Muito resumidamente: acho as caricaturas da polémica insensíveis, mal desenhadas e de duvidoso sentido de humor. Não me ofendem, mas compreendo que ofendam terceiros. É o preço da liberdade de expressão.
Se outros estão ofendidos, ensinemo-los a jogar o nosso jogo. Alguém que processe o jornal. É lícito, democrático, civilizado e, nas mãos de políticos hábeis, poderia servir para aliviar tensões.
10 comentários:
Caro /me.
Também desconhecia a tua existência até hoje. Isto parece um labirinto em árvore, com infinitas ramificações. E pensar que, em Setembro passado, nem sabia o que era um blog ...
Bom, passei por aqui para ver - e tu escreves tão bem!
Quanto aos teus interiores, os teus problemas sentimentais, éticos, religiosos, ... - eu não sei se tu estás interessado em conversar sobre eles. Há pessoas que partem do princípio que se é um blog pessoal e o autor entra em tais matérias, o visitante se deve sentir livre para comentá-las. Eu não parto desse princípo. Estarás?
Mesmo que estejas, dá-me tempo, homem, que eu sou de absorção lenta, com raríssimas rajadas de inteligência, e - contrariamente ao que podes pensar - muito reservado.
Quanto ao conteúdo deste post, claro, inteiramente de acordo. Quase todos os cartoons são de mau gosto e alguns podem incitar ao ódio religioso. Mas o problema não é esse. O problema é:
i) Pretender que o GOVERNO dinamarquês apresente desculpas - como se numa sociedade decente o Governo tivesse algo a ver com o que um jornaleco satírico publica.
ii) Ter tentado impedir a publicação junto dos tribunais dinamarqueses invocando não o incitamento ao ódio religioso - mas a BLASFÉMIA, como se o código penal de uma sociedade decente devesse ocupar-se de blasfémias.
iii) Ter reagido com violência despropositada e FANATISMO.
iv) Todos os fundamentalistas, de todas as variantes religiosas, procurarem aproveitar a oportunidade para LIMITAREM a liberdade de expressão.
E por aí fora ...
Acho que os nossos irmãos muçulmanos - eu sou tranquilamente ateu, mas sou irmão de todos os homens - têm ainda muito trabalho de casa a fazer.
Nós já o fizémos, Renascimento, Reforma, Iluminismo, ... aprendemos a separar o que é de César do que é de Deus ( com muita, muita resistência da parte dos especialistas n'Este ).
Mas temos recaídas. E não devemos olhar de alto. Mas também não podemos cair no relativismo cultural e ter vergonha de defender as nossas conquistas, o nosso tipo de sociedade - que, claro, deve poder ser sempre impiedosamente criticado.
Com amizade,
Zé Ribeiro,
jribeirop@uevora.pt
Sem mais... E como se ensinam as regras de jogo a quem não quer jogar?
Dificil, mas é esse, sim, o caminho.
Abraço
Caro Zé, eu adoro receber comentários. Tenho tido a sorte de receber comentários interessantes e de gente francamente interessante, e sentir-me-ia honrado se também contribuísses. Se o desejares, fá-lo, que dá-me alegria.
De resto, concordo contigo. Devemos fazer valer os nossos valores. Mas acho também que os nossos políticos, para além de cobardes, estão a ser inábeis. Neste tipo de jogos, ninguém respeita os fracos... Mostrar falta de espinha vertebral é dar mais combustível para nos queimarem.
Um abraço grande!
Miguel, eu acho que os políticos têm tanto jeito a manipular para o lado que eles querem, também deveriam conseguir safar-se desta, numa acção concertada com jornais de referência... Ou estarei a ser demasiado ingénuo?
Abraço!
Sem querer introduzir mais conceitos ocos para a discussão, gostaria de referir apenas o conceito de maturidade intelectual e emocional, que se já é difícil de encontrar no mundo ocidental, mais raro o é entre as personalidades efusivas dos que vêm recorrentemente a público queimar bandeiras e atirar pedras. É essa maturidade que nos permite desprezar todas as manifestações de desapreço de outrém, que de outra forma criariam em nós uma vontade cega de retaliação. É o inspirar-fundo-e-seguir-em-frente ou, em fases mais evoluídas, o sorriso complacente (por vezes condescendente) de quem compreende a natureza da "ofensa" e toma a atitude racional de não a encarar com animosidade. Mas compreendo que isso seja difícil de atingir quando consideradas personalidades forjadas numa matriz religiosa, onde o dogmatismo (ou absolutismo) toldam o raciocínio e conduzem à libertação da contestação sobre uma forma belicosa. Mas esta maturidade não é natural; é fruto de um dado caminho de aprendizagem que não floresceu em todas as sociedades do mundo. Nem pode ser imposta a quem a não tem. Mas, estando nós convencidos do seu valor e propriedades benéficas para a construção daquilo que gostaríamos que fosse o futuro, não podemos ceder face aos avanços degenerados de uma religião que os entendidos apregoam de paz, por muito querida e fulcral que ela seja para os seus seguidores. O respeito pela liberdade de culto é fundamental, assim como o respeito pela liberdade de opinião. Podemos ser maduros de lado a lado e, uns pela via da oração, confidenciarem ao seu deus o ódio que sentem pelos cartoonistas que, por sua vez, demonstram o seu pela via da ilustração. O contrário disto já não é válido — não podemos apelar à maturidade (ou bom-senso) para prevenir estas situações, sem comprometer a liberdade futura. Que os diplomatas o façam, por calculismo e estratégia, mas que se permita também fazer observar o direito à livre expressão. E, a haver ofensa punida por lei, que a mesma seja denunciada por quem de direito e julgada pelos mecanismos próprios de um Estado democrata, onde as bandeiras estão nos estandartes e as pedras bem incrustadas na calçada.
Carísimo, agradezco mucho tu buen decir en castellano. Me agradó el comentario y la defensa que haces de On.
Mis raíces portuguesas y mi ser fronterizo me hacen muy fácil el portugués. Pero tengo mucha pena de no saber escribirlo. Cometería demasiados errorres.
Tienes un gran corazón.
Un fortísimo abrazo.
Por um lado, há o petróleo, claro; e os lucros do petróleo, os petrodólares, que estão depositados nos principais Bancos ocidentais, muitas vezes incorporados em acções, títulos de dívida pública, ...
Tudo isto é móvel: pode rapidamente abalar para as praças financeiras do Extremo Oriente - e os nossos políticos "cortam-se".
Mas julgo que há razões mais fundas.
O Ocidente é o grande protagonista da História Mundial nos últimos seis séculos: ciência, tecnologia, capitalismo, experiências socialistas, laicismo, Estado baseado no império da Lei, democracia, direitos humanos, música clássica, principais correntes literárias e artísticas - tudo, mas tudo, nasceu aqui.
A contribuição do Ocidente para a marcha da humanidade é impressionante e devemos ter no devido apreço essa contribuição.
( Não, eu não sou de direita; não, eu não sou saudoso dos impérios coloniais; não, eu não acho que o Ocidente seja essencialmente superior ao resto do mundo. Sou da esquerda radical; sou anti-imperialista; e julgo que os homens de todas as culturas têm as mesmas potencialidades. Mas, neste período histórico, foi aqui. )
Claro que esse florescimento da civilização do Ocidente lhe permitiu dominar o mundo - e explorá-lo. Da consciência ( intelectual ) crescente deste facto resultou uma má consciência ( moral ) que atanaza as almas pias.
E caiu na moda o relativismo cultural; o achar-se, por exemplo, que a mutilação genital feminina não é uma questão de direitos humanos, mas sim um rito que faz todo o sentido num certo quadro cultural - e, já se sabe, as tradições culturais equivalem-se ( como valorá-las sem adoptar uma tradição cultural particular como quadro de referência? ).
É um grande disparate, é. E dói-me ver posições tão reacionárias envoltas em palavreado de esquerda.
Este "remorso histórico" do Ocidente não leva a nada de positivo. Devemos assumir que as nossas conquistas civilizacionais permitiram o domínio sobre o mundo, com tudo o que isso trouxe de terrível para os dominados - mas que têm um valor universal.
A máquina a vapor nasceu no Ocidente e espalhou-se pelo mundo. O mesmo acontecerá com o laicismo, a democracia, os direitos humanos. É, apenas, mais difícil - mas acontecerá.
Zé Ribeiro.
Subscrevo o que Zé Ribeiro "diplomaticamente" quis dizer. A civilização muculmana encontra-se num estadio medieval. Os valores da liberdade e da tolerância são universais. É triste a subserviência táctica e totalmente dependente de interesses, que nada têm a ver com os valores que tanto nos custaram a conquistar. Mas infelizmente é a realidade actual.
António
Caminante, yo tampoco se castellano... A lo mejor, portuñol... Pero esta en los genes portugueses, nos encanta intentar hablar otras lenguas. Ademas si ya tienes que leer el blog en portugues, lo minimo que puedo hacer es contestarte en "mi" castellano. Y no resisto a preguntarte... Qvo vadis?
De resto, junto-me ao coro Mindful, Zé Ribeiro e António. Concordo com as vossas opiniões.
Por outro lado, acho os "cartoons" desnecessários, e ainda por cima sem piada. Defendo a liberdade de serem feitos, mas acho-os de um mau gosto e de uma falta de sensibilidade atroz.
Por fim, do que conheço dos meus amigos muçulmanos, a "sua civilização" nunca nos irá respeitar enquanto os nossos políticos mostrarem uma tamanha falta de espinha... Numa cultura como a deles, na minha opinião, os fracos não sei respeitados.
Desculpa lá, aquele em que Maomé está às portas do "Céu" e manda os terroristas de volta por já não haver virgens tem a sua piada... ;) hehehe
Eu dizia alguma coisa intelectual, perspicaz e interessante, mas acho que já foi tudo dito. Ontem fui ver o Munich (aconselho a toda a gente) e não há volta a dar-lhe: se a democracia lá vai chegar, resta esperar que se despache porque já não há paciência para as susceptibilidades dos ofendidos.
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