Fui de novo desafiado. Um novo inquérito. Tinha-me prometido a mim mesmo não responder a mais nenhum, mas não posso dizer que não ao
Zé. Ele não merece uma desfeita dessas, bem pelo contrário. De qualquer modo, um aviso para o futuro: se mais alguém me faz uma
sacanice destas, haverá
choro e ranger de dentes. Vou-me servir das perguntas do inquérito, mas o guião sou eu que o escrevo. Acedo a revelar um pouco sobre o autor deste blog, mas prefiro deixar o grosso à imaginação dos leitores. Confio na generosidade da mesma. Aqui vai, então.
Nasci numa das mais históricas cidades portuguesas. Encanta-me, a cidade, mas ao mesmo tempo diria que encarna o excesso de identidade português. Como que ficou para sempre conservado nas suas velhas ruas. Nisso, a arquitectura reflecte completamente a realidade, ou vice-versa, nunca souber perceber.
Conheci Portugal pelos olhos de uma criança, nas frequentes viagens que fazia. Cedo comecei a viajar para o estrangeiro, ignorando o conselho da minha professora primária, adepta incondicional do ir para fora cá dentro, até porque "sem conhecer todas as maravilhas de Portugal, para que vale a pena ir para o estrangeiro"? Não fazia grande sentido o ralhete, vindo da mesma pessoa que gabava o infante D. Pedro da "Ínclita Geração" por ser tão viajado. Mas nem a minha inteligência infantil captava a contradição, nem eu era assim tão viajado. Tenho saudades dessa professora que encontrava em Cavaco Silva o substituto do
seu saudoso Salazar, que batia nos alunos pelo mais mínimo erro e que foi fundamental na minha educação.
Embora nunca tenha vivido na Espanha, em certo sentido é como se tivesse. De resto, morei um período breve na Itália, e encontro-me neste momento na Holanda. Já passei férias por toda a europa ocidental, mas nunca fui além disso. São as vantagens da livre circulação e as desvantagens da falta de tempo e disponibilidade. De qualquer forma, nisso estou como a minha professora da primária: ainda não apreciei o suficiente Paris ou Barcelona. Embora também nunca o consiga fazer tão plenamente até ter visto Tokio ou Lima (não sei porque me lembrei destas cidades... porque não Chihuahua?
- para quem não sabe, fica no México).
Adoro a liberdade da Espanha, os gelados e as mulheres de Itália (infelizmente, as interessantes são quase todas feias) e as bicicletas da Holanda. Mas sou português e não consigo nem quero escapar a isso. A minha pátria é mais que a minha língua, é toda uma cultura e um punhado rectangular de terra. Gosto do estrangeiro, mas sei onde pertenço.
Quanto a empregos, trabalho na área das ciências exactas.
Gosto muito de ler e de ir ao cinema. Por culpa do Gerard Dépardieu, corri a comprar o livro O Conde de Monte Cristo, que continua a ser um dos meus favoritos, a par d'O Perfume, de Patrick Süskind. Não que alguma vez tenha relido estes livros; tal como os filmes, não gosto muito de repetir (salvo raras e honrosas excepções). De resto, leio bastante, mas com pouco mais critério que os pequenos textos na contra-capa. Sempre que tento cultivar-me com autores recomendados, acabo desiludido. Foi assim com Dostojevský, que me dava pesadelos. Melhor sorte teve Kafka, que encontrei numa prateleira no quarto do meu irmão, ao lado do Amor de Perdição que devorei para meu grande escândalo. Acho que os livros se lêm porque sim e não porque o autor ganhou um Nobel. Saramago está adiado até aprender a usar pontuação. A menos que me intrigue vê-lo numa prateleira inesperada.
Sou um esquisito para comer. Não imaginam o que a minha mãe me chateia. Não sabem a inveja que me faz quando alguém diz "se não queres, passas fome". O luxo... Bom, a bem dizer, até já tenho saudades das piores comidas da minha mãe. Das melhores, nem se fala. Ninguém lhes chega aos calcanhares.
Finalmente, se pudesse escolher, agora queria estar na minha caminha, em Portugal. Nunca encontrei um sítio onde dormisse melhor.
Quanto ao resto das perguntas, fica sem resposta. Acho que já não foi muito mau. Quanto às 4 pessoas a quem tinha o direito de passar este inquérito, por esta safam-se. Aproveitem, que não dura para sempre!