17.12.05

Aqui encerrado

Quero arrancar a carne, de tão frustrante a minha voz, incapazes os meus dedos, descordenados os movimentos. Mordo-me, retorcendo-me nesta prisão. Tento várias línguas, insuficiente o meu vocabulário, falsa a entoação, insubstancial o brilho dos olhos. Mortifica-me o pensamento.

Anseia a alma sem se poder exprimir. Pintar, escrever, esculpir, cantar, nada serve. Os punhos cerrados com força, o corpo que acompanha a música, os dedos no teclado, aquilo que digo, tudo é pouco.

Arranco pelos, desespero. Olho em volta, mordo lábios, respiro fundo. Uma estalada, um abraço, um orgasmo. Comer chocolate, sentir calor, ler um livro, nada serve. Só a morte liberta deste mundo. Nele nada mata a sede.

O meu reino por um escape para a minha criatividade.

2 comentários:

Anónimo disse...

Alegro-me de não te ter conhecido nesta época... Não pararia de me preocupar...

Fizeste (tens feito) um uso do blog excelente! Seja qual for o motor que te motiva, aqui revelas-te incrivelmente activo, brilhante e interessante.
Eu tinha um escape no canto, mas estou a viver uma fase absurdamente negativa. Ainda esta semana penso dizer ao Pep Vila (o director do Orfeó Català) que abandono o coro. Depois só me resta morrer... snif snif snif...
:)
Não é tão dramático.
Podia começar a estudar violoncelo...

(Enoch's making use of these little and forgotten spaces to reveal bits of himself...)

/me disse...

Já não me lembrava de ter escrito isto! De facto, tenho sorte. O blog tem-me servido como o escape que precisava.

O meu melhor amigo toca violino. Confesso que acho uma coisa pavorosa, quando ele começa a tocar! Prefiro o som de um piano. :)