6.1.06

Eu e eu

Tinha razão quem me acusou de egocentrismo.

Às vezes, quando penso nas pessoas que já fui, tento descobrir quando deixei de as ser. Reconstituo e reconstruo a minha história, baralhando as memórias de tal modo que nelas deixo de poder confiar.

1- Fui uma criança hiper-sensível, feito de lágrimas e riso, pura volatilidade emocional, muito susceptível. Era eu próprio, sem necessidade de me relacionar comigo mesmo, porque eu era eu e nada mais. Tão descomplicado.
2- Fui um miúdo fechado, magoado, descrente nos outros, defensivo, solitário, responsável. Eu era eu, mas era-no no meu próprio mundo. Era-o para mim, mas não para os outros.
3- Fui um rapaz surpreendido, descongelado, traumatizado, bem sucedido, perfeito. Tinha o meu mundo, mas também vivia já no outro. Eram dois em mim, um para mim, outro para os outros. Desenquadrados, desajustados, mas capazes de convivência.
4- Fui um jovem deprimido e reprimido, magoado por um retorno ao mundo real que não soube suportar, num regresso às defesas do passado que já não funcionavam. Acabei por tentar matar o eu que era para mim, e manter só o eu para os outros. Foi então que aprendi a odiar-me, e a odiar-me por me odiar. Tudo em mim odiava todo o resto de mim.

São realidades tão distantes, todas elas separadas por muros altos. Agora sou quem sou, e tento e vou conseguindo amar-me.

Já fui tanta gente, e sou alguém tão radicalmente diferente de quem fui... Vivem-se vidas, neste segundo efémero que é a vida. Gostava de saber em que sentido ainda sou quem fui e precisar quando deixei de o ser. Mas a memória e a história constroem-se com interpretações. A verdade só Deus a tem.
Reconstituo e reconstruo o meu passado, confundindo as memórias. É que estudar o passado permite compreender o presente, para assim melhor construir o futuro.

Que coisas tão estranhas escrevi. Esvaziou-se nestas palavras a minha vontade de escrever, sem que tenha conseguido dizer o que queria. A vantagem de ter um blog é que nada disso importa.

1 comentário:

secret him disse...

amo-te, pequenino. Tal como és e como foste. Disseste que se te tivesse conhecido antes te teria odiado. Vejo agora que estavas enganado. Gostava de te ter conhecido ainda antes, de ser o teu ombro amigo e o teu confidente. Gostava de ter sido a ponte entre o teu "eu" para ti e o teu ´eu´para os outros. Estou aqui para ti, amando-te com todas as forças e querendo a cada arfar de ar dizer que te amo.

Beijo grande, meu grande amor.