante de questões: o género é determinado pelo que sentimos, ou pelos órgãos sexuais com que nascemos (há que lembrar aqueles/as a quem a natureza prega partidas)? Também se é homem ou mulher, ou também há uma escala? Um homem pode ser feminino e uma mulher masculina?

27.4.06

Essências

Creio que tenho uma visão feminina do sexo. O acto sexual - vou-me escusar a definir as fronteiras do mesmo - é-me relativamente indiferente. Ou melhor, o aspecto físico da coisa é bom e é importante, mas é o erotismo - que tem de ser construído - que determina o prazer que poderei ou não ter. Não nego o poder do instinto animal, nem o acho positivo ou negativo, simplesmente é. Só que, no degrau acima da escala do desenvolvimento, a forma como percepcionamos os prazeres dos sentidos está muito dependente de outros factores. Aqui tomo como visão masculina do sexo uma apetência para o mesmo pelo mesmo, pelo prazer físico, e a visão feminina como a necessidade de contextualização do mesmo. Aqui as palavras advêm de uma generalização simplista, claro.

O papel do erotismo, que tem de ser construído, é para mim determinante. Implica, por exemplo, que eu nunca poderia trair sexualmente ninguém. Para o fazer, precisava antes de construir uma relação erótica com uma outra pessoa, mas para mim o erotismo alimenta-se da exclusividade, entre outras coisas. Esta é-lhe indispensável. O erotismo, enquanto construção mental, está sujeita às condicionantes, crenças e valores de cada pessoa. Por isso, pela minha educação, por aquilo em que acredito, o erotismo - ou o tipo de erotismo que poderá envolver sexo - tem de surgir num contexto de compromisso. E aí está porque nunca poderia trair sexualmente alguém. Nem tenho mérito nenhum nisso. Simplesmente, o factor biológico é condicionado - não reprimido! - pela educação.

Na realidade, para o bem e para o mal, em quase todas as áreas da minha vida sou assim - mastigo muito com a inteligência os sentimentos e instintos -, o que acaba por ser um pouco confuso. É mais fácil de entender uma pessoa que simplesmente sente e segue os seus instintos. Mas nisso, cada um é como cada qual e usa as armas que tem. Se não podemos contrariar a Biologia, pois cada um é como é, também não podemos deixar de ser fiéis a nós mesmos. Podemos e devemos reeducar-nos para o melhor, mas aquilo em que acreditamos deve ser respeitado por nós mesmos. É para isso, afinal, que serve a liberdade. A questão está em nos aceitarmos a nós mesmos por aquilo que somos e em construirmos a nossa verdade. E esse, é um desafio enorme.

Não menos difícil é perceber que os outros têm a sua própria verdade e condicionantes. Falando por mim, projecto-me não raras vezes nos outros e percebo-os apenas do meu ponto de vista. Mas é assim mesmo que somos. Apenas podemos percepcionar o outro partindo de nós mesmos, e se podemos fazer algum esforço de flexibilidade, temos uma necessidade imperiosa de partir de bases seguras. Estas poderão eventualmente ser revistas, é claro, mas é fundamental tê-las. É um processo de aproximações sucessivas. Claro que aqui, o mais fácil é ser demasiado rígido ou demasiado flexível. O equilíbrio é difícil de atingir.

Tudo isso me leva a pensar nos limites das amizades, e no erotismo - ou falta do mesmo - nelas. Como disse, para mim o erotismo alimenta-se entre outras coisas da exclusividade. Mas seria ingénuo pensar que deixa de existir tensão sexual, ou melhor dito, questões sexuais (no sentido lato), nas amizades. Parece-me é que não se constrói erotismo nas mesmas, ou talvez nalgumas se construa algum erotismo, mas de tipo diferente. E é este o mais perigoso, por poder ser dúbio.

Há espaço para o erotismo nas amizades? Que tipo de erotismo? Até onde, quais são os limites?

Não me parece que estas sejam perguntas de resposta fácil e taxativa. O respeito pela personalidade de cada qual é obviamente basilar, bem como uma negociação constante, e o ter a certeza de que ambos jogam o mesmo jogo e não há enganos. Que nisso, tanto para o sexo (para os que o "praticam" nessas circunstâncias) como numa troca de elogios, é fundamental perceber se as pessoas se estão a dar ou a usar.

Finalmente, tenho reparado que muitas pessoas usam - abusam? - do erotismo para construir amizades. Será uma forma de falta de auto-estima? Uma ferramenta, apenas, como qualquer outra?

25.4.06

Paixão, Amor e Sexo


Hoje li de uma assentada o livro Paixão, Amor e Sexo, de Francisco Allen Gomes.

Transcrevo uma descrição:

Um sério contributo para comprender melhor a sexualidade e para uma tomada de consciência da forma como cada um reage, sente e se emociona, nas suas interacções amorosas e sexuais.

Em Paixão, Amor e Sexo, Francisco Allen Gomes, médico psiquiatra, debruça-se sobre a química dos grandes vínculos afectivos, as origens e continuidade do amor, o erotismo, o desajustamento sexual e as causas do sofrimento emocional, mostrando que as desordens da paixão são bem mais perturbadoras do que muitas das disfunções sexuais. Francisco Allen Gomes aborda, de forma sintética mas rigorosa, as questões mais prementes da sexualidade humana, numa obra que reflecte a sua vasta experiência clínica e o conhecimento da investigação científica mais recente. Um sério contributo para comprender melhor a sexualidade e para uma tomada de consciência da forma como cada um reage, sente e se emociona, nas suas interacções amorosas e sexuais. Um livro indispensável.

No livro, pode-se ler uma análise lúcida, clara, profunda e serena (não poupo nos adjectivos, porque gostei muito) sobre o amor, no sentido lato, e o sexo. Recomendo.

19.4.06

Fantasmas


Outro - Por onde andas?

Eu - Por Portugal. E tu?

Outro - Também. Então e quando vamos tomar um café?

Eu - ermm *say what?* Na sexta?
*sobrancelhas erguidas*

Outro - Olha, é melhor não. Não me apetece reencontrar fantasmas do passado.

Eu - Ah, então está bem.
*sobrancelhas de volta à origem*

Até era capaz de filosofar sobre este diálogo, mas acho-o suficientemente surrealista para se explicar a si próprio. Se calhar foi o retorno do "piropo", que fui o primeiro a chamar-lhe fantasma do passado - what goes around comes around. Ou então não. Nada de novo debaixo do sol. Deixa dormir.

Respirar (Debaixo de Água)


Legenda: This is the story of Pedro*, who by having his head being pushed down so much learned how to breathe under water.

Às vezes sinto que passo a vida sustendo a respiração, à espera dos raros momentos em que posso respirar fundo. Como quem (?) vive debaixo de água, só vindo à tona para respirar. Mas, curiosamente, nem sempre o ar me sabe bem. Vá-se lá entender. É instintivo respirar, é necessário.

O mais fácil é fechar os olhos e esperar que a maré nos cuspa para a areia de uma qualquer praia. Isso acontece, mas é perigoso confiar nas correntes. Ora bolas. Hoje é assim mesmo. Sustenho a respiração e fecho os olhos. Que sera, sera.

* Chama-me Pedro.

15.4.06

As regras

Segue o coração e deixa-te ir parece-me muito bem, quando não se magoa ninguém.

Mas entre duas pessoas há sempre riscos. Alguém que se pode magoar. Se a regra é o medo, nunca se avança. Mas ir sem travões é arriscar, e não apenas o que é nosso.

É curioso como tantas vezes a cabeça não sabe o que sente o coração. Quais as regras? Os limites?

14.4.06

Ego booster

Há uma semana atrás, ainda na Holanda, entrei numa loja Subway, uma casa que vende sandes - curiosamente, não posso dizer esta palavra sem me lembrar da minha professora de português que se irritava toda com a mesma; dizia que ou era sandwich ou pão com qualquer coisa, agora sandes é que era uma tradução insuportável, um meio caminho enervante.

Pedi uma sandes (o raio da stôra era uma chata de primeira; merece) de frango. Com ou sem gripe, que sou homem de me arriscar nas tarefas quotidianas (vide quedas espalhafatosas de bicicleta) e assim evitar a necessidade da busca de adrenalina por desportos radicais. Assim como assim, quando não é o frango é a vaca, haja pachorra, que o raio dos bichos andam chatos...

A rapariga que me atendeu estava a falar espanhol - sim, castelhano - com a sua colega, mas não parava de olhar para mim. Confesso, era mútuo. Não só a moça era linda de morrer, mas fui estimulado pelo seu olhar. A certa altura ela diz para a amiga: "este muchacho é lindo". Não a corrigi: "es lindo, qual é lindo qual quê?", nem fiquei com a certeza de que se estava a referir a mim (pelo contexto, podia estar a ensinar a outra a falar em espanhol - sim, castelhano -, que de quando em vez trocavam rosnadelas incompreensíveis em neerlandês e não deu para captar tudo), mas quero pensar que sim. Um autêntico ego booster.

Despedi-me com um "adiós" e ela respondeu "buenas noches, amigo".

10.4.06

The plan



Porque dibujaste eso?

Por gusto.
Y ademas porque desde siempre me ha gustado la cancion esa* que me mandaste.


Pero cuales son los sentimientos de este dibujo?

Soledad.
Nadie esta con nadie.
Nadie camina con nadie.
Todos estan por su cuenta.
Como si fueran sonambulos.
Y caminan soñando despiertos.
Pero nadie se fija en nadie.
Solo el protagonista
que ve a un muchacho de espaldas.


Y que piensa ese muchacho, el protagonista?

Que piensas tu?
Me base mucho en ti.
Claro, quita el cigarro.
Eso es idealizacion mia.


* uma música do grupo dEUS.

7.4.06

Páscoa

Suspeito que terei pouco tempo para actividades bloguísticas durante as próximas duas semanas. Estarei a meio gás, entre família, amigos, estudos e outros compromissos.

Gostaria de aproveitar para agradecer a todos os que têm sido parte activa deste espaço, que sinto simultaneamente meu e nosso. É um luxo poder partilhar assim um blog.

Boas férias a todos. Boa Semana Santa. Abraços e beijos!

Grandes camelos



Legenda: Foto tirada de cima para baixo. A preto, vêm-se as sombras de camelos (manchas claras).

5.4.06

Resumo

É uma cena algo apagada da memória da minha infância. Chorava por não ter amigos. Lembro-me da tristeza, de me sentir inadequado, da solidão. Não me bastava a família, precisava de mais, de muito mais. Recordo-me de fantasiar que do outro lado do mundo haveria alguém que me compreenderia, que eu entenderia, capaz de fazer tudo por mim. Se calhar eu até teria amigos, do tipo que uma criança tem, daqueles colegas com os quais se joga computador e pelos quais se é convidado para festas de anos. São assim os amigos da infância? De qualquer modo, isso não me dava mais que um bom livro, se calhar pelo contrário. Transferi então o meu coração da realidade para a ficção. Teria de haver alguém, nem que fosse na China, que fosse amigo como ninguém. Desinvesti do mundo que me rodeava.

A vida passa tão a correr que é difícil percebê-la. Novas realidades sobrepõem-se às antigas, o que perturba a memória, o passado visto com os olhos do presente. Não acho que o passado seja a explicação de tudo no presente, acredito no livre arbítrio, mas é importante. Vem isto a propósito do Amor. Que procuramos, e porquê?

Há quem diga que a homossexualidade é, no seu todo ou em parte, a consequência de uma infância sem referências masculinas. Tipicamente, mãe dominante e pai ausente. Assim, segundo esta tese, os gays (no masculino, perdoem-me o machismo) procuram durante o resto da vida o equilíbrio que não tiveram em crianças. Mas então, e os heteros? Procuram o quê? Qual a causa do seu desequilíbrio, que os faz sentir incompletos? Não excluo que a falta de referências masculinas leve alguém a sentir-se completado por alguém do mesmo sexo. Mas aí, estamos em igualdades de circunstâncias: todos procuramos o que nos completa. Seja porque razão for. Não vejo em que é que isto justifica que se diga que os homossexuais estão a procurar compensar a infância mais ou menos do que qualquer outra pessoa. Na verdade, todos crescemos em famílias disfuncionais. O corolário deste tipo de raciocínio parece-me ser que a maturidade plena só se atinge quando estamos bem sozinhos. A solidão seria o apogeu da espécie. Não, obrigado, prefiro ficar um passo abaixo na escala da evolução.

Eu acredito que o Amor é o mesmo, apenas tem objectos diferentes. Cada qual tem a sua personalidade, que o impele a buscar determinadas características. Mas o Amor é o mesmo. Que procuramos, então? Alguém que nos complete? Que tenha o que falta em nós? Que nos entenda, seja parecido conosco? Sim, é tudo uma coisa tremendamente animal, hormonal, molecular, não vou por aí... Não me importa que átomos compõem as emoções, o facto é que as sentimos. Que loucura é esta que nos faz queremos abandonar-nos a nós mesmos para nos tornarmos um com outra pessoa? Porque é que isso é tão importante para nós?

Pergunto mais do que respondo. Ao fim ao cabo, os porquês não são tão importantes como a forma como lidamos com quem somos e o que sentimos. Amamos porque amamos. Essa é a realidade tangível. Mas persistem tantas perguntas. Uma que me faço frequentemente é se as pessoas que buscam somente - e tão só e nunca mais que - sexo estarão apenas desiludidas. Este sentimento, esta pulsão a amar, não é de todos? Custa-me tanto aceitar que alguém possa nunca ter acreditado no Amor. Será possível existir alguém que recusasse a hipótese de felicidade a dois? Não acredito. Se calhar, falha-lhes a fé. Porque foram magoadas, ou nunca acreditaram. E contentam-se com o medíocre.

Esta visão romântica do Amor tem que se lhe diga. Talvez realismo, um aceitar ser moderadamente feliz, fosse melhor. Mas é possível a alguém ser 99% feliz? Uma característica de ser humanos não é buscar o 1% que falta? Queremos sempre mais e mais. E isso, no Amor, só se pode procurar com alguém em profunda sintonia. Não basta ganhar por um, tem de ser de goleada.

Mas todos nos desiludimos. A vida é dura, fria, cruel, vezes demais. Investimos tudo, que nascemos para isso, e quase sempre falhamos. Aprendemos a dosear, a rodear o coração de camadas protectoras. É normal. Ninguém gosta de sofrer. Mas não é irreversível. Por mais seguras que sejam as fechaduras, haverá sempre alguém capaz de as abrir. Embora às vezes seja só se deixarmos. Não há crimes muito piores que ter medo da felicidade. Curiosamente, muitas vezes, os períodos de maior desilusão são os mais propícios a abrir o coração. Estamos à espera de tão pouco que nos deixamos surpreender.

O que acho, verdadeiramente, é que independentemente das razões, vale a pena querer amar. Porque nisso colocamos muito da nossa felicidade.

Finalmente, um tema paralelo, relativo às amizades. O que as separa do Amor? O sexo? A paixão? Os limites são físicos ou têm de ser também afectivos? Se há algo que sempre me custou, é limitar os afectos nas amizades. Não entendo porquê, não percebo essa necessidade.

Humor

Há alguns anos vi uns retalhes de um filme francês numa sessão de zapping. Neste, numa cena pós-ménage a trois - não, o filme não era pornográfico, era sim francês! - entre uma mulher e dois homens, um judeu e um muçulmano, esta diz, suspirando:

"Sinto-me como uma cidade santa".

Se calhar não acharão assim tanta piada, mas a mim doeu-me a barriga de tanto rir. Antes de mais, só mesmo os franceses para dar um nome charmoso a uma cena a três. Haverá poucos povos que respirem mais sensualidade, de uma forma tão natural. Mas o que me encantou foi o humor inteligente, a evocação de uma situação ridícula num momento constrangedor, a capacidade de rir de tudo e de si mesmos em simultâneo. É revelador.

Fez-me pensar nas consequências que tem para Portugal e para o mundo o abandono da língua francesa - e, inevitavelmente, da respectiva cultura - pela língua inglesa. Sou demasiado novo, demasiado inculto, para poder ter uma opinião fundada. Mas, do que conheço dos franceses, acho que têm um savoir vivre e uma sagesse d'esprit que nos interessaria conhecer. E, cada vez mais, é um mundo desconhecido. Aliás, dá-me a impressão que a França é culturalmente uma ilha, para o bem e para o mal. E cada vez menos os nossos barcos atracam lá. Choca-me ver como as referências culturais de origem francesa foram, em tantas pessoas, completamente esquecidas. Digo eu que não tenho (quase?) nenhumas.

Até tenho vergonha de publicar este texto, acho-o de um atrevimento incrível.

3.4.06

Onde está o comando?



Há perguntas a que já não apetece responder, de tanta vez que são perguntadas. Mas, volta a meia, voltamos a colocá-las.

Porque nos sentimos atraídos por este/a e não por aquele/a? Que critérios regem o coração? O que é que o órgão cardíaco (coitado, ele que não tem culpa nenhuma lá personifica o amor*) sabe que eu não sei? É injusto. E não é justo. Entretanto, os deuses divertem-se:

- Ó cupido, não era engraçadíssimo se aqueles dois se apaixonassem?

Não, cupido, não era. Vê lá se tens mais critério da próxima vez. Enfim, o Big Brother continua na moda lá pelo Olimpo. Nada de novo debaixo do Sol.

* em letra minúscula, pois falo no sentido lato.

Música



Para quem como eu dança compulsivamente ao ouvir ouvir música, desaconselha-se subir muito o volume dos auscultadores. Principalmente se tiverem colegas que entram no gabinete sem bater e ficam a olhar, enquanto vocês dançam na cadeira, completamente desinibidos. É que quando dão por ela, ele esteve a olhar o tempo todo, sim, mesmo as carantonhas e braços no ar, ele viu tudo e não pareceu ficar impressionado com a coreografia. Por isso, a menos que sejam como eu, e façam quase tudo para ver um sobrolho de um colega quase a tocar na sua linha do cabelo, baixem o volume ou batam só com o pé no chão. E façam ar sério, que isto é um local de trabalho.

Eu não tenho culpa de dançar enquanto penso em equações. I'm feeling alive.

Hoje, por cá, há música em dose dupla.

2.4.06

Felicidade à lupa



Legenda: Devaneios de uma longa tarde ainda não de Verão.

Explicação: Muito para fazer, pouca vontade. Muito para exprimir, pouca capacidade.

Termo de responsabilidade: Não sou artista, nunca fui, nem nunca o serei. Chamemos-lhe terapia colorida do paint. Não, não é arte. É um problema de expressão.

E tu?



És feliz?

1.4.06

Por onde morre o peixe

Num conjunto de entrevistas a Joseph Ratzinger, na altura Cardeal, pode-se ler:

- Também aqui [houve] uma "mutação cultural", ou, mais ainda, [uma] "mutação antropológica", sobretudo entre os jovens, "cujo sentido acústico foi corrompido e degenerado, a partir dos anos 60, pela música rock e outros produtos semelhantes".

E na página seguinte:

- Um teólogo que não ame a arte, a poesia, a música, a natureza, pode ser perigoso.