Em Bruxelas fui ver um filme, com uma amiga. À saída da sala de cinema, chamou-me a atenção uma senhora de idade, que nos cumprimentou com um sorriso. Meti logo conversa, e fiquei encantado com a senhora. Já tinha mais de 80 e ali estava ela, no cinema, com a mesma naturalidade que os putos que brincavam em correrias por detrás dela.
Nunca vi disso em Portugal. Tenho pena, mas no nosso país parece haver coisas reservadas para velhos, e outras para jovens. Há em muitos aspectos um divórcio geracional. Os velhos portugueses estão gastos, caducos, abandonados, e os mais novos há muito que ficaram órfãos das suas referências culturais. Aliás, no nosso país (talvez também nos outros, não sei), tudo parece funcionar numa guerrilha de gerações. Não se dá espaço aos mais novos, e estes, uma vez que o conquistam, põem os mais velhos na prateleira. Há excepções, mas regra geral, a harmonia inter-geracional é pouca.
Mais assustador que isso, é o verdadeiro abismo entre a geração que agora tem de 21 anos para baixo e a que tem de 21 para cima. Claro, apontar uma idade é pouco mais que subjectivo; o que me parece ser um facto é que os miúdos de 18 anos de hoje não têm nada a ver com os miúdos da mesma idade há cinco anos atrás. Podem-no confirmar os professores, habituados que estavam a ser respeitados pela sua função, reduzidos agora à impotência de "aturar" uma geração que não controlam nem tão pouco compreendem. Não sei se terá a ver com os efeitos do 25 de Abril nos filhos das gerações que o viveram. Mas o fosso lá está. E não vejo ninguém a contribuir para nada que não seja aumentá-lo. Nem tão pouco vejo alguém reconhecê-lo.
8 comentários:
Sabes que o que escreveste poderia ter sido escrito por Sócrates, aquele senhor da antiga Grécia que filosofava? De facto, ele tinha um refrão, que agora não recordo, para exprimir esse desagrado face às novas gerações, que, segundo ele, não respeitavam os mais velhos, a cultura, as tradições, etc. Isto para dizer que o tema da "generation gap" é cíclico, recorrente -- geracional!
Já verás como os velhotes nascidos em 1999 terão críticas a fazer aos seus filhos e netos.
Enoch
Ah, mas passou-te um bocadinho ao lado o que eu queria dizer, Enoch. Eu não estou a criticar os miúdos mais novos. Cada geração é como é, e se os miúdos de hoje em dia não sabem estar sentados na sala de aula, isso não é propriamente culpa deles. Como em todas as gerações, nesta mais nova, há virtudes e defeitos mais ou menos generalizados, embora cada pessoa seja única.
O que me preocupa não é a nova geração, nem a velha. É sim a forma que as duas têm de se relacionar... E a nossa (da geração mais velha) cegueira perante todo este problema. Isso reflete-se muito na educação: é clara a incapacidade dos respectivos responsáveis do ministério da educação de compreenderem o que está em jogo ou o que é necessário. Mas o problema é mais amplo. As duas gerações a que me refiro - e incluo-me a mim mesmo, de 25 anos, na mesma geração dos que têm 50 - estão de costas voltadas. Falam linguagens diferentes. Não se entendem.
Eu sei que o blog se chama lugares comuns, mas não caí nesse que já vem desde o tempo do Sócrates. :)
Alguém me disse que surge uma nova geração, em termos de mentalidade, de 25 em 25 anos. No norte da Europa, isso parece ficar mais ou menos mitigado. Um "jovem" pode falar com um "velho" de igual para igual, na mesma linguagem. E em Portugal? É assim?
Pois, Olga, temo que vamos pagar bem caro esse alheamento. Gostei do teu comentário.
Quanto à situação do aborto, sem dúvida que a questão económica não é tudo. Mas penso que quando existem impedimentos económicos que forçam um aborto, o Estado e a sociedade em geral têm uma culpa atroz. De resto, penso que toda a gente concorda que é preciso ter limites. Não se vai permitir o aborto aos 6 meses... Nem se vai obrigar uma grávida a manter uma gravidez que coloque a sua vida em perigo. Os limites é que não são fáceis de definir.
Sinceramente, não me parece que se possa generalizar dessa forma o tal alheamento de valores! E não me parece que se possa atribuir toda a culpa aos alunos.
Tal como em todas as coisas, ou quase, não me parece que haja um culpado! Os conteúdos programáticos muitas vezes não estão bem organizados e são demasiados para o tempo que há, levando os professores a dar tudo a correr. Desta forma, estes acabam por dar as aulas em modo monólogo e, como é óbvio, os alunos de agora habituados como estão (e não por um alheamento dos pais como educadores, mas apenas porque o mundo muda e surgem novas mentalidades) a uma maior interacção acabam por se desconcentrar facilmente...
Quanto ao fosso geracional, concordo com a Olga, depende do filme que se for ver, onde se for ver, etc... Mas já me aconteceu, por exemplo, quando fui ao El Corte Ingles ver o Vera Drake, estar eu com um amigo e, para além de nós, só mais uma rapariga, enquanto o resto das pessoas eram todas já para os 60... E apesar de na altura me ter sentido um bocado desenquadrado, de facto, só acho muito bem!
E já agora, permitam-me dizer, sem querer ofender ninguém, que, sem saber idade do autor deste post, me parece conversa ou de velho, ou de gajo convencido que é grande... Também me posso enganar, mas é o que parece, não digo mais nada!
Bom, antes de mais eu não culpei os alunos de nada. Pelo contrário. Digo que os professores não compreendem os alunos. Mas também não acho que seja culpa deles. E digo também que ninguém está a contribuir para nada que não seja aumentar o fosso.
Ver nisto uma crítica quer a professores quer a alunos não é justo. Há uma crítica implítica ao sistema de educação, isso sim.
O autor deste post tem 25 anos. Quando muito, sou um gajo convencido que é grande. :p Eu penso que não; ou não me sei exprimir muito bem ou não fui bem compreendido. Eu não culpei nenhuma geração, mas sim todas ao mesmo tempo, por não se entenderem entre si. E, mais em concreto, ataquei o ministério da educação, que anda claramente a dormir.
Quanto ao fosso geracional, eu acho que está lá e que é nítido, embora poucos tenham consciência do mesmo. Mas não é algo claro; há pessoas da minha idade que pertencem a uma geração, outras a outra. A fronteira não é clara. Disse-me alguém que se gera uma nova geração, em média, a cada 25 anos. Não sei se é verdade ou não. Mas penso que convém estar atentos.
Puto fixe (se me permites), acho que não sou eu que estou a estereotipar, a dizer "ai, os putos hoje já não se fazem como antigamente", de um ponto de vista prejorativo. Estou a dizer que são diferentes, mas sem juizo de valores. E a dizer que os mais velhos não sabem lidar com essa diferença. Estou a generalizar, mas não estou a dizer mal de ninguém. Acho que tu é que me estás a colar a um estereotipo de pessoa que critica por criticar.
Puto, passaste-te um bocadinho e devias ler com mais atenção o que diz o /me!
/me, percebi-te perfeitamente e também não quis imputar culpa às novas gerações; apenas fazer notar que este fosso geracional existe, de facto, como tu bem dizes, e que desde sempre tem sido assim. Cada geração tem a sensação de que aquela que a procede é "rasca", para usar uma expressão tão familiar à minha geração -- e tua, que apenas nos separam 2 anos! :-)
Enoch
Enoch, mas sabes o que realmente me preocupa? É que acho que estamos a cavar mais fundo, o fosso...
Só falta aqui o meu comentário em jeito de ponte elevadiça, recorrendo à inexactidão humana e a ciências exactas...
Perguntem aos Xutos & Pontapés se eles se apercebem do fosso geracional. Claro que não!. Os "putos" serão para sempre seres humanos com uma extrema curiosidade (por desconhecimento própio) e extrema capacidade de aprendizagem (por motivos biológicos?!) (isto é, terão sempre bichos carpinteiros no rabo), enquanto os "velhos" serão sempre seres com menos curiosidade e já fraca capacidade de aprendizagem (isto é, serão sempre burros que nunca hão-de aprender novas línguas). Como é óbvio, quando nascemos somos pequeninas máquinas de aprender, minúsculas, e em cada instante do tempo somos um resultado de uma integração (no sentido matemático) temporal e pesada desde -inf até esse instante de todas as experiências vividas (experiências recentes têm menos valor, mas a relação n é linear é tipo peso(t)=a/(b.t-T0)...). Isto significa que ao ser um resultado um ser humano sozinho é relativamente estúpido (na sua essência), pois só se constrói através daquilo que o envolve (isto é, cada um de nós é uma merdinha de um corpo e uma merdinha de uma mentezinha tb minusculas). No entanto, o resultado é grande em comunhão com os outros e tem a capacidade de grupalmente extrapolar conhecimento, e isso é a evolução (por isso, pela comunhão de todos nós, da internet, da comunicação, etc, é que existe o "sistema", a "sociedade", "etc", o conjunto de muitas pequeninas coisas é uma coisa grande, para não dizer que o conjunto de muitas merdinhas é uma grande merda). Se escolhessemos uma função para representar o nº de extrapolações com o tempo, escolheriamos a exponencial e(x)(por observação). Agora surje outro aspecto, a nossa sensibilidade à mudança de estados. Nós não temos a percepção exacta de que a Terra se move, mas sabemos que se move. Não importa se o movimento é contínuo ou não, isto é, se o espaço-tempo é discreto ou não, o que importa é q não temos sensibilidade para determinar o passo. Assim, "assumo" que a exponencial é continua e que posso derivá-la mas amostro-a em tempo discreto de alguns anos (n). A derivada nesses instantes representa o "crescimento da evolução". Podemos então explicar que o "fosso geracional" é a diferença e(t_n)-e(t_n-1) e que os putos com 18 anos diferem dos de 25 anos há 7 anos atrás por e’(t_m)-e’(t_m-7).
Agora as questões que se levantam, entre muitas outras que por cansaço preferem agora estar sentadas, são: se nós somos uma criação de bactérias numa caixa de petri a ser observadas ao microscópio para colheita futura por um tipo chamado Deus, e a tentar explicar coisas incríveis ou a fazer montes de outras distintas (ahahah), Ou será que nesta bola de Ténis, vários comandantes estelares, Deus, Alá, Buda, Pinto da Costa,etc colocaram, para regozijo próprio, uma cambada de “soldados” das suas estirpes sem instrução nem objectivos à pancada uns com os outros para ver quem ganhava, em jeito de luta de galos (ou tipo, Salve-se quem puder (este salve-se quem puder n é uma caricatura da Salvação, que sirva de ante-aviso, n vá eu sofrer represálias de alguém com minhocas na cabeça e lombrigas na barriga) ), enfim... puff há muitas mais, mas isto já é tema de blog tipo “Teorias da conspiração: um significado da vida”... ahahah
Vocês não percebem nada disto. Vou mas é pa debaixo da ponte com uma manta de retalhos e um pacote de chocapic! Bah!
Lema: Às vezes o que parece, de facto, é..
Enviar um comentário