1.5.06

Imagens


Na primária, braços abertos, a andar à roda sem sair do mesmo sítio, a senhora magra do sininho "ó meninos, que podem cair", alegria estonteante e centrifugada.

No Calvin & Hobbes, sentindo-se assim zonzo, o tigre, titubeante, pede "podiam parar o mundo? Queria-me apear".

Uma estrela encaixada entre dois cabos de electricidade, à qual tiro uma fotografia piscando os olhos. Prometi-me não mais me esquecer. Era um fim de tarde e o céu estava carmim. E eu que nem sei o que é carmim, mas era o que estava.

O momento em que mandei uma mensagem de carinho ao meu eu do futuro, agora presente. Um dia haveria de lembrar-me, e hoje é um desses dias. Passei tanto tempo a odiar esse miúdo fraco que era, quando ele só queria ser amado por mim próprio. Ainda vejo a mão, que me estendi e que agora posso agarrar, num sequência de eus de pequenino para agora. A cada momento como o menino da primária, de braços abertos, mas agora sem estar zonzo. O passado numa mão, e a outra estendida para o futuro.

Não há dúvida que é crucial a relação que temos conosco mesmo. Sabermo-nos amar, e perdoar. Aceitar. Ser razoáveis. Já me odiei com todas as minhas forças. Mas, como em todas as relações, há os dois lados. Se me odiei, igualmente me senti odiado. Assim me magoei, e me odiei mais por ser tão fraco, e mais magoado fiquei de me odiar. Estranha dicotomia dentro de mim mesmo. Mas o tempo cura todas as coisas, se fizermos por isso e nos deixarem. Aqui, foram cruciais as pontes que deixei para o futuro. Agora dão-me paz.

9 comentários:

/b/ disse...

Gostei muito deste teu post.

Mr Fights disse...

E vais viver feliz contigo próprio para sempre desde que saibas manter essas pontes. :)

Só tenho uma dúvida... Quem é a senhora magra do sininho? Memórias de Peter Pan?

Jinhos

Anónimo disse...

/me,

Vim testar a sua caixa de comentários, porque tentei deixar-lhe resposta No Adro, mas nem à quarta vez entrou.Vou enviar um e-mail ao P. Manuel a informá-lo disso em primeiro lugar, está bem?

Malu

/me disse...

Mr Fights, era uma funcionária do colégio. :)

Malu, obrigado. :)
Tenho pena, porque gostava sinceramente de ler o teu comentário (olha, trata-me por tu, por favor!). Um abraço!

Mikael disse...

Realmente o importante é aprender com o que se passou e criar estruturas para suportar aquilo em que nos criamos.
Eu realmente gosto destas contradições que vivemos, especialmente quando se tem a capacidade de aprender alguma coisa com elas. Sinto que é o teu caso.

Fica bem, abraço!

Mr Fights disse...

colégio estranho... nem uma campainha automática...

Anónimo disse...

não cura não- pode amenizar

Anónimo disse...

O que segue parece parvoíce; mas, para mim, não é.

Não tenho qualquer problema quanto à existência empírica de um "eu", digamos o inglês "I", "me"; que sou obrigado, na práctica, a usar para me relacionar com os outros e as coisas.

A coisa já deixa de ser clara, para mim, quando se trata de outro "eu", digamos o inglês "myself"; um complexo de recordações, conhecimentos, emoções suficientemente estável no tempo para se poder falar dele.

Às vezes, julgo que este segundo "eu" é uma armadilha que as fraquezas inultrapassáveis da nossa mente nos montam. E que está na origem dos nossos egoísmos e das nossas dificuldades. Mas a imersão deste "eu" na totalidade pode apagar perigosamente a noção de responsabilidade individual.

Não consigo ser mais claro.

ZR.

teresa.com disse...

goza bem essa paz...