30.1.06

Orelhas ao léu

Enquanto em Portugal neva e faz frio, aqui passou-se de um défice de temperatura na ordem dos 7 graus (negativos) para um superavit de 2. Em termos práticos, isso significa que posso andar com as orelhas destapadas sem correr o risco de sofrer de gangrena.

O pior é esta tosse que não me deixa. Parece querer-me sair a garganta, de tal modo que evito tossir até ao limite do meu auto-controlo, o que resulta numa sensação quasi-orgásmica quando finalmente cedo à "expiração súbita, convulsa e mais ou menos frequente, pela qual o ar, atravessando os brônquios e a traqueia, produz ruído especial*".



Não fosse isso, tudo iria bem pelos reinos de Sua Majestade a Rainha Beatriz. O trabalho, muito, parece encaminhar-se no rumo certo e descobri onde comprar uma sandes de ovo e atum que me permite evitar as terríveis cantinas holandesas.

Não tem nada a ver, mas disse-me um amigo que não gosta de Coimbra. Se não tivesse ouvido o mesmo já de tantos outros portugueses (os estrangeiros, curiosamente, adoram), até me preocuparia. Mas é assim, a Lusa Atenas, austera como a descreveu Clara Ferreira Alves, se a memória não me trocou a palavra dela por outra equivalente. Coimbra é uma mãe que conquista pelo respeito e dignidade, não pela proximidade carinhosa. Os séculos ficaram presos nas ruelas da cidade, que mantém um regime de maternidade há muito perdido no tempo, mas que curiosamente funciona para os que nela vivem. Sinais de uma vertigem de um excesso de identidade, que gera pertença mas também prende em demasia.




Foi Eduardo Lourenço quem pôs o dedo na ferida? Portugal não tem falta de identidade, tem é excesso de identidade. E isso só pode resultar em amor-ódio, numa relação pouco saudável. Não é um acaso serem mais felizes os que mantêm com o País uma relação mais superficial: a certa altura, todos temos de conseguir cortar com os excessos das mães galinhas, mesmo quando uma destas é a nossa Pátria. Não é amar menos, é saber amar.

E pronto, volto ao trabalho e à tosse. Um bom dia a todos vós.

* À falta de melhor forma para terminar a frase, fui à procura de um sinónimo para "tosse" aqui. Não encontrei melhor que isto.

3 comentários:

dcg disse...

Das vezes que estive em Coimbra gostei bastante das cantinas.

Mr Fights disse...

embora ache coimbra uma cidade um pouco dispersa gosto do espirito da urbe

Anónimo disse...

Coimbra tem um especial encanto na hora da despedida tra lá lá...

Tosse? não há melhor que um rebuçado do dr Bayar. Mas tosses há várias:
Inflamatória, Mecânica, Química e térmica.
é só escolher.

Mas na falta do dito rebuçado, que tal um antí-histaminico: "Cetirizina" vulgo zyrtec ou uma "desloratadina" Aerius ( não é uma companhia aéria.....)

António