29.1.06

Casamento III

Quem me conhece sabe que tenho horror a colocar o nome seja onde for. Valorizo-o demais para o emprestar a outros ou a uma qualquer causa, e sou paranóico bem para além do qb.

Porém, conforme já escrevi, penso: a muitos níveis (nem tanto ao nível da lei) os homossexuais de hoje são os pretos e os judeus de ontem. É uma comparação exagerada, dirão muitos. Não acho. Os judeus da idade média eram tolerados, como agora são os homossexuais. A homofobia é uma realidade muito concreta - conheço, directa ou por ouvir contar, de histórias de não poucos jovens expulsos de casa dos pais por terem namorado/a do sexo "errado". Negar a existência da mesma, ou atribuí-la ao exibicionismo chocante de terceiros é injusto.

Contra todas as minhas paranóias, vou assinar a petição que referi no texto anterior. Quero estar do lado certo da história, e quero morrer sabendo que não me remeti ao comodismo enquanto outros sofriam.

Não gosto de "orgulho gay", manifestações histéricas, exaltação de um qualquer "estilo de vida", o que quer que isso queira dizer. Não alinho nessas cowboyadas. Mas nesta questão tão concreta, tão séria e tão bem colocada, não tenho o direito a assobiar para o lado. É a cidadania de que tantos falam.

É apenas uma assinatura, dirão. Não, não é. A história ensina-nos que os períodos tolerantes para com a homossexualidade têm sido intercalados por perseguições. É cíclico. Direitos adquiridos é coisa que não há. Não se trata de paranóia (só um bocadinho), mas de consciência da História. Porém, talvez eu possa ajudar para que desta seja de vez. Um contributo diminuto, é certo, mas aquele a que me obriga a consciência.

4 comentários:

Vítor Mácula disse...

Caro si-próprio/a.

Lembro-me de um documentário, ou melhor, de uma montagem "caseira" de um casal de homossexuais masculinos, em que um acompanhava, após dezenas de anos de vida em comum, o seu amado até à morte, em casa, com todo o carinho, ternura, entrega e abdicação de si (ora, amor!) que tal exige. E, após a morte, vieram os senhores da lei e família ressabiada, e expulsaram-no da casa e da "herança" em todos os sentidos do termo.
Não sei os nomes deles, vi-o por mera providência na televisão há já uma dezena de anos.
É uma coisa triste e revoltante.

Um abraço.

Vítor Mácula disse...

Ora bolas!

Fui agora ao seu profile, e pronto, é si-próprio.

Mas já que o post algo tem que ver, indirectamente, com géneros sexuais e sua representação socio-cultural, até tem... a sua graça ;)

Outro abraço.

/me disse...

Caro Vítor, a tua eloquência deixa-me sem mais espaço de resposta que um "tens toda a razão".

Quanto ao perfil, acho que neste mundo de televisão e internet, é preciso estimular a imaginação alheia. ;)

/b/ disse...

Escrevi há uns tempos (e cito por razões de economia de tempo): «Devo dizer, em primeiro lugar, que as manif's não são para o meu feitio. [...] No entanto, defendo a sua existência (não me limitando a ser - se quisermos - tolerante...) porque tenho uma concepção plural e liberal do espaço público e recuso-me a impor a minha concepção do mundo aos outros. O que é importante é que todos contribuam, à sua maneira, para a mudança: uns em associações, outros na luta jurídica, outros ainda (maxime figuras públicas) com o seu exemplo pessoal. A luta não pode é ficar espartilhada numa área político-partidária ou numa única concepção filosófica - mas isso, é claro, só depende daqueles que não se revêem nas formas de intervenção convencionais ou tradicionais.» (in http://omesmosol.blogspot.com/2005/06/eterno-retorno.html)

Parabéns pelo blog! Um abraço,

Dapster