5.1.06

Cartas antigas - Perdoarás?

Quem diria que eu tinha isto no meu computador, nuns bits empoeirados e muito esquecidos? Vê agora a luz do dia esta carta nunca enviada (do tempo em que ainda escrevia cartas):

Perdoarás

Perdoar-me-ás se souberes que te amo? Se te disser as vezes que chorei por dentro ao esconder o amor que queria mostrar-se, se te contar o silêncio que de livre vontade por ti suportei, se te mostrar a angústia que me tolhe a alma, se quebrar o voto de silêncio a que me votei, perdoar-me-ás?

Não sabia que te amava ao sofrer, não sabia que sofria por te amar. Em ti busquei conforto, amizade, contigo procurei as respostas para o meu sofrimento, mas não imaginei que a resposta fosses tu.

Perdoas-me agora os silêncios e afastamentos, as demasiadas vezes que te telefonei, o demasiado tempo que não liguei, a inconstância de quem sabia que lhe faltava algo e desesperava de encontrar?

Não me perdoei eu quando descobri. Primeiro suspeitei, como quem suspeita a chuva ao ver as nuvens negras, como quem suspeita a lua ao cair do sol. Mas não quis crer. Não podia ser, não era essa a razão do meu sofrer. Perdi-me em demandas ridículas, em quimeras inalcançáveis, em sonhos irrealizáveis. Tive contigo arrufos estúpidos de namorados, quando apenas éramos amigos, o meu coração era teu mas a razão estava tão distante...

Perdoar-me-ás pelas vezes que fui ridículo, inconveniente, prepotente? Pelas vezes que te julguei minha pertença e me afastei envergonhado de mim próprio, sem admitir o que sentia? Por quando te amando me afastei para que os meus sentimentos se perdessem na distância?

Perdoas-me por me ter apercebido? Perdoas-me por me ter afastado? Perdoas-me por me ter re-aproximado? Perdoas-me pelos milhões de vezes que repeti tudo isso? Perdoas-me a constante inconstância com que te exigia o irrazoável? Perdoas-me por pedir desculpa? Perdoas-me por te amar?

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